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ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI

Por:   •  17/5/2018  •  6.502 Palavras (27 Páginas)  •  362 Visualizações

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Este documento não tem nenhuma pretensão de aprofundar segura e competentemente essa crudelíssima problemática, apenas vem pontuar algumas questões tipificadoras que se encontram posicionados em algum ponto dessa curva grotesca que é a história social do jovem pobre e marginal brasileiro.

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ADOLESCENTE

“Adolescer” é um fenômeno transicional bastante intrincado na vida humana, etimologicamente, a palavra adolescência tem origem latina, provém do verbo “adolescere”, que significa brotar, fazer-se grande, dá-se por volta dos 12 anos, porém sem muito consenso quanto à exatidão do período e finda por volta dos 18 anos. Antes, tratado como mero estágio de passagem, da vida infantil, esta sem muita importância além das alegorias próprias, para a vida adulta, aonde se iniciaria verdadeiramente a operacionalização da vida social produtiva do ser humano.

O desenvolvimento de dimensões específicas dentro da antropologia, da sociologia e principalmente da psicologia, contribuiu enormemente para a construção de outro olhar sobre a juventude intermediária entre a primeira infância e a maturidade adulta. Sua caracterização geral, através dos seus ritos formativos e a identificação de marcadores bem específicos de sua plasticidade sócio-antropológica, abriu espaço para a construção gradual de um saber técnico sobre a adolescência, principalmente no que tange os marcadores psicanalíticos dos tormentos e conturbações vinculadas à emergência da sexualidade

Na Teoria do Desenvolvimento Psicossocial de Erik Erikson[1] que formulou a teoria segundo a qual as sociedades criam mecanismos institucionais que propiciam e enquadram o desenvolvimento da personalidade, o quinto estágio (dos 12 aos 18 anos) ganha contornos diferentes devido à crise psicossocial que nele acontece, numa dicotomia que se dá por Identidade Versus Confusão. Não tratemos aqui a acepção dramática da palavra “crise”, apenas pontua uma situação de coisas que se localiza com extremos positivos e negativos. Justamente nesta espécie de quinta idade é que, através dessa vertente positiva o jovem vai adquirindo uma identidade psicossocial, compreendendo as suas idiossincrasias e sua tomada necessária de papéis sociais no mundo. Naturalmente compreende um período bastante delicado na construção humana, tanto quanto o primeiro setênio, questões marcadamente atitudinais e procedimentais pautadas na construção de uma ética para consigo, com os outros e com as coisas e, por isso mesmo, um momento em que necessita de um acolhimento específico que o auxilie no desenvolvimento de uma identidade pessoal, podendo perder a referência se não encontrar respostas para as questões fundamentais que vão estruturar esse período, nas amizades, no amor, na carreira e na profissionalização.

Erikson nos apresenta um conceito bastante importante para a compreensão da mecânica social desse estágio, a moratória psicossocial, que consiste num momento de pausa necessária para o jovem, de experimentações de papéis e busca de alternativas, que auxiliará enormemente nos seus processos de elaboração interna mas que promoverá, entre outros sintomas, contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, dominada pela ação, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida, além de constantes flutuações de humor e do estado de ânimo.

Todos os estudos que daí procederam vêm ao encontro do esforço para produzir uma conceituação desnaturalizante da adolescência, retirá-la do “olhar comum” que a concebiam apenas como uma mera etapa abstrata e universal do desenvolvimento humano, carregada de preconceituações que ainda encontram eco nos dias atuais, como um estágio percebido como uma carga de dificuldades, uma fase do desenvolvimento, semi-patológica, que se apresenta carregada de conflitos "naturais". Ignora-se todo o arcabouço sócio-antropológico que dá sustentação a esta experiência cultural e que inevitavelmente vai ser o elemento chave para as problematizações psicossociais no desenrolar de sua história cognitiva e da sintomatologia geral da adolescência, que vai muito além do que a simples idéia de um momento em que a corrente sanguínea será bombardeada por hormônios que irão motivar principalmente o desabrochar para a sexualidade latente.

É de extrema importância o desenvolvimento e aplicação de um olhar panorâmico no que tange as complicações típicas ao desenvolvimento das identidades nas sociedades contemporâneas que atinge fortemente o jovem antes da finalização do seu processo de adolescer.

As dinâmicas sociais da atualidade subtraem do adolescente as possibilidades de transcorrer integralmente esse momento peculiar de construção, motivadores de origens diversas provocam uma evolução incompleta pela urgência da entrada na vida adulta, não raras vezes de maneira violenta e traumática. Mesmo sabendo que a construção identitária irá se promover pelo resto da vida, a interrupção abrupta deste proto-processo dá-se significativamente nesta fase em especial, tendo por base as representações feitas sobre nós, bem como as interações e os confrontos entre as representações que os outros fazem de nós e as que nós fazemos de nós próprios. É indispensável neste momento a identificação de pessoas semelhantes a nós para que apuremos habilidades e aptidões que nos fortaleça no processo de acomodação ao ambiente social, portanto, à crise de identidade que tende a abrir uma lacuna na construção do ser trás consigo um perfil ansioso, vazio e indeciso, respondemos com interações com pessoas significativas, selecionadas pelo nosso ego e que serão de importância fundamental na construção dos parâmetros identitários da vida adulta.

Por isso, problemas nesse processo tendem a promover profundas rachaduras na personalidade do indivíduo, inclusive em relação a uma coerente construção do eu e de uma difusão do traço identitário, responsável pela incoerente e desarticulada noção do eu, por conta de uma incompleta promoção da construção do ser provocada pela desautorização do período da moratória, bloqueada por questões diversas, sejam de ordem familiar, social ou pessoal, resultando numa curva negativa da identidade, levando-o a selecionar identidades que explicitamente possuem um padrão em desacordo com as normativas sociais e/ou familiares.

Dessa maneira, ao final do ciclo do adolescer, a grande premiação é a “identidade realizada” ou adquirida, um cômputo deveras importante na intrincada estrutura formativa do duplo caráter consciência/inconsciência, da personalidade

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