Cem anos de Paz

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A manutenção permanente desse sistema se dava através do estabelecimento de relações diretas entre as instituições e a política e economia, com as chamadas haute finance (sistema de bancocracia). Essa “alta finança” se tratava do capital transnacional que circulava entre os países através de diversas transações comerciais e financeiras e proporcionava o aumento de força política de famílias e corporações que tinham o controle de toda e qualquer atividade lucrativa dentro dos países (essas corporações não eram submetidas a governo algum, possuíam lealdade ao crédito internacional e gerenciavam a paz geral com a expansão de bancos e bolsas de valores). Pode-se relacionar o colonialismo do século XIX como o resultado da união entre expansão industrial/financeira com os bancos e expansão bélica/militar das potências. O grande exemplo utilizado no texto para ilustrar essa dinâmica é a família Rotchilds – sócios do governo britânico que garantia a expansão dos interesses dessas famílias em troca de proteção do exército colonial –, que foram os maiores empreendedores da época, diretamente envolvidos na construção de ferrovias na Ásia e na África e na exploração das reservas de petróleo no continente americano.

Foi essa nova organização da vida econômica que forneceu o cenário para a Paz dos Cem Anos, estando uma repousada sobre a outra. Entretanto, essa realidade começa a se dissolver no final da década de 80 com a formação da aliança entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália e, a contra-aliança com a Grã-Bretanha, França e Rússia, aonde o equilíbrio chega ao fim, juntamente com a diminuição do poder e influência das haute finance. Assim, Polanyi consegue mostrar como o modelo liberal do século XIX se constrói sobre bases artificiais, critica a institucionalização do liberalismo como estruturador do capital estrangeiro e expõe como um conceito tão bem definido como a “paz” pode se revestir de diversas interpretações atreladas a interesses específicos e egoístas. Pior, o liberalismo, cuja defesa da liberdade se deve à ilusão de que a sociedade seja moldada apenas pelo desejo e a vontade dos indivíduos, criou impasses que originaram o fascismo e as atrocidades ocorridas durante a 2ª Guerra Mundial – mesmo numa sociedade avançada como a República de Weimar. Portanto, faz-se necessário criar a consciência de que a liberdade de que podemos usufruir é a liberdade possível, cujo limite se dá com o respeito aos demais membros da sociedade.