Essays.club - TCC, Modelos de monografias, Trabalhos de universidades, Ensaios, Bibliografias
Pesquisar

Análise dos Aspectos Socioculturais: Cultura Nordestina Representada no Conflito Guerra De Canudos (1896 – 1897)

Por:   •  19/2/2018  •  1.887 Palavras (8 Páginas)  •  491 Visualizações

Página 1 de 8

...

O cenário político brasileiro estava passando por uma série de mudanças devido aos impactos causados pelas influências do regime republicano que foi instaurado em 1889. O Brasil tratava de negócios com outros países que adotavam o capitalismo como sistema econômico com intuito de acentuar a exportação de produtos agrícolas (café, açúcar e borracha) e também a importação de produtos de gênero alimentício (arroz e feijão) onde, esses últimos subiam de preço absurdamente e consequentemente, por conta da pouca condição aquisitiva da maioria da população, aumentava a fome e a miséria no Nordeste brasileiro que rapidamente se esvaziava.

É justamente inserido nesse contexto histórico, nesse cenário de fome e miséria que surge um dos mais caricatos e revolucionários personagens da história do Brasil, Antônio Vicente Mendes Maciel (Antônio Conselheiro) que peregrinava pelo sertão desde 1870 e o fez durante 25 anos, trazendo consigo a reputação de beato. Com a ajuda do filme Guerra de Canudos (do diretor Sérgio Rezende) exibido em sala de aula e de leituras de apoio que irei procurar fazer algumas observações, relacionadas à geografia cultural, na esfera da religião, do episódio em destaque.

Antônio Conselheiro não era padre, não rezava missas e nem exercia nenhuma função eclesiástica na organização institucional da Igreja Católica, no entanto pregava a religião cristã. Era celebrado por onde passava, anunciava a palavra de Deus e pronunciava os seus sermões em forma de ladainha (invocações curtas e respostas repetidas), além disso, arregimentava seus seguidores na recuperação e reformas de igrejas deterioradas, na pavimentação de estradas, na construção de muros para cemitérios, etc., e com isso adquiria grande simpatia da população e dos padres encarregados das paróquias reformadas das pequenas localidades ou lugarejos do sertão nordestino que ele cruzava em suas andanças. Apesar disso, O Conselheiro vivia sob os olhos espertos e atentos da Igreja, que o via também como uma ameaça, devido à quantidade de adeptos que o seguia em suas peregrinações. O alto clero (corporação dos sacerdotes) da Igreja temia que o beato contraísse muito poder e consequentemente maior autonomia religiosa.

Mesmo perdendo alguns poderes, com a separação do Estado, a Igreja ao mesmo tempo ganhava certa autonomia devido ao reavivamento espiritual vivido na época. O Conselheiro propagava a simbologia da Igreja Católica auxiliando-a de certa forma. Analisando o artigo de Zeny Rosendahl (2007, p. 187 a 220), é possível entender que a religião precisa da manutenção territorial para se fixar num dado território que, por sua vez, fortalece as experiências religiosas, pois, existe uma série de estratégias dentro do território da Igreja, um dinamismo espacial que planeja fragmentar ou criar templos filiais de oração. Nesse sentido, a simbologia exerce um papel muito forte no cenário religioso, os símbolos considerados sagrados pelos fiéis movimentam os negócios das instituições religiosas, onde cada tempo e espaço possui o tipo de prática religiosa desenvolvida pela comunidade ali fixada, isto é, as práticas religiosas perduram historicamente de acordo com a intensidade com a qual elas são estabelecidas. No filme exibido, pode-se observar os seguidores de Antônio Conselheiro carregando uma cruz de dimensões exageradas, acima de suas cabeças, num ritual que faz lembrar remotamente, o sacrifício de Jesus Cristo caminhando para a crucificação. É o que pode ser observado na figura - 1 a seguir:

Figura 1*

[pic 1]

*Imagem retirada do filme Guerra de Canudos do diretor Sérgio Resende.

Fonte: http://www.google.com.br/fotosdofilmeguerradecanudos

- PECULIARIDADES DA CAMPANHA DE CANUDOS:

2.1 Paisagem, área e história culturais.

Em 1893 Antônio Conselheiro resolve se fixar num local para construir o que ficou conhecido como Arraial de Canudos, situado a beira de um rio (Vaza- Barris), uma área considerada estratégica do ponto de vista da sobrevivência e da segurança das pessoas ali fixadas. Dentro de um período de quatro anos, o lugarejo constituiu uma população flutuante de aproximadamente 25 mil habitantes, com aproximadamente 5.200 casebres, o que mudou radicalmente a paisagem local. Cada família que vivia em Canudos disponibilizava de um terço do que produziam para a satisfação das necessidades da comunidade, uma prática cultural que lembra o sistema feudal europeu dos séculos IX a XIII D.C. Existia uma hierarquia entre os membros do arraial (como vimos no filme), as funções eram divididas de acordo com as habilidades de cada membro do local, havia também uma condição para a permanência no arraial que era cumprir com as obrigações religiosas, ou seja, o comparecimento aos cultos ministrados na igreja construída no centro do arraial, o não comparecimento aos cultos eram punidos com prisão, assim com os furtos e homicídios, em relação às mulheres, elas deveriam manter a abstinência sexual e o pudor. A figura – 2 a seguir, mostra uma ilustração do Arraial de Belo Monte em Canudos:

Figura – 2*

[pic 2]

*Pintura retratando Canudos antes da guerra. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos

Acreditando que era o Rei, o verdadeiro guia da nação com poderes emanados de Deus, Antônio Conselheiro via na República, que acabara de implantar casamento civil e a cobrança de impostos no país, o governo do diabo. Com todas essas divergências entre Conselheiro e o Governo o conflito era quase que inevitável e, assim ocorreram quatro, mais violentos e com mais gente envolvida à medida que eles [os conflitos] ocorriam. Cada expedição militar obedecia a ordens do Presidente da República em gestão, o Brasil esteve sob o comando de três presidentes diferentes durante os conflitos, porém as intenções eram as mesmas, destruir o Arraial de Canudos. Durante as expedições várias estratégias foram usadas do dois lados, o governo chegou a utilizar a cidade de Monte Santo como base militar o que, além de dar um suporte para a imprensa cobrir e fazer especulações sobre os acontecimentos, com a presença dos militares, os estabelecimentos comerciais locais, principalmente os prostíbulos, aumentavam seus negócios pois eram um atrativo a mais como fonte de renda para as mulheres da região que não encontravam emprego devido ao péssimo cenário econômico da época.

...

Baixar como  txt (12.6 Kb)   pdf (58.7 Kb)   docx (16.9 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no Essays.club