Literatura e Música
Por: Sara • 24/1/2018 • 2.687 Palavras (11 Páginas) • 327 Visualizações
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Neste estudo, pretendemos refletir sobre a união mais recente que ocorreu entre a poesia e a música no Brasil, enfocando, especialmente Luiz Gonzaga que com suas músicas cantou o sertão nordestino. Luiz Gonzaga do Nascimento, conhecido como o Rei do Baião, nasceu em Exu, 13 de dezembro de 1912 e faleceu em Recife, em 2 de agosto de 1989, foi um importante compositor e cantor popular brasileiro. Foi uma das mais importantes e figuras da música popular brasileira. Acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou o forró pé-de-serra, e também a pobreza, as tristezas e as injustiças do sertão nordestino para o resto do país, que difundiu o baião, o xote e o xaxado numa época em que a maioria das pessoas desconheciam essas categorias musicais.
Luiz Gonzaga do Nascimento cantou com muita originalidade a cultura nordestina. Por sua voz, difundiu o sertão e a relação desses com a cidade grande, a política e a economia da sociedade brasileira. O mestre da música cantou os problemas sociais do nordeste dentro e fora do Brasil, registrou os valores culturais relacionados à identidade nordestina e contribuiu com o enriquecimento da cultura brasileira. Pelo quadro da época, registrado nas músicas, o sanfoneiro ganhou reconhecimento e fama, após superar as dificuldades econômicas e as resistências de alguns artistas do rádio, até então no auge como difusores culturais e artísticos.
Dividindo letras e melodias com parceiros como José Dantas de Sousa Filho, Humberto Teixeira, entre outros, narrou as condições de vida, as alegrias, as tristezas, as paisagens, a seca, a fé, as festas, as danças, as despedidas, os retornos, a saudade, homenageou seu pai, Januário, os amores, a migração, e os “cabras da peste” nordestino. “Gonzaga e seus diversos parceiros fizeram mais do que “aproveitar o sertão””. (SOUZA, 1983).
O Rei do Baião também fez parceria com o poeta Patativa do Assaré. Patativa tornou-se uma das principais figuras da poesia e da música nordestina, apesar de ter gravado apenas três música. com uma linguagem simples, porém muito poética ele difundiu a cultura popular, voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino. Em 1964, Gonzaga ver Assaré recitar o poema A triste partida, impressionado com os versos, decidiu musicá-los. E em 1965 gravou a música, e tornou um dos maiores sucessos do Rei do Baião e que levou o nome do poeta ao conhecimento nacional e foi à primeira composição de Assaré a se gravada. A composição relatava as agruras do nordestino diante da seca, tendo que abandonar sua terra para trabalhar no sul.
Toda a produção de Luiz Gonzaga baseia-se em um espaço poético e nordestino cantando essa região do Brasil assolada por uma série de hostilidades naturais e de desigualdades sociais, políticas e econômicas e que encontra na religiosidade um reduto de fé e de esperança na possibilidade de transformar a sua história.
Quando temos acesso às músicas de Luiz Gonzaga o que chama atenção é a adoção da “linguagem do Nordeste” e é com essa linguagem que ele cantou Brasil a fora. Gonzaga não toma para si uma norma culta para poder ser aceito e bem entendido, ao invés, submete seu interlocutor à adoção de uma língua muitas vezes estereotipada e desvalorizada por representar a decadência e o subdesenvolvimento do povo que fica a margem da sociedade. “Oiei? Quá? Vortá? Prantação? Muita gente estranha, mas esses versos foram escritos e publicados assim mesmo, intencionalmente. Reproduzem a linguagem popular do homem da roça, mostram a diversidade linguística da região”, (PIMENTEL, 2007).
O uso das variantes típicas dos falares nordestinos, Gonzaga valorizar a linguagem nordestina, ele procura valorizar o “ser nordestino” e sua cultura. Com esse linguajar próprio do Nordeste, o Rei do Baião, assume também uma série de imagens que descrevem, definem e defendem o nordeste.
Meu Deus, meu Deus...
Setembro passou / com Oitubro e Novembro / Já tamo em Dezembro / Meu Deus, que é de nós, / Meu Deus, meu Deus / Assim fala o pobre / Do seco Nordeste / Com medo da peste / Da fome feroz / Ai, ai, ai, ai.
Já nos versos iniciais Luiz Gonzaga nos apresenta o sujeito nordestino “assim fala o pobre do seco Nordeste”, podemos ver as marcas da identidade do nordeste a pobreza e a secura.
Setembro passou/ com Oitubro e Novembro/ Já tamo em Dezembro/ Meu Deus, que é de nós”, esses versos, se refere a questão da seca, e a o conhecimento popular, setembro é o último mês de chuva de inverno no Nordeste, se não há chuva até esse mês, então haverá uma seca prolongada, portanto passado setembro, pode esperar apenas chuvas passageiras e irregulares de verão.
Tanto música como o poema A triste partida, antes de ser música e poema é uma oração. Nessa oração, apresentam a Deus os medos “Com medo da peste/ Da fome feroz” e as dores “Ai, ai, ai, ai” do povo nordestino.
A treze do mês / Ele fez experiênça / Perdeu sua crença / Nas pedra de sá, / Meu Deus, meu Deus / Mas noutra esperança / Com gosto se agarra / Pensando na barra / Do alegre Natá / Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natá / Porém barra não veio / O sol bem vermeio / Nasceu muito além / Meu Deus, meu Deus / Na copa da mata / Buzina a cigarra / Ninguém vê a barra / Pois barra não tem / Ai, ai, ai, ai.
Nesses versos, poeta refere-se às crenças de seu povo, sua fé, sua religiosidade, para prever a secura ou a fartura do ano seguinte, ao se referir ao dia treze do mês, ele faz alusão ao dia Santa Luzia 13 de dezembro e o dia de Natal 25 de dezembro que quando o povo nordestino faz experiência para prever chuva. E são varias experiências ou simpatias como algumas pessoas nomeiam, para prever a chuva como o vento norte o movimento das nuvens o canto da cigarra, as pedras de sal etc, justificam e fundamentam a previsibilidade do tempo.
Sem alternativas nem esperanças, o nordestino parte para São Paulo, e a partir desse momento, a música passa a retratar desde a tomada de decisão em partir até a chegada à metrópole.
Agora pensando / Ele segue ôtra tria / Chamando a famia / Começa a dizer / Meu Deus, meu Deus / Eu vendo meu burro / Meu jegue e o cavalo / Nóis vamo a São Palo / Vivê ou morrê / Ai, ai, ai, ai
Nóis vamo a São Palo / Que a coisa tá feia / Por terras aléia / Nós vamos vagar / Meu Deus, meu Deus / Se o nosso destino / Não for tão mesquinho / Ai pro mesmo cantinho / Nós torna a voltar / Ai, ai, ai, ai
E vende seu burro / Jumento e o cavalo / Inté mesmo o galo / Vendêro também / Meu Deus, meu Deus / Pois
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