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Corpo e Cultura

Por:   •  28/2/2018  •  1.256 Palavras (6 Páginas)  •  282 Visualizações

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Seria impossível enumerar todas as penalidades sofridas por quem foge dos estereótipos de

gênero biológico e sexualidade, e estas são aplicadas desde muito cedo, seja com o bullying,

agressões físicas e, até mesmo, abusos sexuais. Dentre as várias oportunidades de repreender esses

indivíduos, as pioneiras são as aulas de educação física.

A disciplina que preza a disciplinarização dos corpos é marcada pelo predomínio de uma

tradição biológica/tecnicista arraigada em sua prática. Isso é percebido na divisão das atividades

escolares entre meninos e meninas, o que fortalece os padrões e estereótipos de gêneros. 3

Essa

divisão machista, que se caracteriza pela inserção de meninos em esportes mais agressivos em razão

da “brutalidade” masculina e de meninas em danças e esportes mais leves por sua “delicadeza”, é

um dos motivos que levam a discriminação de “meninos delicados” e “meninas brutas”.

A Educação Física, em geral, fundamenta seu projeto de separação dos

sexos no sentido do corpo como algo biológico e, ao mesmo tempo, na

construção do corpo feminino mais fraco – “por natureza” – que o

masculino, reforçando o poder dos homens sobre as mulheres na escala

2 “Fronteiras simbólicas: Gênero, corpo e sexualidade” (HEILBORN) (2002).

3 Corpo e Gênero nas Práticas Escolares de Educação Física (LIMA; DINIS) (2007).

social.

(SOUSA, 1994)

“Existe um poder histórico enraizado na nossa sociedade que caracteriza o corpo feminino

como uma versão inferior e invertida do masculino” (LOURO, 1999). Para a autora Helena

Altmann (2009), seria um engano pensar que o corpo é apenas regido por leis fisiológicas, o corpo e

as relações de gênero são socialmente produzidos, também dentro dos currículos escolares. O corpo

feminino, portanto, não pode ser visto como biologicamente mais frágil, pois sua fragilidade, na

verdade, é construída socialmente, se não, não haveria corpos masculinos apresentando-se frágeis e

delicados. Aliás, esse é um ponto alto de discursão na relação entre corpo e gênero, chamado de

transtorno de gênero, enfrentado, principalmente, pelos vulgos “travestis”.

As travestis seriam homens que gostam de se relacionar sexual e

afetivamente com outros homens, mas que para tanto procuram inserir em

seus corpos símbolos do que socialmente é tido como próprio do feminino.

Porém, não desejam extirpar sua genitália, com a qual, geralmente,

convivem sem grandes conflitos. Mas, não basta se vestir de mulher para ser

travesti. Para Claudinha Delavatti, travesti já falecida, “travesti que não

toma hormônio não é travesti, pensa que é carnaval e sai fantasiado de

mulher” (citado por Lopes 1995:225).

(PELÚCIO, 2004)

“O sexo (enquanto atributo anatômico) da travesti é masculino (...)” (PELÚCIO, 2004), mas

qual é o seu gênero? “Travestis são TRANSgênero, perpassam o criticado binarismo macho/fêmea,

masculino/feminino” (PELÚCIO, 2004).

Para finalizar, segundo Pelúcio, dentro dos padrões normativos que regulam

comportamentos públicos e privados, existe uma clara definição do que seria próprio da mulher e o

que pertenceria ao universo masculino:

MASCULINO FEMININO

Ativo Passivo

Racional Passional

O que manda O que obedece

Pênis Peito

Músculo Carne

Pêlos Sem pêlos4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

4 Travestis, a (re)construção do feminino (PELÚCIO) (2004)

Apresentei nesse artigo uma visível oposição que há na sociedade entre os gêneros, que,

segundo aponta a antropologia, desde há muitos anos produz o feminino inferior ao masculino,

característica notável até mesmo na construção do corpo, julgando que a fragilidade da mulher é de

natureza fisiológica, o que é mentira, visto que indivíduos do sexo masculino que se identificam

com o gênero feminino, também carregam consigo essa fragilidade - que resulta na discriminação

desses sujeitos desde muito jovens. Além disso, a virilidade e a característica de dominação que é

dada ao sexo masculino se apresentam também na sexualidade, o que não poderia ser diferente, já

que é comum nossa personalidade ser expressa através do sexo.

Diante desses aspectos que constrói parte da população como incapaz, frágil, passional, com

importância apenas pelo valor sexual e de reprodução, é fundamental que se desconstrua os padrões

normativos de gênero/sexualidade/corpo. O fim da discriminação da mulher e de LGBT (Lésbicas,

Gays, Bissexuais e Transexuais) poderiam ser resultados dessa mudança.

Por fim, ressalto a importância que a Educação Física detém nesse processo

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