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Artigo o ensino da língua portuguesa na escola

Por:   •  13/6/2018  •  3.255 Palavras (14 Páginas)  •  472 Visualizações

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Este artigo tem como finalidade discutir esse impasse vivido pelo professor, principalmente o de Língua Portuguesa, a partir de estudos sobre língua padrão, língua culta e variação linguística, enfatizando uma abordagem sociolingüística, procurando esclarecer a diferença entre ambas e apontando o importante papel político-social da escola que é o de dar oportunidades de igualdade aos menos privilegiados, mostrando-lhes as diversas possibilidades que o usuário da língua tem para se comunicar de forma concisa e coerente e as diversas variações pelas quais a língua difunde.

1. LÍNGUA CULTA E LÍNGUA PADRÃO

A existência de diferentes falares, em qualquer comunidade lingüística, só é possível por causa do caráter de heterogeneidade próprio a todas as línguas. Essas variedades linguísticas entre os seres que formam a sociedade passam a ter um caráter valorativo, que reflete o poder que um membro exerce sobre os demais. Isso denota que determinados falares são menos valorizados. É por isso que Gnerre (1994, p. 6), diz que “[...] uma variedade lingüística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais.”

Ideias frequentemente difundidas de que a língua padrão é melhor, superior às demais são desmistificadas pela Sociolinguística . Sobre essa questão Alkmim (2003, p. 40) afirma:

Variedade padrão de uma comunidade – também chamada norma culta, ou língua culta – não é, como o senso comum faz crer, a língua por excelência, a língua original, posta em circulação, da qual os falantes se apropriam como podem ou são capazes. O que chamamos de variedade padrão é o resultado de uma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção de um dos modos de falar entre os vários existentes na comunidade e, de outro, pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo ‘correto’ de falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos lingüísticos dos grupos socialmente dominantes. Em nossas sociedades de tradição ocidental, a variedade padrão, historicamente, coincide com a variedade falada pelas classes sociais altas, de determinadas regiões geográficas. Ou melhor, coincide com a variedade linguística falada pela nobreza, pela burguesia, pelo habitante de núcleos urbanos, que são centros do poder econômico e do sistema cultural predominante.

Já Faraco (2002, p. 38), adentrando na questão da diferenciação entre padrão/não padrão, mostra uma importante diferença entre norma culta e norma padrão. Pode-se perceber isso quando parte do “[...] conceito técnico de que os grupos sociais se distinguem pelas formas de língua que lhes são de uso comum. Esse uso comum caracteriza o que se chama de norma lingüística de determinado grupo”. Identificam-se nesse caso vários grupos como os falantes da zona rural, das periferias dos grandes centros urbanos, dos grupos letrados, enfim, cada um mostrando valores específicos da comunidade que representa, agregando à expressão lingüística valores inerente aos seus respectivos grupos sociais.

Bortoni-Ricardo (2004) lembra que não existe apenas uma cultura de letramento, mas são de letramento todas as práticas associadas a diferentes atividades sociais, científicas, religiosas, profissionais, nesse caso incluídas as manifestações culturais letradas associadas à cultura popular. Sendo assim, a norma culta corresponde aos estilos linguísticos do grupo social situado na extremidade do letramento caracterizado pelo convívio com práticas sociais de uso formal da fala e da escrita.

Segundo Faraco (2002), a língua padrão se tornou “uma referência supra-regional e transtemporal”, por ter uma caráter abstrato e por manter-se acima de todas as outras variedades sociais, e por ser ainda instrumento de transmissão e perpetuação das intenções do Estado. Desta maneira, Faraco (op. cit. p. 40) apresenta a norma padrão da seguinte forma:

A cultura escrita, associada ao poder social, desencadeou também, ao longo da história, um processo fortemente unificador (que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas), que visou e visa uma relativa estabilização linguística, buscando neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de norma-padrão ou língua-padrão.

O fato é que o acesso não só à norma padrão, mas também à norma culta tem sido ocluso à maior parte dos brasileiros, não pela falta de escola, instituição que teria o dever de divulgar esse “conhecimento”, mas pela desinformação de toda essa realidade por grande parte dos que são encarregados da sua transmissão de forma sistemática e organizada.

2. VARIAÇÃO LINGUÍTICA

A existência de diferentes falares, em qualquer comunidade lingüística, só é possível por causa do caráter de heterogeneidade próprio a todas as línguas. Essas variedades linguísticas entre os seres que formam a sociedade passam a ter um caráter valorativo que reflete o poder que um membro exerce sobre os demais. No entanto, para Bagno, as pessoas têm a ideia de que tal língua é homogênea por considerá-la como um tesouro e um patrimônio cultural, merecendo apenas o nome de língua um conjunto muito particular de pronúncias, de palavras e de regras gramaticais que foram cuidadosamente selecionadas para compor a norma padrão que é considerada o modelo de língua certa e de bem falar. Deste ponto de vista, Bango, diferentemente do que muitos pensam, vê a língua como uma abstração, um patrimônio imaterial e um produto sociocultural, elaborado ao longo do tempo, pelo esforço de muita gente que mostra valores específicos da comunidade que representa, agregando à expressão lingüística valores inerentes aos seus respectivos grupos sociais.

Para Bagno, todas as línguas na concepção dos sociolinguistas são heterogêneas, múltiplas, variável, instável e está sempre em desconstrução e em construção. Assim sendo, todas as variedades são do mesmo modo aceitáveis para o falante se expressar dentro de seu contexto sócio-cultural, igualmente legítima como meio de intercâmbio entre os membros da mesma comunidade. Ora, numa sociedade em que o acesso aos bens culturais exige apenas conhecimento de uma só variedade lingüística, neste caso, a culta, a língua deixa de ser apenas instrumento de interação e representação cultural, como afirma Bagno, para se tornar um instrumento de exclusão social. Bagno ainda defende a ideia de que

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