A Construção do Mito e Herói Lula no período de seu governo (2003-2010)
Por: SonSolimar • 17/5/2018 • 5.536 Palavras (23 Páginas) • 499 Visualizações
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Essa proximidade entre ficção e história nos revela uma fronteira, onde temos a relação entre história e literatura. Durante o Renascimento, tais áreas eram campos próximos de conhecimento. “... na ausência de uma metodologia de trabalho do historiador, o “jeito” de contar a história era sempre como relato das aventuras dos povos, nações ou heróis.” (SEFFNER, 1998, p. 197). Desta maneira, para esta lacuna de aparatos havia uma saída, a narração da história em uma expressão similar à literatura. A partir do Iluminismo, o cenário se altera. Novas técnicas e teorias foram desenvolvidas. Surgiram escolas de pensamentos voltadas para as complexidades das relações sociais e descobertas de estruturas econômicas, políticas e ideológicas. Foi neste contexto onde a história começa a ser construída como uma disciplina isolada. Através de todos esses aprimoramentos da história, foi possível enquadrar historicamente a figura do herói. Deste modo, é possível evitar exageros como, por exemplo, que o herói fez tudo sozinho, pois é necessário reconhecer que há outros sujeitos que também participam da narrativa de um herói.
A Narrativa é o principal meio que possibilita a chegada da História aos livros e à sala de aula, assim também como acontece com a Literatura. Cronologia, personagens, sucessão, sincronia e diacronia são algumas características que formam a Narrativa, e estas estão presentes também na narrativa histórica. Diante disso, o desafio do professor em sala de aula é conseguir esclarecer aos estudantes o que está além desta narrativa pronta, estruturada, enumerada, e organizada com os episódios e personagens presentes nos livros didáticos de História. Faz-se necessário instigar a criticidade dos estudantes para que possam pensar sobre os lugares ocupados e as ênfases dos personagens históricos.
Fernando Seffner no texto Mitos e heróis construção de imaginários cita duas pesquisas realizadas pelas professoras Nadai (1984) e Miceli (1991) com turmas de séries do 5° a 3° ano do segundo grau, concluíram que em todas as idades há na fala das crianças e do adolescentes o destaque a um personagem geralmente atribuída ao heroísmo. A Partir desta conclusão podemos perceber que este lugar de destaque existe como fato comprovado, caberá ao orientador emergir alguns direcionamentos ligados à questões que problematizam alguns silêncios, ou ausências na História como por exemplo, porque a grande maioria de personagens heróicos pertencem ao gênero masculino? Porque são raras estatuas de mulheres nos monumentos que prestam homenagens personagens? Onde estão os negros e as negras na história da política? Questões como estas poderão aguçar a percepção dos orientandos no sentido de enxergarem que existe um padrão a qual pertencem os grandes heróis: pensadores, políticos, religiosos, artistas. Entre outras esferas da sociedade. Atividades que desenvolvam o senso de cidadania dos educandos são imprescindíveis para sensibilizá-los a compreender o contexto social no qual estão inseridos, e para que percebam o poder carregado pela História enquanto ciência.
O diálogo sobre a ação fomentadora da mídia e as disputas e relações de poder que ocupam a arena da história são importantes no sentido de auxiliá-los a analisar as várias faces que envolvem uma única narrativa, ou os grandes nomes da História. Assim como há um grupo pequeno de pessoas que decidem e selecionam quais heróis estarão presentes nos livros didáticos, também existe na grande mídia jornalista, ou publicitária, um jogo de estratégias que elegem ou não algumas figuras para uma rede de interesses políticos, mercantilistas, entre outros. Geralmente os mecanismos destes meios utilizam-se da linguagem apelativa e, sobretudo adjetiva de neologismos que pretendem construir o imaginários, estes mesmos meios têm o poder de construir ou destruir figuras, a exemplos citaremos alguns grandes nomes que foram construídos por meio da especulação midiática ou por grandes empresas de consumo. No esporte, mais especificamente no futebol nós poderíamos citar inúmeros nomes que ainda estão presentes na memória ou imaginário coletivo e que tiveram um grande apoio midiático, inclusive pela publicidade como o Rei Pelé, Ronaldo fenômeno ou um ídolo mais atual Neymar Júnior. Na religião, outros nomes também se destacam, e por vezes estão presentes na mídia comercial, padre Marcelo Rossi. Na política, o nosso objeto de pesquisa é um bom exemplo no que se refere a trabalho e ações de construção do simbolismo heróico, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Mas nesta área são incontáveis figuras que estiveram neste processo de discurso de construção. Um ponto que sobressalta nesta construção é a blindagem que contorna a representação trabalhada pelos meios midiáticos que chegam principalmente às massas. Para Seffner uma das maiores fábricas de heróis são as ditaduras, os regimes totalitários. As proposições para os professores de História que se vêem nestas difíceis situações, são de realizar atividades extracurriculares que envolvam questões como nomes de praças ruas e avenidas. Ou com oficinas expondo personagens e histórias que não estão inclusas nos livros didáticos, e assim discutir relações de gênero, sexualidade, religiosidade. Utilizar a ditadura militar brasileira para exemplificar como este tipo de política se apropria para manipular imaginários e posicionar uma figura heroica que transite entre o divino e o real, a ficção e a dimensão terrena.
A disputa por memória se estabelece através de narrativas que entrelaçadas compõem o que é de fato relevante no que diz respeito à construção de uma memória individual na teia de memórias coletivas. Nessa disputa de narrativas o que realmente importa é a relevância e a capacidade de convencimento que determinada narrativa exerce sobre o sujeito, sem contar também o contexto temporal em que é produzida.
Em nosso contexto atual, considerando a imagem como elemento fundamental de convencimento, filmes são de fato importantes ferramentas na construção e estabelecimento de uma disputa de memória. Dentro do recorte estabelecido pelo grupo, duas produções foram analisadas no sentido de serem ferramentas de construção de memória envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. O primeiro deles foi o filme Lula, o Filho do Brasil, direção de Fábio Barreto, lançado em 2010.
A problemática envolvendo construção de memória que perpassa a narrativa Lula, o Filho do Brasil se torna possível se levarmos em conta o contexto temporal em que o filme é lançado: janeiro de 2010, ano do fim do recorte estabelecido pela equipe e último ano do segundo mandato do então presidente,
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