Os movimentos de Vanguarda Européia em confluência no Brasil
Por: eduardamaia17 • 12/5/2018 • 1.869 Palavras (8 Páginas) • 495 Visualizações
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não suportava mais o estilo de vida anterior. A escassez começou a participar da vida de todos e se fazia necessária uma reconstrução dos países que haviam vindo abaixo após os conflitos. Mais do que isso, a sociedade européia, que antes mesmo da Guerra já alimentava um espírito de renovação, agora percebia quão importante era essa mudança. Nesse sentido a Revolução industrial, já bem forte na Europa, tornou-se ainda mais significativa e relevante. Com as novas máquinas era mais fácil e rápido produzir em quantidade os produtos para suprir à grande população que perdeu tudo na Guerra, ainda sim a destruição foi tão grande que houve grande demora para que todos pudessem se recompor.
A Belle Epoque, que caiu junto com a Guerra já não fazia mais sentido dentro daquele cenário caótico, e as formas de arte que se apresentavam associavam a ela, da mesma maneira perderam o significado. O momento era de introspecção, de olhar para si, de recolher os próprios restos que restaram de toda a destruição.
Outro marco importante, desta vez no campo tecnológico, é o advento da fotografia. Esta invenção causou um grande alvoroço, chegou-se até comparar com “bruxaria” na época, uma vez que sua forma de representar se aproximava muito mais do instante real e por sua vez da realidade que a pintura, forma mais comum de se fazê-lo até então. Os pintores se sentiram ameaçados e pressionados a responder a pergunta: “o que difere a fotografia da pintura?”. Nesse momento foi que os valores do subjetivismo, que já vinha ganhando força desde o iluminismo, quando fora criado, passou a transbordar no cenário das artes.
Além de assumir o espaço bidimensional da tela, não mais se obrigando a retratar cenas realistas, posto que esta necessidade começasse a ser suprida pela fotografia, o olhar do artista passou a ser valorizado. A forma de entender o mundo de cada artista se traduzia em cores, formas, traços e temas que não precisavam ter nenhum compromisso com o real. A arte assumiu uma nova condição, onde o artista ganha o papel central. E com este papel, diante de todas circunstâncias e acontecimentos da Europa, ele começa a desenvolver um novo olhar sobre sociedade como um todo, os modos e as condições de vida.
As vanguardas européias surgiram e se fortaleceram nesse ambiente, um tanto quanto caótico,e talvez por isso, sua característica mais forte e comum a todas seja a crítica e a negação extrema de tudo que se refira ao passado, consequentemente fazendo uma exaltação exacerbada de tudo que se apresentava como o novo.
O Brasil por sua vez, ainda vive fortemente sua condição de país colonizado. Completamente dependente dos países europeus, dos quais o modo de viver era exaltado e copiado pela elite do país. O governo do país, que ainda vivia o regime café-com-leite, era comandado pelo então presidente Pereira Passos, que tinha a Europa, sobretudo a França como inspiradora, chegando a transformar a cidade do Rio de Janeiro, na época capital da cidade, em uma réplica de Paris.
Considerando que toda transformação social se dá de forma lenta e gradual, e se até mesmo a sociedade europeia ainda não havia assimilado tantas novidades que aconteciam em seu próprio território, aqui no Brasil ainda se vivia fortemente o art noveau, e as elites sonhavam com um estilo de vida que a essa altura já estava em decadência na no Velho Continente.
No Brasil, o governo do presidente Epitácio Pessoa começava a ser combatido pela própria
elite cafeeira, posto que este se recusasse a continuar apoiando os grandes fazendeiros,
preferindo alimentar a indústria que começava a se formar no país. O número de revoltas que surgiram nessa época foi enorme e culminaria na revolução de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
E foi com essas grandes aspirações “afrancesadas” e que os grandes “coronéis do café”,
mandavam seus filhos à Europa, esperando que retornassem mais “civilizados” com o
requinte e a sofisticação que eram associados a tudo que vinha dos colonizadores. Mas suas expectativas em relação a essas viagens seriam frustradas pelas novidades europeias.
Paralelo das Vanguardas Européias no Brasil foi o Modernismo. “O modernismo no Brasil foi uma ruptura, foi um abandono consciente de princípios e de técnicas, foi uma revolta contra a inteligência nacional”. (Mário de Andrade, in: O movimento modernista, O Estado de São Paulo, 1942). Essa citação de Mário de Andrade resume bem o que o modernismo representou para o Brasil do início do século XX.
O movimento modernista no Brasil teve seu pontapé inicial em 1912, quando Oswald de
Andrade volta de uma viagem a Europa, onde passou por países como França, Itália e Alemanha. Ele volta trazendo consigo as novidades do velho continente, a queda da Belle
Époque e o novo discurso vanguardista que tomava conta do cenário intelectual e artístico
europeu. Dentre todos os artistas com quem conversou, Oswald ficou particularmente
contagiado pelo discurso de Felippo Marinetti, o idealizador do futurismo.
Nessa época vivíamos em um país dividido, com estilos de vida absolutamente destoantes. Se por um lado víamos as regiões norte, nordeste e centro-oeste pobres e abandonadas, que sobreviviam basicamente do comércio de commodities, víamos também as regiões sul e sudeste que iniciavam sua industrialização a todo vapor, sedes da intelectualidade e da
aristocracia, onde se concentravam não só a maior parte do dinheiro, mas também o poder de governar o país que era alternado entre São Paulo e Minas Gerais. E, foi precisamente no sudeste, mais especificamente no estado de São Paulo, que o modernismo começou a ganhar contornos e nuances.
As duas exposições de Anita, em 1914 e 1917, respectivamente, foram ainda que não
intencionalmente, a sintetização do discurso já inflamado de Oswald de Andrade. Suas
formas, cores e texturas que pretendiam, sobretudo, questionar os cânones estéticos que
legitimavam a obra e arte, escandalizaram a sociedade tradicionalista paulistana, acostumada ao academismo da
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