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Analise do livro o Cortiço

Por:   •  25/1/2018  •  2.134 Palavras (9 Páginas)  •  451 Visualizações

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O cortiço era um perigo porque colocava em contato o pior componente racial do Brasil com o imigrante que vinha curar as mazelas sociais herdadas geneticamente.

Classes pobres, classes perigosas

“Os pobres carregam os vícios, os vícios produzem os malfeitores, os malfeitores são perigosos à sociedade; juntando os extremos da cadeia temos a noção de que os pobres são, por definição, perigosos.” [2]

Entretanto não são apenas os negros que aparecem desvirtuados neste livro. O Homem branco português também é caracterizado como um indivíduo cheio de deformidades assim como os italianos. Logo, apesar de expor a “inferioridade” da “raça negra” essa não é a questão principal de Azevedo.

O conceito de classes perigosas pode ser utilizado para compreender em que universo o autor reúne as personalidades do romance. Neste ponto gostaria de incluir um outro personagem que me parece ser o principal da trama. Todos os outros tem suas histórias contadas ao longo do enredo ora assumindo destaque, ora saindo do palco para que outras biografias se desenvolvam, a um contudo que permanece na cena ou na atmosfera ideológica do personagem e se constitui como o problema central da narrativa. O cortiço. Esse seria um perigo, um lugar que degreda o ser humano. É repleto de vícios de todos os tipos e de todos os pecados, onde até o mais íntegro homem é corrompido. Temos como exemplo o Jerônimo que a principio destoa tanto daquele lugar que os vizinhos logo o tem como um pessoa importante que vale mais do que todos eles.

Ele era “perseverante, observador e dotado de certa habilidade” tão dedicado ao serviço que logo “se tornou tão bom como os melhores trabalhadores”. Mas ele não era assim só pelas suas habilidades, mas principalmente pela “grande seriedade de seu caráter”, “era homem de uma honestidade a toda prova”. Apesar de tudo isso, após um tempo vivendo no cortiço o português, sob influência de uma “mulata volúvel”, caiu no vício da luxúria. Passou a tomar aguardente e trocou a culinária da terra pelo feijão, a farinha de mandioca e a carne seca. Não tardou em abandonar a mulher e a filha para ir morar com a Rita, a mulata que o degenerou e o transformou inclusive em um assassino pois para ficar com ela ele deu cabo de seu amante, o capoeira Firmo.

“O português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigo das extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espírito da economia e da ordem; perdeu a esperança de enriquecer, e deu-se todo, todo inteiro, à felicidade de possuir a mulata e ser possuído só por ela, só ela, e mais ninguém.

A morte do Firmo não vinha nunca a toldar-lhes o gozo da vida; quer ele, quer a amiga, achavam a coisa muito natural.” (Azevedo, 2012. Pp 189)

Mesmo ao encontrar com a esposa e ser acometido de um ímpeto de remorso ao perceber quão longe havia ido, depois de ver sua filha prestes a ser expulsa do colégio por não pagamento das mensalidades e a mulher com quem dividiu sua vida com uma aparência “avelhantada, de peles vazias, de cabelos sujos e encanecidos” o poder que o vício da mulata tinha sobre ele não lhe deixou voltar a trás emm suas escolhas.

“Entretanto, Jerônimo não mandou saldar a conta do colégio, no dia seguinte, nem no outro, nem durante todo o resto do mês; e ele, coitado! bem que se mortificou por isso; mas onde ia buscar dinheiro naquela ocasião? o seu trabalho mal lhe dava agora para viver junto com a mulata; estava já alcançado nos seus ordenados e devia ao padeiro e ao homem da venda. Rita era desperdiçada e amiga de gastar à larga; não podia passar sem uns tantos regalos de barriga e gostava de fazer presentes. Ele, receoso de contrariá-la e quebrar o ovo da sua paz, até ai tão completo com respeito à baiana, subordinava-se calado e afetando até satisfação; no intimo, porém, o infeliz sofria deveras. A lembrança constante da filha e da mulher apoquentava-o com pontas de remorso, que dia a dia alastravam na sua consciência, à proporção que esta ia acordando daquela cegueira. O desgraçado sentia e compreendia perfeitamente todo o mal da sua conduta; mas só a idéia de separar-se da amante punha-lhe logo o sangue doido e apagava-se-lhe de novo a luz dos raciocínios. "Não! não!! tudo que quisessem, menos isso!"

E então, para fugir àquela voz irrefutável, que estava sempre a serrazinar dentro dele, bebia em camaradagem com os companheiros e habituara-se, dentro em pouco, à embriaguez. Quando Piedade, quinze dias depois da sua primeira visita, tornou lá, um domingo, acompanhada pela filha, encontrou-o bêbedo, numa roda de amigos.”

(Azevedo, 2012. Pp 192)

Todos os tipos de degredo humano são descritos nesse local. A loucura, a tendência ao crime e todos os pecados capitais. Lugar onde fecundam o crime. Roubos, assassinatos e incêndios criminosos aparecem no livro como sendo acontecimentos corriqueiros. Temos o caso da personagem Marciana. Ao falar da loucura que a acometeu o autor sugere que esta após enlouquecer teria de alguma forma influenciado uma outra moradora a desenvolver a mesma doença. “Bruxa, por influência sugestiva da loucura de Marciana, pirou de juízo e tentou incendiar o cortiço.” Neste ângulo o cortiço é interpretado pelo autor como um risco à moral da boa sociedade. Não é apenas a questão da sujeira e da propensão a propagação de doenças. Ele é perigo a moral humana. Ele é o lugar que reúne todos os elementos que são danosos à sociedade inclusive o imigrante indesejado.

O imigrante indesejado.

“o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego” (Azevedo, 2012. Pp 17)

É preciso considerar o antilusitanismo presente no período e no romance. O imigrante português era apontado como um dos elementos indesejados no Brasil que se pretendia construir aos moldes da modernidade francesa. Ele era um dos símbolos do atraso. O romance conta a história de como os portugueses também corrompem a moral nacional, pois o cortiço surgiu da soma da ganância do português com a ingenuidades do cafuso. João Romão, pretendendo “fazer a américa no Brasil” se aproveita de Bertoleza, uma escrava

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