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Aula de Roland Barthaes

Por:   •  14/2/2018  •  1.277 Palavras (6 Páginas)  •  351 Visualizações

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Na segunda força, a Mimesis, há a força de representação. Essa força existe, pois desde os tempos antigos até as tentativas da vanguarda, a literatura se afaina na representação de alguma coisa. O que é real não é algo representável, mas demonstrável, e é porque os homens querem constantemente representá-lo por palavras que existe uma história na literatura.

O fato do real não ser representável define-o como algo que não pode ser atingido e escapa ao discurso. Em termos topológicos, não se pode fazer coincidir uma ordem pluridimensional o real, e uma ordem unidimensional a linguagem.

A falta de paralelismo entre o real e a linguagem não é algo com que o homem se conforma e essa recusa, talvez tão velha quanto a própria linguagem, é o que produz a literatura.

Já a terceira força da literatura, sua força propriamente semiótica, pode-se dizer que consiste em jogar com os signos em vez de destruí-los, em coloca-los em uma maquinaria de linguagem cujos breques e travas de segurança arrebentam, em suma, em instituir no próprio seio da linguagem servil uma verdadeira heteronímia das coisas.

Por seus conceitos operatórios, a semiologia, que se pode definir canonicamente como a ciência dos signos, saiu da linguística. Porém a linguística, que por excesso de ascese, quer por excesso de fome, escarnificada ou empanzinada, se descontrói e é exatamente a essa desconstrução que o autor chama de semiologia.

A semiologia de que fala Barthes é ao mesmo tempo negativa e ativa. A semiologia proposta no texto é negativa, apofática; não porque ela negue o signo, mas porque nega que seja possível atribuir-lhe caracteres positivos, fixos, a-históricos, a-corpóreos, em suma: científicos.

Segundo o autor, esse apofatismo acarreta duas consequências que interessam diretamente ao ensino da semiologia:

- De que não pode ser ela própria uma metalinguagem. É precisamente ao refletir sobre o signo que ela descobre que toda relação de exterioridade de uma linguagem com respeito a outra é, com o passar do tempo, insustentável: o tempo desgasta meu poder de distância;

- A de que ela tem uma relação com a ciência, mas não é uma disciplina. Trata-se de uma relação anciliar, onde ela pode ajudar certas ciências.

Em outras palavras, podemos concluir que a semiologia não é uma chave; ela não permite apreender diretamente o real, ela busca antes soerguê-lo, em certos pontos e em certos momentos e diz que esses efeitos de solevamento do real são possíveis sem chave: aliás, é quando ela deseja ser uma chave que ela não desvenda coisa alguma.

Barthes, ao fundamentar-se na semiologia, expressa o desejo de renovar a forma de ensinar de forma que, ao apresentar a aula ou seminário, ele possa manter um discurso sem o impor, pois o que pode ser opressivo em um ensino não é o saber ou a cultura que ele veicula, mas sim as formas discursivas através das quais ele é proposto.

Por fim o autor faz uma reflexão da própria vida e da tuberculose que teve em 1942 e chaga à conclusão de que seu próprio corpo era histórico, mas que para viver ele deve esquecer-se disso, devendo lançar-se na ilusão de que é contemporâneo dos jovens corpos (presente) e não de seu próprio corpo (passado).

Em síntese: periodicamente devo renascer e fazer-me mais jovem do que sou. Revela ainda haver uma idade em que se ensina o que se sabe, mas em seguida vem outra em que se ensina o que não se sabe, a isso chamamos pesquisa.

Em sequência, há de se chegar à idade de desaprender, de deixar de trabalhar o remanejamento imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas e das crenças.

A essas experiências podemos chamar Sapientia, que significa nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível.

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