O Planejamento e Currículo
Por: YdecRupolo • 10/3/2018 • 2.819 Palavras (12 Páginas) • 331 Visualizações
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observar que a utilização do currículo tem como meta moldar essas moças aos costumes e para a realidade vigente da década de 50. Exigia-se, na sociedade norte-americana, que a mulher fosse bonita e soubesse realizar com desenvoltura os afazeres domésticos. Realidade que era propagandeado pelas revistas da época, grandes difusoras do american life. Segundo Tomaz Tadeu, há três visões de currículo. A primeira delas é o currículo tradicional, que segundo o estudioso, deveria conceber uma escola que funcionasse de forma semelhante a qualquer empresa comercial ou industrial. Sua ênfase estava voltada para a eficiência, produtividade, organização e desenvolvimento. O currículo, nessa visão, deve ser essencialmente técnico e a educação vista como um processo de moldagem. Tomaz Tadeu da Silva destaca a diferença da visão tradicional da visão libertária da educação de Paulo Freire:
Pode-se comparar, nesse aspecto, o método sugerido por Paulo Freire, com os métodos mais tradicionais, como o de Tyler, por exemplo. Tyler sugeria estudos sobre os aprendizes e sobre a vida ocupacional adulta bem como a opinião dos especialistas das diferentes disciplinas como fontes para o desenvolvimento de objetivos educacionais. Na perspectiva de Freire, é a própria experiência dos educandos que se torna a fonte primária de busca dos “temas significativos” ou “temas geradores” que vão constituir o “conteúdo programático” do currículo dos programas de educação de adultos. Freire não negra o papel dos especialistas que, interdisciplinarmente, devem organizar esses temas em unidades programáticas, mas o “conteúdo” é sempre resultado de uma pesquisa no universo experimental dos próprios educandos, os quais são também ativamente envolvidos nessa pesquisa (SILVA, 1999, p. 60-61).
Como salienta Tomaz Tadeu da Silva, Paulo Freire traz uma nova abordagem e frescor para as teorias pedagógicas ao compreender o currículo como o resultado da experiência do aluno e sua intrínseca relação como o saber. Nessa nova visão, o currículo ganharia nova importância, pois ele estaria ligado ao cotidiano do aluno. No filme, nos parece, que a professora Katharine Watson vê a educação como um ato formativo que mudaria a forma de ver a arte por parte das alunas. O que é considerado como transgressor pela gestão da escola, uma vez que a instituição tem a concepção curricular de que eles moldam as mulheres para o estilo de sociedade machista e capitalista existente na década de cinquenta.
A segunda visão sobre o currículo, a teoria crítica Busca compreender o que o currículo faz. Os estudiosos dessa vertente questionam e defendem a transformação radical do currículo e da sociedade. Na década de 60, essas teorias surgem com o intuito de questionar o status quo, visto pelos estudiosos dessa visão, como a responsável pelas injustiças sociais. Procurava-se construir uma análise que permitia conhecer não como se faz o currículo, mas compreender o que o currículo faz no seio da escola e da sociedade. posteriormente, na década de 70, aparece o movimento de reelaborar o conceito sobre o currículo, critica o currículo por considerá-lo tecnocrático. A escola, para os estudiosos dessa visão, seria uma reprodução do capitalismo, evidenciando o comprometimento da escola com os interesses da classe dominante vigente (SILVA, 1999, p. 29-30). Sobre a origem desse pensamento, o estudioso brasileiro destaca o primeiro grande passo
O agora famoso ensaio do filósofo francês Louis Althusser, A ideologia e os aparelhos ideológicos de Estado, iria fornecer as bases para as críticas marxistas da educação que se seguiriam. Particularmente, Althusser, nesse ensaio, iria fazer a importância conexão entre educação e ideologia que seria central às subsequentes teorizações críticas da educação e do currículo baseada na análise marxista da sociedade. A referência que Althusser faz à educação neste breve ensaio é bastante sumária. Essencialmente, argumenta Althusser, a permanência da sociedade capitalista depende da reprodução de seus componentes propriamente econômicos (força de trabalho, meios de produção) e da reprodução de seus componentes ideológicos. Além da continuidade das condições de sua produção material, a sociedade capitalista não se sustentaria se não houvesse mecanismos e instituições encarregadas de garantir que o status quo não fosse contestado. Isso pode ser obtido através da força ou do convencimento, da repressão ou da ideologia. O primeiro mecanismo está a cargo dos aparelhos repressivos do estado (a polícia, o judiciário); o segundo é responsabilidade dos aparelhos ideológicos de estado (a religião, a mídia, a escola, a família) (SILVA, 1999, p. 31).
No filme vê-se o impasse da professora em um contexto em que o currículo não condiz com o que ela acredita. Entretanto, como podemos observar ao comparar o filme e a descrição teórica de Silva, todos os meios estavam contra essa concepção inovadora da professora de história da arte, uma vez que com o apoio da mídia, da família e da sociedade, a educação era concebida para convencer as mulheres de que a função delas era apenas como donas de casa. Entretanto, observamos que a professora tinha uma relação interativa com suas alunas, sendo ambas são sujeitos ativas na caminhada da aprendizagem. A professora é aquela que direcionava o processo pedagógico na escola; interferia e criava condições de aprendizagem necessárias à apropriação e construção do conhecimento. O que tornou prejudicial ao sistema e, por isso, teve a sua função negada na escola. Por fim a professora, devido aos entraves da gestão escolar, muda-se para o continente Europeu para fugir das amarras de um currículo conservador e tradicionalista.
Por fim, a última visão curricular proposta pela história pedagógica, é chamada de pós-crítica. Esse movimento intelectual proclama que estamos vivendo uma nova época histórica, a pós-modernidade. Essa visão não apresenta uma coerência ou unidade, mas um conjunto variado de perspectivas, abrangendo uma diversidade de campos políticos, estéticos, epistemológicos. Em termos sociais, a pós-crítica tem como referência uma oposição: entre a modernidade – iniciada na Renascença e consolidada no Iluminismo – e a pós-modernidade iniciada em algum ponto da metade do século XX. Essa nova concepção de currículo trás novas ideias, tais como: dá ênfase a mestiçagem, o hibridismo, de culturas e estilos de vida; promove a ideia de “mudança de paradigmas”; crítica à “rigidez” da modernidade, exemplificada pelo currículo tradicional; rompe com lógica positivista, tecnocrática e racionalista; dá voz aos subalternos e excluídos de uma sistema totalizante
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