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Os Fundamentos do Cuidar Humano

Por:   •  12/5/2018  •  7.006 Palavras (29 Páginas)  •  329 Visualizações

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A prática de cuidados era identificada com a mulher pois esta era associada ao mistério, não só pela sua fisiologia mas também pelo fenómeno da maternidade. Todas as suas características levaram este género a produzir um conjunto de cuidados essenciais à vida. As mulheres eram rotuladas como tendo o poder de “dar a vida e anunciar a morte” e muitas vezes eram quem realizavam os funerais porque se acreditavam que eram mais ligadas ao ciclo de vida.

Desde os mais remotos tempos da existência humana, as mulheres eram desde curandeiras a parteiras e adquiriam os conhecimentos através do empirismo e do contacto que tinham umas com as outras ao longo de gerações. Desde cedo, estas práticas tiveram um grande impacto na história do ser humano.

O corpo da mulher é extremamente complexo pois demonstra tanto um lado “agressivo” quando está menstruada, como um lado frágil quando está grávida. Este requer mais cuidados e atenção quando se encontram em estados como a puberdade, gestação, parto e nascimento. É por exemplo através do seu corpo que a mulher presta cuidados ao recém-nascido, alimentando-o.

Os sentidos eram considerados de extrema relevância no que diz respeito ao cuidar. O olfato era associado à deteção de determinadas doenças ou mesmo situar determinados acontecimentos como, por exemplo, o parto. O tato é uma fonte de estimulação de prazer ou desprazer, podemos constatá-lo quando uma criança procura afeto e nutrição nos seios da mãe. Era também através do tato que se elaboravam terapêuticas, como massagens.

No que diz respeito à prática de cuidados em torno da alimentação, desde os primórdios da existência humana que os homens iam à caça e as mulheres eram encarregues de tratar dos vegetais. Foi a partir desta ligação das mulheres às plantas e legumes que estas descobriram os seus fins terapêuticos. Foram então sendo criados “caldos, infusões, destilados, lixívias, elixires, etc…” e através de todo este processo empírico foram criados “sedativos, tónicos, excitantes, tóxicos, etc…”. As plantas tornaram-se então a base de cuidados e constituíram os primeiros medicamentos tornando-se possível curar e prevenir determinadas doenças e aos poucos toda a técnica ia sendo aperfeiçoada. Todo este conhecimento era considerado pela igreja uma ameaça e daí surgiu a “caça às bruxas” durante quatro séculos.

A prestação de cuidados vinda das mulheres não era valorizada economicamente pois os cuidados prestados por uma mulher eram considerados inatos e algo que estivesse intrínseco à sua existência.

Quanto ao valor social dessas práticas de cuidados, as mulheres que não tivessem uma idade mais madura e uma certa experiência de vida ou mesmo se não tivessem filhos não eram tidas como dignas de cuidar. No entanto, com o aparecimento das religiosas estas ideias foram ultrapassadas.

Identificação da prática de cuidados com a mulher

Quando se tenta saber mais sobre o passado da enfermagem somos automaticamente conotados a mulheres cristãs, pois ajudavam as pessoas doentes baseando-se na caridade que lhes era incutida na religião. Nos países com tradições cristãs estas são o ideal da primeira prática de cuidados. A título exemplificativo, Fabíola, uma mulher que se converteu ao cristianismo, é considerada a mãe da prática de cuidados pelas mulheres.

Nem sempre a vida das mulheres foi facilitada no que diz respeito à religião, pois estas eram consideradas um pecado e serviam apenas como meio de procriação. Estas eram proibidas de estudar medicina e aquelas que fossem dotadas de mais conhecimentos nomeadamente sobre o poder benéfico das plantas eram alvo de repressão pela igreja. O género feminino era perseguido e rebaixado, chegando ao ponto de as mulheres terem que se esconder para darem à luz, terem vergonha de serem possuidoras de sentimentos e desvalorizarem a sua existência.

Identificação da prática dos cuidados com a mulher consagrada

É então que surge um a nova mulher: a mulher consagrada. Surgiu a hipótese de algumas mulheres dedicarem a sua vida a Deus, fugindo ao tradicional casamento e dedicando a sua vida aos pobres e infelizes.

A exortação de Cipriano de Cartago é o exemplo da importante viragem da orientação religiosa marcada pela virgindade consagrada. Acreditava-se que as mulheres que eram consideradas “virgens consagradas” tinham que reunir determinadas caraterísticas para honrarem o estatuto que possuíam, chegando mesmo a terem que desprezar-se a si próprias para serem elevadas aos olhos do criador. Acreditava-se que estas também deveriam estar sempre ocupadas, pois o descanso e repouso eram associados ao pecado. A sua comunicação era restrita de maneira a que não tivessem pensamentos menos dignos que corrompessem a sua virgindade e compromisso. Eram enclausuradas e futuramente responsáveis pela educação das raparigas e prestação de cuidados de saúde.

Os fenómenos culturais e bélicos da idade média deram origem a instituições hospitalares. As mulheres consagradas desempenhavam funções de prestação de cuidados como, por exemplo, as Agustinas (século VIII).

Francisco de Sales (bispo de Genebra do século XVII que fundou a Ordem da Visitação de Santa Maria, “Visitandines", em Annecy em 6 de junho de 1610) tenta retirar a clausura do conceito religioso de forma a que os cuidados ao domicílio fossem uma realidade de todos. Porém, este homem perde a sua "luta" e as Visitandines foram presas menos de uma década depois. Alguns anos mais tarde, Vicente de Paulo (sacerdote católico francês) faz com que as suas filhas enveredem por uma vida religiosa diferenciada da monástica, criando as "Filhas da caridade" que acabam por se tornar um modelo de vida religiosa secularizada. É a partir delas que se formam outras ordens como as Filles de la Croix de Puy (1672), as Irmãs de S. Paul de Chartres (1695) e as Filles de la Sagesse (1715) que se vão dedicar ao meio rural. Com isto, a doutrina cristã foi se entranhando neste meio através destas mulheres religiosas. As "Filhas da caridade" tornaram-se as grandes prestadoras de cuidados até surgirem em 1950 as primeiras enfermeiras que se iriam continuar a focar nos pobres e menos favorecidos.

Após tudo isto, até ao fim do século XX, os cuidados fornecidos por "mulheres de virtude" vão desaparecendo e a referência de bons cuidados cai sobre a mulher consagrada. Mais tarde e por fim, com o surgimento dos medicamentos e promoção de leis contra o clero começa-se a desassociar a mulher consagrada

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