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O suicídio: representação social do fenômeno no Jornal Folha de São Paulo

Por:   •  30/5/2018  •  5.959 Palavras (24 Páginas)  •  283 Visualizações

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No que se refere à temática do suicídio, a imprensa sempre procura não divulgar sobre o assunto ou não entrar em detalhes, reportando apenas o que considera essencial para o conhecimento publico. Geralmente quando o conteúdo é mencionado este vem reportado superficialmente assuntos policiais, políticos ou quando envolve celebridades, não falando sobre o suicídio em si ou sobre seus fatores, pois segundo dados do IPEA (2013, p. 8) acredita-se que “existem grupos de pessoas suscetíveis ao suicídio, em decorrência do efeito da mídia. Isto é, elas são influenciadas por algum tipo de comportamento de grupo”, acreditando-se dessa forma que se formará um circulo vicioso de casos de suicídio, que tendem a imitação, aumentando assim o número de mortes.

Em seus resultados demonstrou-se a evidencia de que a mídia correlaciona-se positivamente com casos de suicídio, transformando-se assim no terceiro motivador do autoextermínio, perdendo apenas para o desemprego e para a violência (IPEA, 2013). Porém, na maioria dos casos, tal resultado é motivado pelo modo sensacionalista e polêmico que alguns noticiários e TVs usam para a abordagem.

Com base nesse contexto a Organização Mundial de Saúde [OMS] criou uma cartilha de orientação para a mídia acerca do suicídio: "Prevenir o suicídio: um guia para os profissionais de mídia", produzido em 2000. Nesta é dada orientação sobre quais as formas corretas de noticiar casos de suicídio, tais quais: "estatísticas devem ser interpretadas cuidadosamente e corretamente; fontes de informação confiáveis e autênticas devem ser usadas; comentários improvisados devem ser feitos cuidadosamente, a despeito das pressões de tempo; generalizações baseadas em fragmentos de situações requerem atenção particular; expressões como “epidemia de suicídio” e “o lugar com a mais alta taxa de suicídio do mundo” devem ser evitadas; deve-se abandonar teses que explicam o comportamento suicida como uma resposta às mudanças culturais ou à degradação da sociedade” (OMS, 2000).

Porém é salientado que a mídia pode ter um papel proativo na prevenção do suicídio, oferecendo junto com a notícia informações como: listas de serviços de saúde mental, sinais e alerta de comportamento suicida, esclarecer acerca do envolvimento da depressão com o suicídio e que é há tratamento para tal; aumentando assim o caráter interventivo. A mídia é a maior e mais utilizada disseminadora de informações, chegando a todas as faixas etárias e camadas sociais. Trabalhando nessa perspectiva e abandonando os estereótipos criados acerca do suicídio seria possível uma ferramenta muito poderosa de prevenção do comportamento suicida, intervendo diretamente no progresso da saúde publica nacional, assim como também indiretamente em diversas áreas sociais, como por exemplo, na economia e na qualidade de vida.

Representações sociais e sua influência no cotidiano

Atribuir uma imagem aos objetos sociais é, por certo, uma das funções da imprensa, já que esta cumpre o papel de alertar/informar as pessoas sobre acontecimentos cotidianos. Diante disso, o suicídio, enquanto fato social se apresenta como um fenômeno complexo que, socialmente, evoca desde o sentimento de medo até discussões polêmicas. Segundo Guareshi (2007, p. 9) a mídia tem crescido ininterruptamente, isto interfere na percepção da sociedade sobre a realidade, gerando a eliminação dos limites entre o aspecto material e conceitual, tendo, a partir desta quebra, apenas representações de representações.

O campo teórico das Representações Sociais se alimenta das diversidades individuais, atitudes e fenômenos, bem como dos eixos culturais, ideológicos, das experiências e da comunicação cotidiana (Moscovici, 2003; Vala e Monteiro 2006). As representações são uma forma de saber prático que liga um sujeito a um objeto, uma espécie de conhecimento que tentar dar conta e diz sobre a realidade (Jodelet, 2001).

De acordo com Jodelet (2001) as representações são “uma forma de conhecimento, socialmente elaborado e compartilhado, que tem um objetivo e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (p. 9). Assim, os atores sociais, a partir do que denominados por senso comum, atribuem características a um objeto com intuito de torná-lo familiar ao que se apresenta como estranho. O desconhecido evoca medo, pois ameaça o sentido de ordem e a sensação de controle sobre o mundo (Joffe, 2009).

As representações se configuram, portanto, como uma tentativa de dar conta de um objeto não familiar, pois estas

são sempre o resultado de um esforço constante de tornar comum e real algo que é incomum (não-familiar), ou que nos dá um sentimento de não-familiaridade. E através delas nós superamos o problema e o integramos em nosso mundo mental e físico, que é, com isso, enriquecido e transformado (Moscovici, 2003, p. 58).

Serge Moscovici postulou os dois principais processos envolvidos na representação social, são eles a objetivação e a ancoragem, ambos com a função cognitiva de familiarização com a novidade. Assim, entende-se por objetivação, o processo pelo qual noções abstratas tornam-se concretas, quase tangíveis ao ponto de assumir um caráter de realidade, é uma operação formadora de imagens. E ancoragem, inserir um pensamento abstrato em algo já existente, isto é, ancoramos objetos desconhecidos em representações já existentes.

Moscovici citado por Simoneau e Oliveira (2014), apresenta os três sistemas da comunicação, classificados em função da fonte, da lógica das mensagens e de quem a recebe, desta forma tem-se a difusão, propagação e propaganda. O primeiro é direcionado a um público vasto e heterogêneo, cujo objetivo é criar um interesse comum a partir de determinados assuntos, bem como adaptar-se as necessidades e interesses dos seus receptores. A propagação diz respeito a um tipo de comunicação que é puramente instrumental, tem um grupo definido e publica aqui que é objeto de interesse desse grupo. Assim, a relação entre a fonte de comunicação e os receptores não é recíproca, pois o emitente goza de autoridade e autonomia na propagação das mensagens.

Por ultimo, a propaganda, que tem como função as mensagens dicotômicas, na pretensão de persuadir o público com conteúdos condicionados pela ideologia e relações estabelecidas com outros grupos. Ela também busca reduzir as possibilidades de significações na tentativa de diminuir o risco da livre interpretação (Moscovici apud Simoneau e Oliveira, 2014).

As representações,

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