O Que é Literatura
Por: Lidieisa • 30/8/2018 • 1.543 Palavras (7 Páginas) • 315 Visualizações
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Infelizmente essa definição ainda inclui problemas. Um exemplo seria George Orwell surpreso ao saber que seus ensaios devem ser lidos como se os tópicos examinados por ele fossem menos importantes do que a forma, a maneira pela qual os examinou. Grande parte daquilo que é considerado literatura tem um valor verídico e a relevância prática do que é dito é considerado importante para o efeito geral. Então, considerando que o discurso “não pragmático” é parte do que se entende por literatura, segue-se dessa “definição” que a literatura não pode ser definida de forma objetiva. A definição fica dependendo da maneira de quem a resolve ler, e não da natureza daquilo que é lido. Posso ler um livro que descreve sobre o império Romano não porque ela me trará informações confiáveis sobre a Roma antiga, mas porque gosto do estilo de prosa do livro que o escritor possui. Eagleton afirma que alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de literários, e a outros tal condição é imposta. Ou seja, a produção do texto é mais importante do que o seu nascimento. Nem a origem, mas o modo que as pessoas o consideram. Se elas decidem que é literatura, o texto será literatura. Isso tenta explicar o porquê de certas obras serem consideradas literatura.
Eagleton descreve outra definição de literatura: como um tipo de escrita altamente valorizada. Entretanto, tem uma consequência bastante devastadora, pois pode significar que podemos abandonar a ilusão de que a categoria “literatura” é “objetiva”, no sentido de ser eterna. Qualquer coisa pode ser literatura, logo inalterável e inquestionavelmente pode deixar de ser (Shakespeare).
O fato de sempre interpretarmos as obras literárias à luz de nossos próprios interesses – talvez por sermos incapazes de interpretá-las de outra maneira – poderia ser uma das razões pelas quais certas obras literárias parecem conservar seu valor através dos séculos. “Valor” é um termo que significa tudo aquilo que é considerado como valioso por certas pessoas em situações específicas, de acordo com critérios específicos e à luz de determinados objetivos. O nosso “Homero” não é igual ao Homero da Idade Média, por exemplo. Todas as obras literárias são “reescritas” pelas sociedades que as leem e não há releitura de uma obra que não seja “reescritura”.
E para finalizar, Eagleton conclui que a literatura não existe da mesma maneira que os insetos e que os juízos de valor que a constituem são historicamente vulneráveis, mas que esses juízos têm, eles próprios, uma estreita relação com as ideologias sociais. Eles se referem, em última análise, não apenas ao gosto particular mas aos pressupostos pelos quais certos grupos sociais exercem e mantêm o poder sobre outros.
REFERÊNCIA
Leitura: EAGLETON, Terry. What is Literature? In: _ __ . Literary Theory: an Introduction. 2. ed. Malden: Blackwell, 1996. p. 1-14.
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