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A OBSERVAÇÃO COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Por:   •  17/4/2018  •  4.557 Palavras (19 Páginas)  •  296 Visualizações

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Nesse mesma linha, Foulquié (1967, p. 714 – 715) escreve: “observar tem o mesmo sentido de conservar-se diante do observado (não deixar de olhar). Considerar atentamente uma coisa a fim de conhecê-la melhor”. Para esse autor, observar é muito mais difícil que imaginar e deduzir. A observação é, portanto, “uma severa e poderosa apreensão da mente” (FOULQUIÉ, op cit., p. 715). Ainda segundo Foulquié, existe uma espécie de antagonismo entre a observação e a imaginação. Às vezes, a imaginação acaba substituindo a observação; assim, este último processo fica impedido pelas hipóteses do imaginário.

É necessário, antes de tudo, reformular as ideias para aprender a observar. As ideias são frutos da percepção da realidade e esta é resultado da observação (LENOBLE apud FOULQUIÉ, 1967). Silva (1979, p. 94) define observação como: o processo de investigação social que consiste na aplicação do sentido para a apreensão da realidade social. [...] muitas vezes a simples observação não é suficiente para dar ao observador uma sensibilidade e uma compreensão exata dos comportamentos do universo pesquisado, o que só será possível se o pesquisador assumir papéis reais.

Um dos aspectos ligados diretamente à observação é a aparência. De acordo com Abbagnano (1998), este termo pode ter dois significados diferentes.

O primeiro é a ocultação da realidade e o segundo, manifestação ou revelação desta. Conforme o primeiro significado, a aparência vela ou obscurece a realidade das coisas, de tal modo que esta só pode ser conhecida quando se transpõe a aparência e se prescinde dela. Pelo segundo significado, a aparência é o que manifesta ou revela a realidade, de tal modo que esta encontra na aparência a sua verdade, a sua revelação. Com base no primeiro significado, conhecer significa libertar-se das aparências: pelo segundo significado, conhecer significa confiar na aparência, deixá-la aparecer. No primeiro caso, a relação entre a aparência e a verdade é de contradição e oposição; no segundo, é de semelhança ou identidade. (ABBAGNANO, 1998, p.68)

Para o autor, essas duas concepções de aparência intrincaram-se de várias formas na filosofia ocidental, pois uma nasce do esforço de atingir o saber mais concreto, transpondo os seus próprios limites por meio da superação das opiniões, dos sentidos e das crenças populares ou místicas; e a outra procura, com igual constância, ter em conta a aparência, reconhecendo que nela se manifesta a própria realidade.

A observação permite, pois, a apreensão da realidade. Apreender significa aprender por meio do intelecto, ou seja, todo conhecimento de um objeto ou fato é considerado como ação do sujeito.

A apreensão é uma operação que se dá por meio da inteligência, quando observamos um acontecimento e dele percebemos a realidade. Apreender é toda operação intelectual que resulta numa aprendizagem.

O aprendizado é a “[...] aquisição de uma técnica qualquer, simbólica, emotiva ou de comportamento” (ABBAGNANO, ibdem, p. 75). De qualquer forma, a aprendizagem pode ser compreendida como sendo o resultado de processos interativos entre os indivíduos e das observações que realizam sobre o meio, os elementos, os fatos e os acontecimentos, assunto abordado de forma detalhada mais à frente.

A interpretação constitui um dos pilares básicos da observação, já que significa “[...] a possibilidade de referência de um signo ao que ela designa ou também a operação através da qual um sujeito intérprete estabelece a referência de um signo ou seu objeto” e ainda “[...] o desenvolvimento e a realização efetiva da compreensão. A interpretação não é tomar conhecimento do que se compreendeu, mas a elaboração das possibilidades projetadas na compreensão” (ABBAGNANO, 1998, p. 579-580).

Por fim, a percepção apresenta três significados principais, de acordo com o sociólogo. No primeiro significado, o termo indica qualquer atividade cognitiva e é sinônimo de pensamento. O segundo significado é mais restrito e assinala o ato ou a função cognitiva à qual se apresenta um objeto real. É o conhecimento empírico, imediato, que se apreende ou se manifesta em um objeto real. O último significado é específico ou técnico, segundo o qual a percepção designa as ações estabelecidas pelo homem em suas relações com o ambiente. É a interpretação dos estímulos, o reencontro ou a construção dos seus significados.

A percepção intelectiva é, portanto, “[...] o ato fundamental do conhecimento, enquanto síntese entre a ideia do ser em geral e a ideia empírica que deriva da sensação (das coisas externas) [condições objetivas] ou dos sentimentos (que o eu tem de si)” (ROSMINI apud ABBAGNANO, 1998, p. 756).

Como afirma Foulquié (1967), observar não é tarefa fácil, pois envolve todos os processos citados neste capítulo. Geralmente, costuma-se usar esses conceitos como sinônimos, mas não são. Cada um exige da mente uma resposta diferente. Assim, é necessário que haja estímulos externos percebíveis pelos sentidos e a posterior transformação desses estímulos em conhecimentos através da ação do intelecto.

Nesse contexto, reconhecemos como papel fundamental da observação a revelação dos significados dos elementos do espaço geográfico para as crianças que estão no período escolar do Ensino Fundamental I.

A OBSERVAÇÃO NO ENSINO DE GEOGRAFIA

No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) orientam as práticas pedagógicas do ensino de Geografia da seguinte forma:

O ensino de Geografia, de forma geral, é realizado por meio de aulas expositivas ou da leitura dos textos do livro didático. Entretanto, é possível trabalhar com esse campo do conhecimento de forma mais dinâmica e instigante para os alunos, mediante situações que problematizem os diferentes espaços geográficos materializados em paisagens, lugares e territórios; que disparem relações entre o presente e o passado, o específico e o geral, as ações individuais e as coletivas; e promovam o domínio de procedimentos que permitam aos alunos “ler” a paisagem local e outras paisagens presentes em outros tempos e espaços. (BRASIL, 2001, p. 153)

Um dos princípios básicos para a apreensão do conhecimento geográfico é a análise do espaço vivido, feita através da observação em suas formas direta ou indireta (BRASIL, 2001). Quando lançamos o olhar sobre determinada paisagem, podemos fazê-lo de duas formas: olhar simplesmente, realizando uma leitura superficial

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