O Movimento de reconceituação 40 anos depois, José Paulo Netto, revista Serviço Social&Sociedade, nº 84 – ano XXVI - novembro de 2005
Por: Sara • 22/12/2018 • 1.724 Palavras (7 Páginas) • 996 Visualizações
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assumindo a corrente fenomenológica distanciando-se da ideologia positivista da ditadura. Já a intenção de ruptura do serviço social se manifesta com o propósito de romper com suas origens teórico-metodológicos do pensamento conservador e positivista, e com os padrões interventivos e reformista. Sobretudo, a reconceituação marcou de forma definitiva o serviço social latino-americano.
Assim, é possível afirmar que o Movimento de Reconceituação do Serviço Social teve por objetivo a construção de um perfil profissional mais crítico, para uma melhor orientação e redimensionamento do exercício profissional do Serviço Social. O Movimento foi um marco histórico do Serviço Social, pois é através dele que se pensou um novo modelo de atuação, porque anteriormente o Serviço Social era visto como assistencialista, ou seja, Movimento de Reconceituação vem justamente para isso, ampliar o conceito desse novo modelo da atuação do serviço social, que é viabilizar os direitos de todo ser humano..........................................................................................
Segundo Netto a principal conquista do Movimento de Reconceituação foi à recusa dos assistentes sociais em caracterizar-se exclusivamente em agentes técnicos executor das políticas sociais. Através do processo de requalificação principalmente com a introdução destes profissionais no âmbito da pesquisa acadêmica foi possível romper com a “divisão consagrada de trabalho entre cientistas sociais (os teóricos) e assistentes sociais (os profissionais da prática). Entretanto, apesar de todo esforço teórico-político para sintonizar o Serviço Social com uma racionalidade crítico dialética, ainda era possível identificar alguns equívocos, limites e contradições da profissão neste período. Afinal Netto deixa claro que o deslocamento do “serviço Social tradicional” por viés desenvolvimentista-modernizante tornou compatível a renovação do Serviço Social com as exigências próprias do projeto ditatorial e permitiu a consolidação de um perfil profissional bastante diverso do tradicionalismo..........................................................
Já no Brasil a ditadura militar proporcionou o fortalecimento do conservadorismo no interior da profissão. Responsável por uma renovação modernizadora da profissão ainda que sob uma direção fascista imposta por esta conjuntura, possibilitou também a emergência da renovação da categoria profissional, dando inicio ao processo de ruptura, em ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma crítica radical ao tradicionalismo. Conforme Netto, o desenvolvimento de uma perspectiva crítica, tanto teórica quanto prática, que se constituiu a partir do espírito próprio da Reconceituação, não se tratou de uma simples continuidade das idéias reconceituadas, o que se sucedeu foi uma retomada da crítica ao tradicionalismo a partir das
conquistas da reconceituação, ou seja, o processo de ruptura só foi possível a partir da abertura política, uma vez que a ditadura militar dos anos anteriores havia imposto inúmeras dificuldades..........................................................................................................
Convém mencionar que além de Netto, Faleiros e Iamamoto também abordam a reconceituação. Iamamoto traz a importância do Movimento de Reconceituação, pois segundo a mesma é a partir dele que o Serviço Social se valoriza diante da sociedade. Já que os assistentes sociais se dedicam a lutar por uma justiça social, em meio a tantas desigualdades e explorações, atuando nos desafios que são postos acerca da sua prática profissional. Já para Faleiros o Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina constituiu-se numa expressão de ruptura com o Serviço Social tradicional e conservador e em uma nova possibilidade de identidade profissional com ações voltadas às demandas da classe. Entretanto é notório a concordância entre os autores citados à cima, os mesmos acreditam que o processo de reconceituação do serviço social na América Latina foi interrompido pela repressão que a ditadura militar ocasionou. No entanto apesar da opressão que a ditadura provocou, a própria ditadura possibilitou a construção de uma proposta concreta de intervenção definindo objeto e objetivos do Serviço Social para além do conservadorismo, através da aproximação com o marxismo até então inexistente. Assim, a reconceituação é sem duvida, parte integrante do processo de erosão do Serviço social “tradicional” e partilha de suas causalidades e características. Como tal, ela não pode ser pensada sem a referência ao quadro global (econômico-social, político, cultural e estritamente profissional) em que aquele se desenvolve. Afinal, ela se apresenta com nítidas peculiaridades, procedentes das particularidades latino-americanas, ou seja, segundo Faleiros e Netto “a ruptura com o serviço Social tradicional se inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de transformação da estrutura capitalista excludente, concentradora”.
Portanto, é de suma importância mencionar que de 1960 até hoje se caracteriza como movimento de reconceituação a ruptura com o conservadorismo e o tradicionalismo do serviço social. De modo geral, este movimento constituiu-se por meio dos documentos de Araxá, os congressos, e outros, além de transformações sócio-econômicas, políticas e culturais ocorridas na sociedade. Assim, seu impacto hoje na profissão representa um marco histórico dividindo o serviço social em “antes e após” a reconceituação. Contudo, segundo Netto é possível afirma que a reconceituação só pode ser adequadamente situada se considerar que se inscreve num processo muito mais amplo de caráter mundial, sobretudo, que a existência deste Serviço Social crítico que hoje implementa o chamado Projeto Ético Político é a prova conclusiva da permanente atualidade da Reconceituação como ponto de partida
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