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Fichamento Livro O Príncipe de Maquiavel

Por:   •  28/3/2018  •  11.585 Palavras (47 Páginas)  •  623 Visualizações

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De modo que o príncipe tornou inimigos todos aqueles que ele ofendera ao ocupar esse principado sem poder manter a amizade daqueles que ali o puseram, por não ter conseguido satisfazer o poder que almejavam, e por não poder usar contra os mesmos os métodos cujo reconhecimento o obriga a se abster; porque, qualquer que seja o poder que um príncipe tenha por meio de seu exército, ele sempre precisará do favor dos provinciais para entrar numa província.

É bem verdade que, ao reconquistar as regiões rebeldes, é mais difícil perdê-las novamente, porque o senhor, prevalecendo-se da derrota sofrida com a rebelião, torna-se mais rigoroso pelos meios que impõe para assegurar sua conquista, seja punindo os culpados, seja buscando os suspeitos, seja reforçando as partes deficientes de suas fortificações.

Portanto, digo que esses Estados que são conquistados e agregados a um Estado antigo são ou não da mesma província e da mesma língua, ou não são. Sendo do mesmo meio, é muito fácil mantê-los, principalmente por não estarem acostumados a viver livres, e para possuí-los com segurança basta extinguir a linhagem do príncipe que dominava, porque, em outros aspectos, ao manter as velhas condições e não havendo deformidade de costumes, os homens continuam vivendo tranquilamente.

E quem os conquistar e os quiser conservar, precisará adotar duas medidas: a primeira, a de extinguir a linhagem do antigo príncipe; a outra, a de não alterar suas leis ou seus impostos, de modo que em breve tempo tudo deverá se tornar um só corpo com o antigo principado. Porém, ao conquistar territórios com idiomas, costumes e leis diferentes, é preciso ter sorte e habilidade para conservá-los. Um dos melhores e mais eficientes métodos seria o conquistador neles fixar residência. Isso tornaria mais segura e mais durável a sua posse, como fez o Turco com a Grécia, que, certamente, e apesar de todas as medidas implementadas, não a teria conseguido conservar se não houvesse nela fixado residência. Sua presença faz que o príncipe perceba as desordens assim que começam a nascer, tendo condições de reprimi-las imediatamente. Se estiver longe, virá a conhecê-las quando já cresceram demais, sem ter condições de remediá-las. Além disso, sua presença impede que seus oficiais saqueiem a província, o que permite aos súditos os recursos de se queixar ao príncipe, fazendo que seja amado caso queiram ser bons cidadãos, ou, caso contrário, que seja temido.

Em todos os casos, o forasteiro que quisesse assaltar esse Estado teria mais dificuldade para conquistá-lo tendo o príncipe presente no território. Outro melhor meio é o de estabelecer colônias em um ou dois lugares que sejam postos avançados ou, então, manter no Estado um forte e numeroso exército. Como o gasto com as colônias não é grande, o príncipe pode, com pouca despesa, controlá-las e mantê-las; ele apenas prejudica aquele dos quais tira os campos para doá-los aos novos habitantes que constituirão uma mínima parte desse Estado. Os que foram assim prejudicados, ficando dispersos e pobres, não poderão causar qualquer dano, enquanto os que não foram privados de suas terras permanecem à parte, inofensivos, temendo atrair a ira do conquistador.

Concluo acreditando que essas colônias de poucos gastos são mais fiéis e ofendem menos, e os ofendidos nada podem fazer havendo perdido tudo que tinham, e acabam se dispersando, como já foi mencionado, sem condições de criar dificuldades. Donde se chega à conclusão de que os homens devem ser aconchegados ou eliminados, pois podem se vingar de pequenas ofensas, mas nao das graves, porque a ofensa causada a um homem deve ser feita de maneira a não temer a sua vingança. Porém, se em vez de estabelecer colônias determina-se manter um forte contingente de tropas, a despesa correspondente cresce sem limite e todas as rendas do Estado são consumidas para a sua manutenção.

E assim, a aquisição torna-se uma verdadeira perda, o que ofende muito mais, pois prejudica todo o Estado com a mudança de alojamento de seu exército, causando um transtorno para todos e transformando os habitantes em inimigos, podendo causar danos ao príncipe, permanecendo abatidos, em suas próprias casas. De qualquer forma, essa garantia é tão inútil quanto aquela das colônias é útil.Quem estiver à frente de uma província diferente, conforme já foi mencionado, deve ainda tornar-se chefe e defensor dos vizinhos mais fracos e procurar enfraquecer os seus poderosos, e cuidar para que, porventura, nenhum forasteiro mais poderoso tente ali penetrar.

E, assim que um forasteiro poderoso entra numa província, todos os menos poderosos juntam-se a ele movidos pela inveja de quem lhes seja superior; tanto é assim que, com respeito a esses menos poderosos, o intruso não terá dificuldade em angariá-los à sua causa, pois logo todos acabam formando um só bloco com o Estado que ele veio a conquistar. Ele so tem de cuidar para que não adquiram muito poder e autoridade, podendo facilmente abater os que ainda são poderosos com suas próprias forças e com o apoio dos menos poderosos, a fim de tornar-se o senhor absoluto da província. Quem não souber administrar vem essa parte logo perderá o que estiver adquirindo. E, enquanto puder conservá -la, ele ainda terá grandes dificuldades e transtornos.

Nessas circunstâncias, os romanos fizeram o que todo príncipe inteligente deve fazer, ou seja, pensar não apenas nos problemas presentes, mas também naqueles que poderiam sobrevir, a fim de que os pudessem remediar por todos os meios que a prudência lhes indicasse. De fato, ao prevê-los com tempo suficiente, é possível facilmente remediá-los; mas, quando se espera que surjam, não há mais como remediar, pois o mal se tornou incurável.

Portanto, prevendo com antecipação os eventuais inconvenientes, os romanos sempre conseguiam remediá-los sem dar-lhes tempo de crescer, a fim de evitar uma guerra. Eles sabiam que ela era inevitável e que, se fosse adiada, isso beneficiaria somente o inimigo.

O desejo de conquistar é uma coisa muito natural e comum, e sempre que têm a possibilidade, os homens que o fazem são mais louvados que censurados. Mas quando não tem essa possibilidade e querem fazê-lo apesar de tudo, é quando erram e são censurados.

Que a desordem jamais deveria ser ignorada; pois a guerra não é evitada, é apenas adiada, contra o seu próprio interesse.

E a experiência demonstrou que a grandeza da Igreja e da Espanha, na Itália, foi causada pela França, e, como consequência, a ruina desta ultima foi obra das duas, da Igreja e da Espanha. Donde se extrai uma regra geral que nunca ou raramente

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