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A leitura como fonte de inclusão social dos discentes da EJA

Por:   •  25/3/2018  •  5.854 Palavras (24 Páginas)  •  395 Visualizações

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Posteriormente o país, sob a ditadura de Vargas, buscava a formação de um estado moderno nacional. Neste período, promoveu à expansão do sistema educativo, sendo de responsabilidade do governo federal a oferta do ensino gratuito, bem como a ampliação da educação e definição de diretrizes educacionais para todo o país, e seria de responsabilidade dos Estados e Municípios que o programa funcionasse.

Em 1945, após a segunda Guerra Mundial, a criação da UNESCO e da SENEA, contribuíram de forma positiva para o surgimento de discussões e implementações de ações referente à redução do analfabetismo, dando início também a campanhas voltadas para o melhoramento da educação de jovens e adultos, aperfeiçoamento profissional e ao desenvolvimento comunitário. Porém, essas campanhas foram extintas no final dos anos 1950, permanecendo apenas o supletivo, o qual foi assumido pelos governos de Estados e Municípios.

Neste período a Educação de Jovens e Adultos no Brasil ficou estagnada, passando do campo de ações para o campo das reflexões e discussões sobre o analfabetismo. O país neste momento encontrava-se em busca de um novo projeto pedagógico, então surgiu como referência os trabalhos de Paulo Freire, que passou a coordenar o “Plano Nacional de Educação de Adultos”. Para Paulo Freire era a grande oportunidade de transformar o quadro educacional no Brasil, no sentido de transformar qualitativamente a educação e não apenas quantitativamente como era a prática desenvolvida até então. O objetivo de Paulo Freire era desenvolver uma aprendizagem reflexiva, crítica e contextualizada, fazer com que o educando aprendesse não só a ler, escrever e contar, mas constituir um cidadão com formação de consciência crítica.

Com o autoritarismo do regime militar, todos os movimentos e projetos de desenvolvimento da educação, liberdade de cultura foram impedidos de funcionar, e os seus integrantes, principalmente seus líderes, foram severamente perseguidos pelos órgãos do governo federal. Paulo Freire foi preso em junho de 1964 e exilado na Bolívia, posteriormente, no Chile. Naquela época Freire procurou viver todas as possibilidades que a nova realidade poderia lhe oferecer em termos de conhecimentos e de aprendizados existencial e profissional. Segundo ele mesmo afirmava:

O exílio foi profundamente pedagógico. Quando, exilado, tomei distância do Brasil, comecei a compreender-me e a compreende-lo melhor. Foi exatamente ficando longe dele, preocupado com ele, que me perguntei sobre ele. E, ao me perguntar sobre ele, me perguntei o que fizeram com os outros brasileiros e pude me preparar para continuar fazendo algo fora do meu contexto (FREIRE, 1987, p.56)..

A concepção libertadora, característica dos primeiros anos da década de 60, foi idealizada e coordenada pelo educador Paulo Freire e trouxe a primeira grande metamorfose aos paradigmas que afiançavam a proposta metodológica da educação de adultos impulsionando, com efeito, a discussão sobre a necessidade de que se estabelecesse uma correspondência entre cidadania e educação enquanto valores complementares e concomitantes. Ribeiro avalia esta concepção diferenciada da seguinte maneira:

O paradigma pedagógico que se construiu nessas práticas baseava-se num novo entendimento da relação entre a problemática educacional e a problemática social. [...] Era preciso, portanto, que o processo educativo interferisse na estrutura social que produzia o analfabetismo. A alfabetização e a educação de base dos adultos deveriam partir sempre de um exame crítico da realidade existencial dos educandos, da identificação das origens de seus problemas e das possibilidades de superá-los. Além dessa dimensão social e política, os ideais pedagógicos que se difundiam tinham um forte componente ético, implicando um profundo comprometimento do educador com os educandos. Os analfabetos deveriam ser reconhecidos como homens e mulheres produtivos, que possuíam uma cultura(RIBEIRO, 2001.23).

Convém ressaltar que durante o regime militar a experiência de Paulo Freire foi rechaçada pelo governo brasileiro, que criou pela lei número 5.379, de 15 de Dezembro de 1967, o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização, que surgiu para dar prosseguimento às campanhas de alfabetização de adultos. A preocupação do Mobral era fazer com que os alunos aprendessem a ler e escrever, não se preocupando com a formação do homem como ser completo. Os custos para manter esse programa eram altíssimos e com a recessão econômica do período de 1980, o fim do regime militar e a Nova República, o Mobral foi extinto e em seu lugar surgiu a Fundação Educar.

Sobre ação pedagógica proposta pelo MOBRAL, esclarece que:

As orientações metodológicas e os materiais didáticos do Mobral reproduziram muitos procedimentos consagrados nas experiências do início dos anos 60, mas esvaziando-os de todo sentido crítico e problematizador. Propunha-se à alfabetização a partir de palavras-chave, retiradas “da vida simples do povo”, mas as mensagens a elas associadas apelavam sempre ao esforço individual dos adultos analfabetos para sua integração nos benefícios de uma sociedade moderna, pintada sempre de cor-de-rosa (RIBEIRO, 2001, p.26).

Com o processo de (re) democratização desfraldado no início dos anos 80, os movimentos populares, que continuavam se propagando de forma isolada, clandestina e paralela durante o período militar, voltaram a se organizar e reiniciaram suas atuações, interrompidas pelos “anos de ferro”, reanimando as concepções e ensinamentos de Freire sobre uma educação popular libertadora. A Educação para Jovens e Adultos, como modalidade passou a ganhar forças quando foi aprovada a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional LDB 9.394/96 de 20 de dezembro de 1996, determinando no artigo 11 que o Estado deverá “oferecer o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL,1996), sendo também um dever do Estado o oferecimento da educação de jovens e adultos.

Neste caso foi necessário criar uma nova modalidade de ensino paralelo ao ensino regular justamente para absorver esta clientela de trabalhadores. Portanto, é possível considerar que as políticas educacionais tornaram-se mais expressivas, mais definidas no final do século XX.

Para Paiva (1987) “o aprender por toda vida” é uma condição do mundo atual, porém a modalidade da EJA representa uma excelente possibilidade para o despertar de um cidadão reflexivo, uma vez que a EJA deve-se constituir como uma forma de ensino diferente do regular por trabalhar

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