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O IMPACTO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA SAÚDE MENTAL DO MÉDICO DO TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO

Por:   •  7/7/2018  •  6.044 Palavras (25 Páginas)  •  485 Visualizações

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cumpre destacar que “sofrimento mental”, para os efeitos deste trabalho, constitui-se em algo muito mais amplo do que doença mental, a partir do pressuposto construído pela psicopatologia do trabalho de que o sofrimento atinge a todos os trabalhadores, de forma mais ou menos intensa, podendo ou não conduzir à doença mental.

Este artigo pretende abrir espaço para uma discussão sobre a importância dos médicos do trabalho em cuidarem do seu equilíbrio físico e emocional no exercício de suas atividades, pois estão sempre preocupados em cuidarem da saúde do trabalhador e muitas vezes se esquecendo do seu próprio bem estar, assim, serve de alerta aos médicos do trabalho de que eles, como qualquer outro trabalhador, também estão sujeitos a apresentarem doenças ocupacionais.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

- Investigar como os fatores vinculados às condições e à organização de trabalho influenciam as vivências de sofrimento no cotidiano do profissional médico do trabalho que atua no Serviço Especializado em Medicina Ocupacional em empresas.

2.2. Objetivos Específicos

- Verificar como o médico lida com os fatores e situações estressantes, inerentes à prática de sua profissão;

- Identificar as consequências diretas e indiretas da exposição a fatores estressantes nesta classe trabalhadora.

3. METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada pretendendo identificar os impactos na saúde mental de médicos do trabalho advindos das suas condições de trabalho. Neste sentido optou-se por adotar uma abordagem qualitativa como procedimento metodológico, visto que a pesquisa busca analisar em determinada profundidade o nível de adequação das condições de trabalho do médico do trabalho e as consequências em sua saúde mental.

Segundo Minayo (1996), a abordagem qualitativa preocupa-se com um nível da realidade que não pode ser quantificado. Este tipo de estudo aprofunda-se no "mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas".

Considerando-se o critério de classificação proposto por Vergara (2005), quanto aos fins, esta pesquisa classificou-se como descritiva. Vergara (2005) observa que a pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou fenômeno, pode estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza, apesar de não ter o compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação.

Este estudo classificou-se, quanto aos meios de investigação, em estudo de caso, que de acordo com Yin (2001) é uma estratégia muito utilizada quando o pesquisador quer investigar um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real e quando os limites entre o fenômeno e esse contexto não estão muito bem definidos.

A amostra intencional foi composta por uma médica com especialização em medicina do trabalho responsável pela coordenação e/ou execução do PCMSO (Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional) e que tem como única atuação a medicina do trabalho e não outra especialização.

De acordo com Vergara (1998) a amostra foi probabilística por acessibilidade, pois a médica do trabalho escolhida para fazer parte do estudo o foi sem nenhum procedimento estatístico e sim pela facilidade de acesso que o pesquisador teve a ela.

Entrou-se em contato telefônico com a médica do trabalho que tem grande experiência profissional na área da medicina ocupacional na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, explicando-lhe o motivo da pesquisa, bem como os seus objetivos gerais e específicos e fazendo-lhe o convite para a participação na pesquisa.

Após os esclarecimentos iniciais e da garantia de que sua identificação seria mantida em sigilo, bem como não teria que divulgar o nome de nenhuma das empresas nas quais trabalhou ela aceitou participar voluntariamente da pesquisa.

A coleta de dados para a elaboração deste estudo foi realizada por meio de entrevista semi-estruturada. Segundo Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada é um bom instrumento de coleta de dados, pois, ao mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece condições para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.

Os dados foram tratados de forma qualitativa, realizando-se a análise de conteúdo. Através do conteúdo das entrevistas foi possível verificar como a médica do trabalho percebe os impactos das suas condições de trabalho na sua saúde mental.

A entrevista foi gravada com o consentimento da entrevista; posteriormente, os dados foram transcritos e submetidos ao processo de análise de conteúdo.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Em 2004, a pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou que 90% dos médicos acham a profissão desgastante e 56% trabalham em três ou mais empregos. Inclusive Martins (2003), já ressaltava em suas pesquisas que 80% dos médicos consideram a atividade médica desgastante, mostrando-se insatisfeitos e estressados, pelo excesso de trabalho/multiemprego, baixa remuneração, más condições de trabalho, responsabilidade profissional, área de atuação/especialidade, relação médico-paciente, conflito/cobrança da população, perda da autonomia. Além de sentimentos de incerteza e pessimismo que predominam em relação à perspectiva quanto ao futuro da profissão.

No Brasil há estudo destacando que a sobrecarga de trabalho, a privação do sono, além do estresse de lidar com doença, dor e morte cotidianamente são considerados fatores de risco para a saúde mental do médico (MARTINS, APUD MELEIRO, 1998).

De acordo com pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) em 2007, os médicos trabalham em média 52 horas semanais, e aproximadamente um terço destes ultrapassa essa média.

A profissão médica, segundo Torres (2011), apresenta aspectos extremamente desgastantes, tais como grande dedicação de tempo e muita responsabilidade pessoal. Além da grande exigência de carga horária, outras condições insatisfatórias de trabalho, como reconhecimento, remuneração adequada, autonomia, estabilidade, infraestrutura ou segurança, podem sobrecarregar ainda mais o médico, causando estresse e prejudicando sua qualidade de vida.

Em 2007, outra pesquisa do CFM acerca dos médicos do Brasil, no intuito de se analisar alguns indicadores

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