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Artigo Entre os Muros da Escola

Por:   •  25/7/2018  •  2.969 Palavras (12 Páginas)  •  361 Visualizações

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Outro ponto que é interessante salientar a respeito da escola apresentada no filme, é que ao mesmo tempo em que esta se mostra como avançada, ainda traz em suas práticas, características extremamente tradicionais e conservadoras. Isso pode ser encarado como um dos motivos que evidenciam os conflitos internos, no que diz respeito à questão das diferenças, pois fica mais complicado para os alunos se adaptarem, o que resulta na questão da impenetrabilidade dos mundos, tanto dos discentes, quanto do professor.

Talvez pensando nessa gama de diversidade que Gramsci em seus escritos, critica a falsa universalidade da escola que é pregada, e propõe torná-la algo realmente plural, ou seja, que a mesma seja um lugar de vivência, em que o professor e aluno aprendam um com o outro.

“(...) Para que ele possa despertar a consciência nestes indivíduos, é essencial conhecer seu universo, sua história, partir das realidades enfrentadas por esses alunos, sem deixar de lado a autonomia e a liberdade de cada um.” (GAGNO, Roberta. FURTADO, Andréa Garcia).

Diante do exposto, faz-se necessário relatar que mesmo com as tentativas do Professor François de desenvolver o diálogo e a vivência com seus alunos, não foi possível avançar muito. Avançar no sentido de criar neles um espírito crítico, para fazê-los compreender quem são e em que mundo vivem, já que a grande maioria era estrangeira e por inúmeros motivos estavam ali. Portanto, fazia-se necessário adotar uma dinâmica que explicasse como funcionava aquela sociedade em que eles agora estavam inseridos, pois do que adianta ser sociável, aprender a língua, se não compreender a sociedade em que se vive?

Verificamos que o currículo não é elaborado pensando na diversidade cultural dos alunos, mas em transmitir somente conhecimentos relacionados à cultura da França, com o objetivo de desenvolver nos alunos, um sentimento de nacionalidade francesa. Esta situação resulta na ausência de estímulo e motivação para continuar estudando, rejeição do currículo imposto pela escola e o levantamento de questionamentos sobre o abuso de poder exercido pelo professor Marin.

Provavelmente, esta seja a grande contradição do filme, o método inadequado utilizado. Talvez se tivesse adotado outra postura, o professor de francês teria conseguido, além de transmitir seus conhecimentos, despertar naqueles alunos uma consciência crítica a respeito deles, de suas realidades e da sociedade.

Dessa forma, os mesmos passariam a se perceber de outra maneira, já não mais como predestinados a isso ou aquilo, mas como coautores de sua própria história, pois entendo que depois de adquirida a consciência de mundo, o caminho que a se seguir fica a critério de cada sujeito, mas com certeza será um cidadão que tem uma ação histórica, sem deixar de lado sua singularidade que é peculiar a cada cultura.

- MÉTODO DE ENSINO

“Entre os Muros da Escola” é um meio significativo de reflexão crítica sobre a escola capitalista na França, uma vez que permite, através das imagens, compreender o sistema educacional deste País. A escola pública da França tenta impor a sua cultura dominante para os alunos, sobretudo, através da imposição da língua culta francesa, não respeitando a diversidade presente em sala de aula. Portanto, a escola se transforma em um espaço de reprodução desta cultura, e os estudantes se tornam “obrigados” aprender a conviver de acordo com as regras da escola, de modo a excluir a sua própria cultura e história de vida.

Apesar do filme se passar na França, o contexto da sala de aula não é diferente do que encontramos no Brasil, em ambos podemos ver de maneira clara a ideologia do ensino tradicional. Nas escolas tradicionais, o foco está no professor, que detém conhecimentos e repassa ao aluno. Analisando dessa forma, reparamos que o professor está ali sendo um mero reprodutor do conhecimento. No início do ano, ele não considera a individualidade de seus alunos, vendo-os descontextualizados de suas realidades sócios históricos. É dada a gramática em sua norma culta e Marin espera que seus alunos aprendam, mas estes sentem dificuldade por não ser aquela forma de escrever que é falada no cotidiano, nas sociedades em que eles estão inseridos.

Interpretamos que a metodologia adotada é incoerente ao legitimar um determinado conhecimento como único e real, pois a sala de aula é um ambiente heterogêneo, a do filme em específico é repleta de adolescentes de diferentes etnias e culturas, e eles levam consigo seus próprios aprendizados, cada um tem uma forma de compreensão diferente, alguns inclusive não são capazes de compreender. O professor Marin muitas vezes parece se esquecer de que está lidando com adolescentes de 13 a 15 anos de realidades distintas, que a turma não é composta apenas por franceses, há latino-americanos, africanos, árabes, asiáticos.

Visto a improdutividade do modelo tradicional de ensino, Bruno Barbaredo (2005) atento para o fato de que tal método mostra-se "ineficaz por condicionar o aluno a aprender a mostrar que sabe o que é diferente de saber. O estudante, neste sistema, não é tratado como um ser humano com potencialidades e valores; é tido como objeto que, após as seções de condicionamentos e reforços contínuos passa ao ano seguinte e quando não atingem o objetivo do sistema repete-se todo o processo até que se atinja o resultado esperado.”.

O aspecto tratado pelo psicólogo em seu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado Alienação na Escola, nos permite problematizar como os docentes daquele colégio na periferia de Paris avaliavam de maneira equivocada aqueles adolescentes. Já na primeira reunião de professores eles expunham o perfil dos alunos, traçado a partir do ponto de vista disciplinar, e comentavam quais eram "bons" ou "ruins". Ademais, no conselho de classe, eles decidiam se um aluno desajustado merecia permanecer ou for expulso da escola, sem ao menos antes tentar estimular a sua recuperação.

Por essas questões que existe uma diferença em ser professor e educador. O professor despeja informações, enquanto o educador constrói o conhecimento em conjunto com a turma. O professor repete a mesma rotina incansavelmente, já o educador se adapta para acessar cada aluno. A função do professor é acadêmica e profissionalizante, o educador, porém, ensina para a vida em sociedade e se preocupa com o desenvolvimento integral do indivíduo.

Apesar de se apresentar como uma autoridade detentora de um saber superior, o personagem principal do ao longo da trama dá voz aos seus alunos, principalmente ao propor

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