Uma Leitura Pós-Moderna da Obra de Renato Russo
Por: Sara • 31/12/2017 • 19.582 Palavras (79 Páginas) • 528 Visualizações
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Palavras-chave: Renato Russo, Legião Urbana, Pós-moderno, Pós-modernidade.
ABSTRACT
This work aims at demonstrating the importance of Renato Russo’s work, both as a Singer and composer, in the rock’n roll band Legião Urbana in a post-modern context, where the subjects are fragmented in a pluralist society; this society underwent many transformations in the twentieth and twenty-first centuries, affecting many of its sectors. These changes reflect on politics, economy, literature, music and arts in general. In this context the Legião Urbana emerged and its work became a reference for contemporary art. Thus, the work of Renato Russo will be analyzed through a post-modern perspective, departing from the construction of a poetic identity, the fragmentation of contemporary society e the emergence of marginal voices. To carry out this research, many works of post-modern theoreticians were used, such as Linda Hutcheon, Perry Anderson, Steven Connor, David Harvey, Zigmunt Bauman, Stuart Hall, among others, as well as specific books about Renato Russo’s life and works. All those works will help us establish a parallel between post-modern questions and Russo’s poetics.
Keywords: Renato Russo, Legião Urbana, Post-modern.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
I. O MUNDO PÓS-MODERNO 11
II. RENATO RUSSO, UM ARTISTA PÓS-MODERNO 14
III. O SUJEITO PÓS-MODERNO NA OBRA DE RENATO RUSSO 22
IV. A SOCIEDADE PÓS-MODERNA NA OBRA DE RENATO RUSSO 42
V. O MARGINAL E A VOZ DAS MINORIAS NA OBRA DE RENATO RUSSO 52
VI. O FEMINISMO NA OBRA DE RENATO RUSSO 64
VII. HIPER-REAL, HIBRIDISMO, METONÍMIA E PARÓDIA EM “FAROESTE CABOCLO” 70
CONCLUSÃO 77
BIBLIOGRAFIA 78
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INTRODUÇÃO
A poesia de Renato Russo – nascido em Brasília e tendo vivido sua adolescência no período da ditadura militar – ganha força e significado em meio às insatisfações existenciais e sociais, compondo verdadeiras odes ao mundo pós-moderno.
Com uma obra concisa e intensa, à frente do grupo musical de rock'n'roll Legião Urbana, que teve um início punk e depois pós-punk, com referências folk, ligadas à cultura popular, e pop[1] (um hibridismo sonoro característico do pós-modernismo), Renato Russo tornou-se ícone de uma geração perdida e sem ideais, que encontrou em suas letras uma válvula de escape para suas insatisfações.
É importante ressaltar que, segundo o pensador Steven Connor, “o rock é a forma cultural pós-moderna mais representativa”, pois vemos nele pluralidades de estilos, de mídia e de identidades étnicas, apresentando ainda as identidades daqueles que estão à margem (CONNOR, 1992, p.151).
As angústias do ser humano diante desse mundo, a AIDS, o desemprego, a situação sócio-político-econômica, as questões de gênero e orientação sexual tornam-se trilha-sonora do caos pós-moderno. Renato cantou esse mundo em seus discos, sendo assim a voz do marginal na sociedade.
Diante disso – confirmando a relevância da obra de Renato Russo e de sua figura diante da juventude brasileira como líder, porta-voz e contestador – o presente trabalho pretende mostrar que suas letras são fortemente influenciadas pelo mundo pós-moderno, com suas fragmentações e descentralizações. Veremos ainda como Renato constrói a sua identidade poética, no decorrer de toda a sua obra, reflexo do sujeito pós-moderno descentrado. Além disso, analisaremos a maneira como ele cantou a sociedade pós-moderna, sendo o herói marginal de uma geração, dando voz e vez às minorias a partir dos vários “eus” que aparecem no decorrer de toda a obra.
Na verdade, estamos dando continuidade à pesquisa que teve início em 2008, quando, na conclusão da graduação em Letras pela Universidade Severino Sombra, foi apresentado o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre a poética de Renato Russo. Agora será dada continuidade sobre a pesquisa da obra do poeta contemporâneo.
Percebendo como as letras do artista abrem-nos diversas opções de pesquisa no mundo lítero-musical, afirmamos que tal obra não deve ser ignorada. Ouvi-la, lê-la e analisá-la torna-se mais uma ferramenta para entender esse mundo em que vivemos, compreendendo o pós-modernismo como um movimento legítimo e utilizado por todos os segmentos da arte, de uma forma especial a música jovem.
I. O MUNDO PÓS-MODERNO
O pós-modernismo é uma realidade em nosso mundo; tal afirmação pode ser percebida diante das muitas formas pelas quais a arte se expressa nesse estilo, que correspondem às várias faces de uma sociedade multicultural. Tal configuração da arte apresenta-nos relevantes mudanças na cultura e na sociedade do mundo contemporâneo. Diante das diversas transformações ocorridas no século XX, percebemos claramente que o ser humano e o mundo estão fragmentados e descentralizados diante de tal sociedade pluralizada.
Diante desse homem fragmentado e descentrado, Hutcheon aborda a questão da identidade do sujeito pós-moderno, lembrando que “na teoria psicanalítica, filosófica e literária do pós-modernismo, a nova descentralização do sujeito e de sua busca no sentido da individualidade e da autenticidade teve importantes repercussões sobre tudo, desde nosso conceito de racionalidade até nossa visão das possibilidades de gênero” (HUTCHEON, 1988, p.85).
Assim sendo, podermos afirmar que o homem pós-moderno mostra-se pessimista diante das mudanças causadas pela industrialização na sociedade. Tudo passa a ter um sentido utilitarista (reflexo da desumanização e reificação) e faz desse homem um ser frustrado e sem esperanças de futuro. No meio de uma crise (social e de valores), lançamo-nos a um desenfreado consumismo; a televisão e o carro tornam-se membros da família; o capitalismo torna-se multinacional. No meio de tudo isso, grupos de defesa das minorias lutam por seus direitos: mulheres, homossexuais, negros, indígenas entre outros (PROENÇA FILHO, 1988, p.34-38).
Dessa
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