A Sociedade na Visão de Freud
Por: Lidieisa • 24/1/2018 • 4.116 Palavras (17 Páginas) • 422 Visualizações
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Uma das possibilidades de avanço refere-se à adoção de uma determinada perspectiva interdisciplinar, no ensino do conhecimento científico, o que já vem sendo desenvolvido a mais de uma década pelo sistema educacional Brasileiro, como exemplo tem-se a DCN (Diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio) de 1999, que já prévia que,
interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha sobre as linguagens necessárias para a constituição do conhecimento, comunicação e negociação de significados e registro sistemático de resultados (BRASIL, p133).
Os autores Pierson, Freitas, Villani e Franzoni (2008) citam como pontos fulcrais da interdisciplinaridade a promessa de interligações disciplinares que podem possibilitar um conhecimento contextualizado capaz favorecer a resolução de problemas complexos e/ou concretos e/ou contextuais sociais; e a negociação entre as diferentes áreas disciplinares para o desenvolvimento coletivo do conhecimento da realidade. Ainda é exposto que cobrança da necessidade de uma metodologia interdisciplinar que privilegie as interconexões disciplinares está cada vez mais presente nas universidades.
Obviamente a divisão das disciplinas merecem respeito, é claro que não fala-se de extremos como uma mistura homogênea de uma disciplina com a outra e sim nos pontos tangenciais das matérias. O que não pode ser feito é ignorar o risco causado pela tendência da “hiper-especialização do pesquisador e coisificação do seu objeto de estudo (PIERSON et al., 2008, p.3,4).
De fato, a hiperespecialização[8] impede tanto a percepção do global (que ela fragmenta em parcelas), quanto do essencial (que ela dissolve). Impede até mesmo tratar corretamente os problemas particulares, que só podem ser propostos e pensados em seu contexto. Entretanto, os problemas essenciais nunca são parcelados e os problemas globais são cada vez mais essenciais. Enquanto a cultura geral comportava a incitação à busca da contextualização de qualquer informação ou idéia, a cultura científica e técnica disciplinar parcela, desune e compartimenta os saberes, tornando cada vez mais difícil sua contextualização Ao mesmo tempo, o recorte das disciplinas impossibilita apreender “o que está tecido junto”, ou seja, segundo o sentido original do termo, o complexo (MORIN, 2000, p.41).
Importante fazer constar que existe mais de uma corrente acerca da acepção da palavra interdisciplinaridade, mas como norte filia-se aos autores que fazem menção da interdisciplinaridade enquanto instrumento, cuja finalidade reside em estabelecer relações de modo que o conhecimento auxilie na resolução de problemas da vida cotidiana, utilizando o saber (funcional e utilizável) para responder aos anseios da sociedade e problemas sociais contemporâneos (Lenoir, 1988).
Como bem lembra Fortes (2009) o aspecto disciplinar do ensino formal acaba por dificultar a aprendizagem do estudante, não estimulando o desenvolvimento das capacidades cognitivas do ser em resolver problemas e estabelecer interconexões entre conceitos e fatos (ligação do mundo abstrato com o mundo material), enfim, a aprendizagem se trasmuda em simples memorização de signos, quando na verdade deveria ser pensado/refletido/ analisado com as circunstâncias e o mundo que norteiam o estudante (matéria de estudo + circunstâncias + o mundo).
Tendo em vista essas reflexões a interdisciplinaridade se realiza como uma forma de ver e sentir o mundo, de estar no mundo, de perceber, de entender as múltiplas implicações que se realizam, ao analisar um acontecimento, um aspecto da natureza, isto é, os fenômenos na dimensão social, natural ou cultural. É ser capaz de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações, em sua complexidade (FORTES et al., 2009, p.9).
Tendo em vistas estes apontamentos de direcionamento trabalha-se com a obra “O mal-estar na civilização” de Sigmund Freud, que aborda a análise de aspectos que ocasionam dificuldades da satisfação da civilização (sofrimento ocasionado pela repressão de instintos estipulados pela cultura).
3 Principais aspectos que causam o mal-estar na civilização
Neste capítulo adentra-se nas análises do Pai da psicanálise afim de elucidar as causas do sofrimento humano, dentre eles o ocasionado pela sociedade/cultura/civilização, que para Freud constitui o sofrimento que “nós experimentamos talvez mais dolorosamente que qualquer outro” (FREUD, 2010, p.21).
No ensaio de Freud intitulado de “O Mal-Estar na Civilização” é apresentadas as causas psicanalíticas que causam um mal estar no indivíduo, enquanto ser integrante de uma civilização (comunidade/sociedade)[9].
Freud utiliza-se de uma análise pormenorizada do homem na sociedade para chegar ao apontamento das causas do seu sofrimento. Utilizando o princípio do prazer[10] e as causas da felicidade e sofrimento vai se desenvolvendo uma visão psicanalítica da sociedade e com ela vão sendo apresentadas desmitificações (como o que se refere a posição dos indivíduos uns com os outros e a religião) causas e efeitos.
Freud começa seu ensaio motivado por uma perquirição de um amigo que o sugestiona acerca da existência de um sentimento oceânico[11], que serve como base de estruturação de todas as religiões. Para solver tal questão Freud desmitifica tal sentimento demonstrando que o mesmo é fruto da inquietude do homem em abstrair um significado para a vida humana[12].
A questão da finalidade da vida humana já foi posta inúmeras vezes. Jamais encontrou resposta satisfatória, e talvez não a tenha sequer. Muitos dos que a puseram acrescentaram: se a vida não tiver finalidade, perderá qualquer valor [...]Então passaremos à questão menos ambiciosa: o que revela a própria condutados homens acerca da finalidade e intenção de sua vida, o que pedem eles da vida e desejam nela alcançar? É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes (FREUD, 2010 p.20).
Mas como é imposta a finalidade da vida? Freud responde: “é simplesmente o programa do princípio do prazer que estabelece a finalidade da vida. Este princípio domina o desempenho do aparelho psíquico desde o começo (2010, p.21)”[13]. A finalidade da vida defendida por Freud apresenta uma visão baseada na psicanálise e não na religião para fundamentar que o Princípio do prazer (que traz consigo os aspectos principais de felicidade
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