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Resenha A Paz das Senzalas

Por:   •  24/5/2018  •  5.977 Palavras (24 Páginas)  •  484 Visualizações

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Na justificativa para tal delimitação, os historiadores afirmam que a área agro fluminense e o período proposto eram propícios à empreitada, pois a economia escravista local era favorável à integração ao mercado internacional, com constante reprodução física através do tráfico atlântico de africanos.

Como contexto da pesquisa, os autores demonstram que as plantations configuravam a vitalidade da agro exportação, sendo a capitania do Rio de Janeiro a maior detentora sob a concentração de mão-de-obra escrava do Sudeste brasileiro. A maior parte dos engenhos se localizavam na região Norte fluminense, principalmente em Campos dos Goitacazes onde o comércio açucareiro crescia desde meados do século XVIII.

Os autores fazem críticas ao cálculo econômico empresarial escravista*, pois segundo eles, adotar um cálculo econômico “moderno” é imprudente pois são traduções de sociedades inseridas em distintas realidades, e transformar um fenômeno de natureza política (a resistência escrava) em uma variável econômica, retrata a despolitização da política*.

Adentrando nos arranjos matrimoniais, assim como Robert Slenes[5] em seu livro Na senzala, uma flor os autores Manolo Florentino e José Roberto Góes encontraram indícios de preferência nas uniões matrimoniais endogâmicas, onde indivíduos por seletividade preferem se relacionar com pessoas de um mesmo grupo social, e sob esse ponto, é possível perceber a recorrente dessemelhança ao “outro”, onde os arranjos matrimoniais são preferencias por iguais simultaneamente exprimindo a recusa do “outro” priorizando o sentido do “nós”.

Como explicação para tal fenômeno de “distanciamento” ao outro, Florentino e Góes recorrem à premissa de que o cativeiro não era propício aos sentimentos mais tolerantes, ou na que viabilizassem facilmente a identificação de um “nós”. Sendo o cativeiro um agrupamento forçado e árduo, de especificidades e dessemelhanças. Entretanto, afirmam que reduzi-los à tal concepção significaria a ideia que sob esse conjunto de diferenças não pairava uma forma maior e capaz de constituir uma unicidade, organizada e pacificada.

Para os autores, a contínua busca por cooperação entre os cativos, por certo fora fundamental à eles próprios, sendo condenados a produzir-se um nós, em uma contínua procura pela instituição da paz. Segundo os autores, os cativos fizeram isso através da formação e recriação de laços diversos, inclusive os de parentesco, sob uma meta-nós para o estabelecimento de uma comunidade cativa.

Desta maneira, Florentino e Góes defendem que os laços de parentesco e o significado da família escrava eram elementos chaves no processo pelo qual se produzia o escravo, pois para eles não era o bastante aprisionar um homem para torna-lo ativo, sendo necessário torna-lo escravo. Adentrando à explicação, os autores denominam o fenômeno como processo de produção social onde o mesmo se iniciava no mercado, passando pela introdução do estrangeiro, sendo concluído no próprio escravo, tornando-o africano e brasileiro, pertencente à uma comunidade, à um nós cativo, e somente após esse processo que o senhor de escravos tinha possibilidades de obter renda política. Sendo assim o cativeiro era fundamentalmente dependente do parentesco cativo.

O segundo capítulo, intitulado Dos suportes deste estudo, os autores expõe algumas informações metodológicas e teóricas sobre a pesquisa, sendo algumas delas já supracitadas ao longo do presente texto.

Já sobre o aumento na demanda de escravos, os autores explicam que a mesma não nutria-se somente da expansão econômica (vertiginoso aumento na produção do café), como também pelo impacto da pressão inglesa na segunda metade da década de 1820 pela abolição do tráfico atlântico. Desta forma, Florentino e Góes dividem o período 1790-1830 em três intervalos, o primeiro intervalo que vai de 1790-1808 onde os embarques chegavam a uma média de 9.224 africanos/ano. O segundo, a chegada da família real e a simultânea abertura dos portos coloniais, elevando assim, os desembarques. Entre 1809 e 1811 o tráfico passou de 13.171 para 23.230 o número de africanos aqui aportados. Já entre meados de 1818 à 1825 a estabilidade fora mantida, exceto em 1823, devido à crise da Independência. Já o terceiro subperíodo se iniciou em 1826 quando o contingente do tráfico passou a ser tortuoso processo de reconhecimento da Independência Brasileira sob a proteção da Grã-Bretanha, onde a entrada dos negros foram quase que insignificantes comparadas à períodos anteriores, voltando a crescer entretanto, em meados da segunda metade do decénio de 1830.

Sob esse contexto, os historiadores defendem a suposição de que as relações e arranjos de famílias escravas davam-se juntamente com as demandas do tráfico negreiro. Os números estudados ao longo da pesquisa, permitiram estabelecer três intervalos para uma análise da relação entre família e tráfico. Os autores aproveitam para ressaltar que os inventários utilizados foram dos anos terminados em zero, um, dois, cinco, seis e sete, sendo possível assim entender esta relação em momentos de estabilidade dos desembarques, onde o período de 1790-1807 os autores estabeleceram como fase B do mercado, já a fase A, vai da 1810-1825 sendo ela um momento de aceleração do tráfico, já a crise na oferta africana vai de 1826-1830. Sob essa argumentação, os autores buscaram entender a relação dos cativos frente ao parentesco e da variação dessas conjunturas.

Mais à frente em sua pesquisa, Florentino e Góes partem à indagação de qual seria o sentido sociológico do tráfico negreiro em uma sociedade escravista, e explicitando assim, que o tráfico servia não para abastecer de escravos a sociedade, e sim dar suporte a uma elite, completamente dependente, que através dele nutria seu lugar/classe social, buscando distanciar-se dos demais homens livres.

Sobre o conflito no interior da comunidade escrava, seja eles entre as raças, cor, distanciamento geracional ou cultural, os historiadores afirmam que na utilização dos inventários post-mortem para o estudo de relações familiares entre escravos sempre haverá um patamar mínimo de idealização, nunca uma expressão exata do passado. Para exemplificar tais conflitos, os autores disponibilizam um relato de um processo judicial onde a filha, parda teria pedido ao marido para amarrar a negra, sua mãe. Nesse caso, se era invenção do preto Rosário, não se sabe, mas tal relato remete às relações conflituosas entre pretos e pardos, tal como é conflituosa entre africanos e crioulos[6].

No terceiro capítulo, Da quantidade de

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