DO CAFÉ À INDÚSTRIA - UMA ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL
Por: Hugo.bassi • 2/2/2018 • 16.995 Palavras (68 Páginas) • 568 Visualizações
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Uns ressaltaram o deslocamento do centro dinâmico da agro-exportação para o mercado interno, vide Celso Furtado, e outros consideraram a economia cafeeira e suas relações capitalistas, fundamentais ao surgimento do capital industrial, vide Cardoso de Mello, tendo como hipótese que esses diferentes pontos de vista são complementares um ao outro para o completo entendimento da formação da indústria no Brasil, assim, este trabalho tem como objetivo verificar se esta hipótese é falsa ou verdadeira através de uma modalidade histórica de pesquisa.
No Capítulo I será abordada a Crise da Economia Capitalista Cafeeira, através de uma análise da superprodução seguida de queda nos preços do café, como abordado por Furtado, a criação das condições básicas ao nascimento do capital industrial, que sera analisada pela obra de Cardoso de Mello e também a crise do contráditório processo de acumulação do capital cafeeiro, como veremos estudo do que foi tratado por Aureliano.
No Capítulo II será colocado em pauta o surgimento da indústria no Brasil, considerando a Crise de 1929 e o deslocamento do capital cafeeiro para indústria, como tratado por Furtado, o processo de industrialização restringida, como abordado por Mello e o princípio do desenvolvimento da indústria, como tratado por Aureliano.
No Capítulo III será por fim abordada a consolidação da Indústria no Brasil, mais precisamente, a indústria restringida, que como veremos irá começar na década de 1930, analisando a obra de Wilson Suzigan e a seguir os primeiros avanços da industrialização brasileira, como será tratado a partir da obra de Lacerda et al.
INTRODUÇÃO
Desde o princípio da colonização do Brasil, foi traçado o perfil de como se formaria esse país economicamente, sendo desde o início uma colonia de exploração, latifundiária, e até o fim do século XIX como exportadora capitalista de café, tendo uma industrialização retardatária, e utilizado mão-de-obra escrava até 1888, assim não tendo formado um mercado interno capaz de absorver sua oferta, o que o caracterizou como dependente da exportação de suas manufaturas.
Para analizar os acontecimentos no Brasil que levaram o país da crise cafeeira à consolidação de sua indústria, é importante entender a formação econômica do mesmo, desde quando este era uma colônia, para compreender algumas características que se mantém as mesmas até os dias de hoje, e que estavam muito presentes na problemá-tica da industrialização brasileira.
A vinda da Coroa Portuguesa para o Brasil e os fatores que levaram a emanci-pação política brasileira são acontecimentos que marcaram o início do séc. XIX. De acordo com Prado Júnior, “Ele marca uma etapa decisiva em nossa evolução e inicia em todos os terrenos, social, politico e econômico, uma fase nova”. (PRADO JÚNIOR, 1996:9)
Naquele momento o fim do regime colonial era evidente, pois já havia realizado tudo que poderia realizar. A relação Metrópole-Colônia jamais seria reestruturada nos moldes anteriores, as características econômicas e sociais do sistema colonial sofrem-ram diversas transformações, por tanto, por maior que fosse a decadência do Reino, isto seria apenas um fator complementar para uma transformação já traçada. Prado Júnior explica:
“A obra colonizadora dos portugueses, na base em que assentava, e que em conjunto forma aquele sistema, esgotara suas possibilidades. Perecer ou modificar-se, tal era o dilema que se apresentava ao Brasil. Nem lhe bastava separar-se da mãe-pátria, o que seria quando muito passo preliminar, embora necessário. O processo de transformação devia ser profundo.” (PRADO JÚNIOR, 1996:9-10)
O Brasil entra em processo de renovação, e é este o pondo de partida de Prado Júnior, que trata do início de um longo processo histórico que ainda não esta acabado e se prolonga até os dias de hoje. Para Prado Júnior:
“Com vaivéns, avanços e recuos, ele se desenrola através de um século e meio de vicissitudes. O Brasil contemporâneo se define assim: o passado colonial que se balanceia e encerra com o século XVIII, mais as trans-formações que se sucederam no de-correr do centênio anterior a este e no atual.” (PRADO JÚNIOR, 1996:10)
Começa então uma nova fase, a Colonização realizara um “organismo social completo e distinto” (PRADO JÚNIOR, 1996:10), que se transforma ao longo dos processos, e cria um processo histórico que se ve presente até os dias de hoje, seja por força própria, ou, seja pela intervenção de novos fatores estranhos ao processo.
Prado Júnior evidencia: “Observando-se o Brasil de hoje, o que salta à vista é um organismo em franca e ativa transformação e que não se sedimentou ainda em linhas definidas; que não tomou forma”. (PRADO JÚNIOR, 1996:10)
Os principais problemas do Brasil nos dias de hoje, foram definidos há 150 anos atrás e são facilmente notados quando se trata de relações socias, agricultura e economia, como se nota em um trecho de Prado Júnior:
“Os processos rudimentares empregados na agricultura do país, infelizmente problemas ainda da mais flagrante atualidade, já despertavam a atenção em pleno séc. XVIII; e enxergava-se neles como se deve enxergar hoje, a fonte de boa parte dos males que afligiam a colônia e que ainda agora afligem o Brasil nação de 1942.” (PRADO JÚNIOR, 1996:10)
O sistema colonial se dava pelo acumulo primitivo de capital do comércio dos produtos agrícolas coloniais e da venda para as colônias dos produtos manufaturados da metrópole, sistema que condizia com as características do Mercantilismo, sendo que este sistema entre em crise com o surgimento de novas tecnologias da Revolução Industrial. Novais chamava esse sistema de relações metrópole-colônia, de exclusivo metropolitano e o descreveu como:
“É no regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o elemento essencial desse mecanismo. Reservando-se a exclusividade do comércio com o ultramar, as metrópoles européias na realidade organizavam um quadro institucional de relações tendentes a promover necessariamente um estímulo à acumulação primitiva de capital na economia metropolitana a expensas das economias periféricas coloniais. O chamado monopólio colonial, ou mais corretamente e usando um termo da própria época, o regime do exclusivo metropolitano constituia-se pois no mecanismo por excelência do sistema, através do qual se processava o ajustamento da expansão colonizadora aos processos da economia e da sociedade européias em transição para o capitalismo integral.”
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