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Serviço social

Por:   •  13/8/2017  •  2.628 Palavras (11 Páginas)  •  628 Visualizações

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As migrações para o litoral ocorriam como uma forma de escapardaquela situação caótica: perda de plantações inteiras, gado doente, pessoas famintas. Os retirantes buscavam, portanto, mais que assistência e proteção, buscavam sobrevivência. A fome gerava inúmeros conflitos entre os sertanejos que lotavam as grandes cidades. Dai inicia-se um processo de negociações, onde os retirantes pediam por comida e também por passagens para os destinos antes citados. Fugir da fome era uma necessidade vital para eles. A esta altura, a fome já se tornara parte do cotidiano de milhares de nordestinos, o que levou à migração para as cidades. O problema é que chegar ao litoral não era garantia de melhorias: muitos dos sertanejos acabaram por morrer de fome nas ruas das grandes cidades.

Secreto cita que no Ceará houve um aumento dos mecanismos de controle e regulação da circulação. É importante salientar que estes mecanismos eram aplicáveis à população pobre-livre. Havia, então, o projeto de suspenção da ociosidade. Aqueles que fossem ociosos eram tidos como marginais, delinquentes. Ou o homem vendia sua força de trabalho ou viveria “cliente/dependente” de um senhor local. Todo esse processo gerava duas importantes dimensões: A obrigatoriedade do trabalho e a revisão dos conceitos da ética do trabalho.

Era notório, no Nordeste, o fenômenos da sazonalidade. Os sertanejos migravam para o litoral nas épocas de seca e retornavam ao sertão com a volta das chuvas. Esse fenômeno gerou discussões acerca da falta ou não de mão-de-obra. No Congresso Agrícola do Rio de Janeiro, afirmava-se a escassez de mão de obra, enquanto no Congresso ocorrido em Recife se falava numa falta relativa. Secreto traz, então, o tema central de várias discussões: trabalhar para si e trabalhar para o outro. O retorno ao sertão mostra a negativa dos sertanejos ao trabalhar para o outro.

Quando se falou em falta relativa de mão-de-obra no congresso ocorrido em Recife, se falava principalmente dos sertanejos despossuídos de terras. Estes, portanto, constituíam mão-de-obra para os proprietários de terras. Para absorver essa mão-de-obra, o congresso sugeriu uma série de medidas que coagissem (para não dizer ‘obrigassem’) a adentrarem nas lavouras,

Em São Paulo, o presidente da província falou pela primeira vez nas vantagens da mão-de-obra nacional: gerava os mesmos custos, geraria o advento de mais trabalhadores. Sem contar que estes, por serem fugitivos das secas, eram mais fáceis de manobrar. É a partir dai que o Nordeste encara o papel de “fornecedor de mão-de-obra” para São Paulo e Amazonas.

A emigração deveria ocorrer apenas quando esgotadas todas as possibilidades de reter os trabalhadores em seu território (possibilidades estas que muitas vezes não eram levadas em consideração pelas províncias, que preferiam “se livrar” dessa população em excesso). A solução encontrada na província cearense foi alocar esses trabalhadores em obras públicas, tais como: limpeza das ruas, obras de calçamento, construção de prédios públicos etc. O problema dessa solução é que não havia postos de trabalho suficientes.

Os emigrantes que não eram automaticamente enviados pelos governos para outras províncias podiam, ainda, enviar cartas de solicitação. De acordo com o arquivo do estado do Ceará, a maioria dessas cartar pediam passagens para os portos do Norte e Nordeste.

Secreto aponta que houve, no final do século XIX, uma forte tensão entre excesso e falta de mão-de-obra. São Paulo e Amazonas demandavam cada vez mais trabalhadores. O Ceará, entretanto, sofria com excesso de pessoas e falta de recursos. Como forma de solucionar o problema da superlotação, foi criado o Campo do Alagadiço (o mais famoso campo de concentração), um verdadeiro depósito de pessoas, um lugar de disseminação de doenças. Lá, inúmeros retirantes acabaram morrendo.

Dentro do contexto da seca, havia uma problemática que existe ainda hoje sob novas roupagens: os fugidos da seca aceitavam trabalhar por qualquer salário nos canaviais de Pernambuco, gerando, portanto, a super-exploração do trabalho humano.

Como já citado, muitos nordestinos tinham como destino a Amazônia. Um dos fatores que propiciou essa migração foi o período de ouro da borracha, que se deu no final do século XIX, coincidindo com mais um período de seca no Nordeste. Esta foi, portanto, mais uma oportunidade de fugir da miséria e enriquecer. Em 1915 (seca do 15), porém, a Amazônia sofreu uma grande queda na produção da borracha e posterior perda do monopólio para a Ásia.

Em 1942, entretanto, mais trabalhadores foram deslocados para a Amazônia, processo este que foi possível em decorrência de mais uma seca, dessa vez mais branda. O governo Vargas assinou acordos com Washington, garantindo a produção de borracha para os países aliados. A indústria bélica, com a guerra, demandou cada vez mais a produção de borracha, gerando, assim, urgência no recrutamento de trabalhadores. Para isso, a Coordenação da Mobilização e Economia criou o Serviço Especial de Mobilização de Trabalho para a Amazônia (SEMTA) e o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) visando o saneamento da região do Vale do Rio Doce.

Considerações Finais

O movimento migratório deve ser compreendido não apenas como uma forma de fugir das secas e da natureza “hostil” e “adversa”. Tal mobilidade foi provocada por um sistema que marginalizava os homens livres pobres, uma vez que, apenas eram aproveitados, residualmente, pelo monopólio da propriedade da terra, pelo grande latifúndio e pela presença da mão-de-obra escrava. Migrar seria, em última instância, dizer não à situação em que se vivia, não conformar-se a ela, resgatando sonhos e esperanças de uma vida melhor ou mesmo diferente. Migrar pode ser entendido como estratégia não só para minimizar as penúrias do cotidiano, a fome, a miséria, as epidemias, mas também para buscar um lugar social onde se pudesse driblar o sistema excludente pretendido pelas elites brasileiras. Para superar uma violência que se entrelaçava ao mando local e aos recrutamentos forçados, que permitia contornar a posse desigual das terras, dos latifúndios, fugir desse cenário que inviabilizava o sobreviver apresentava-se como uma das alternativas mais viáveis.

Situar os processos migratórios como decorrentes das secas, construindo a imagem de uma região e de uma natureza hostil, adversa e imutável, seria lançar mão de idéias deterministas, em que a geografia e o meio ambiente são colocados como responsáveis pelos maiores problemas dessa sociedade.

Segundo

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