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O desenvolvimento econômico no pensamento de Karl Marx

Por:   •  28/4/2018  •  4.916 Palavras (20 Páginas)  •  461 Visualizações

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Esse nível de abordagem de Marx sobre o desenvolvimento econômico é denominado meta-histórico pois trata-se do desenvolvimento do gênero humano ao longo da história, considerado como criador de formas e instrumentos de produção (homo faber) e, por decorrência, criador das suas próprias formas de economia, de sociedade e de cultura.[4] Esse tipo de abordagem refere-se assim, em última instância, ao desenvolvimento humano e pode ser encontrado nos manuscritos de Paris (MARX, 2004), nos textos filosóficos produzidos com Engels (A sagrada família e A ideologia alemã)[5] e no célebre Prefácio de Para à crítica da economia política (Marx, 1982). Irma Adelman (1972, cap. 5) formulou um modelo matemático de desenvolvimento que considera essa dimensão meta-histórica, ou seja, o desenvolvimento das forças produtivas do gênero humano.

Entretanto, as principais e mais extensas contribuições de Marx residem na consideração do desenvolvimento econômico capitalista, considerando então como se desenvolvem as forças produtivas sob o regime do capital, isto é, sob relações de produção capitalistas. Trata-se aqui do modo de produção capitalista, indicando-se, em termos teóricos e abstratos, como é o desenvolvimento econômico capitalista. Para essa formulação Marx dedicou a maior parte de sua vida produtiva, elaborando uma teoria econômica de grande complexidade cuja expressão maior está em sua obra principal, O Capital.[6] Nela, Marx trata das relações econômicas capitalistas (históricas) explicitando suas determinações essenciais, isto é, como se estruturam e se transformam relações de natureza capitalista. Tais relações são explicitadas em uma teoria geral referida ao que Marx denomina modo de produção especificamente capitalista, que requer a constituição de forças produtivas adequadas àquelas relações (grande indústria mecanizada). Não se trata de uma abordagem propriamente histórica, visto que não está posto o Estado, nem considerados teoricamente seu papel, as relações econômicas internacionais e as formas dos mercados e da concorrência. Nem mesmo outras classes, além de trabalhadores e capitalistas, são geralmente consideradas. Existem passagens históricas em O Capital que cumprem duas funções: estabelecem uma contraprova ou ilustração do argumento teórico ou fornecem a gênese histórica de elementos e relações do modo de produção capitalista.

As teorias elaboradas nesse nível teórico-histórico dizem respeito ao desenvolvimento econômico capitalista em geral. Essas teorias são contribuições de Marx ao arcabouço das teorias econômicas modernas do desenvolvimento econômico e serão apresentadas na próxima seção deste capítulo.

Por fim, Marx trata do desenvolvimento econômico em um terceiro nível de elaboração, nos textos em que realiza análises históricas do capitalismo, considerando então o desenvolvimento econômico do capitalismo em termos histórico-concretos. Essas análises estão nas passagens históricas de O Capital, tratando geralmente da Inglaterra, e também em cartas e artigos de jornal tratando da Índia, da Rússia e de outras nações. Nessas ocasiões, Marx aproxima-se da temática da moderna “economia do desenvolvimento”, abordando o processo de desenvolvimento econômico em países atrasados na Europa ou na periferia do sistema capitalista mundial, colocando-se a questão de saber se tal processo segue o mesmo percurso ocorrido na Inglaterra, país pioneiro no desenvolvimento especificamente capitalista.

Os estudiosos da obra de Marx não estão de acordo quanto a posição do autor nessa questão. Em princípio, Marx parece considerar que os demais países (ou apenas os europeus?) devem seguir o mesmo percurso de desenvolvimento, regido pelas mesmas leis econômicas identificadas por ele no âmbito do segundo nível de elaboração teórica. Essa é a tese do “monoeconomismo”, sugerindo que há apenas uma teoria econômica do capitalismo, que explica seu desenvolvimento tanto nos países centrais quanto nos países atrasados ou periféricos.[7] Nessa interpretação, Marx entendia que o capitalismo se expande a partir de um núcleo original e se estabelece progressivamente em todas as nações, o que seria algo positivo por destruir modos de produção atrasados, com baixo desenvolvimento das forças produtivas e predomínio de formas extraeconômicas de coerção para a produção. Outra interpretação considera que as análises históricas de Marx, ao considerar o sistema de Estados, o colonialismo e a espoliação da periferia, inclusive quando trata da chamada “acumulação primitiva”, indicam que a constituição e desenvolvimento das relações capitalistas podem ser bem distintos na periferia, de sorte que o desenvolvimento capitalista estaria sujeito a variações históricas, sem deixar de corresponder a seus traços essenciais indicados pela teoria de O Capital.8 Patnaik (2005) aponta Marx como precursor de Alexander Gershenkron e da “economia do desenvolvimento”, afirmando que Marx tratou não apenas do desenvolvimento sob o capitalismo plenamente constituído, mas também do desenvolvimento que deu origem ao capitalismo.

Seja como for, esse nível de elaboração teórica corresponde à análise de Marx sobre o desenvolvimento concreto (histórico) do modo de produção capitalista, isto é, sobre o desenvolvimento econômico no capitalismo, entendido como realização histórica, contingente e variada, daquele modo de produção. Os temas que emergem nesse tipo de elaboração referem-se ao desenvolvimento capitalista como objeto histórico e não diretamente a uma teoria econômica geral do desenvolvimento capitalista, de que tratamos a seguir.9

monoeconomismo e acerca do caráter progressista ou restritivo das relações do centro capitalista com a periferia (Hirschman, 1986).

8

Como exemplos das análises históricas que sugerem as variações do desenvolvimento, são citadas as abordagens de Marx sobre a Índia e a Rússia. Marx observa a extração do excedente econômico e a dominação política inglesa sobre a Índia como obstáculo ao desenvolvimento econômico, cuja superação requeria algum tipo de rebelião dos hindus (referido por Patnaik, 2005). No caso da Rússia, Marx cogitou de que pudesse haver uma trajetória distinta para o socialismo, a partir das formas ainda existentes de produção comunal (ver a respeito Shanin, 1983).

9 Esse tipo de abordagem, acerca das características e fases históricas do desenvolvimento capitalista no centro e na periferia, está presente nos ensaios de Sutcliffe (2005) e Patnaik (2005). O artigo de Sutcliffe trata das abordagens dos marxistas posteriores

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