Resenha - Em Direção a uma ciência dos Saberes e das práticas docentes
Por: Ednelso245 • 27/11/2018 • 2.306 Palavras (10 Páginas) • 364 Visualizações
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Apesar da persuasão que o orador pode causar no seu auditório Mazzotti sustenta no quarto tópico que há limites nesta ação, os ouvintes não modificam suas crenças, valores e atitudes pela ação do orador posto que: é impossível modificar intencionalmente os valores, as atitudes e crenças dos outros porque as palavras são polissêmicas; e ainda: as pessoas são tomadas por forças que não podem ser totalmente apreendidas impedindo que as ações intencionais produzam as alterações pretendidas. Referendando esta colocação o autor trouxe os estudos de Gorgias de Leontini o qual sustentou o poder de mobilização da retórica, mas, também, expôs os seus limites afirmando que a palavra não tem o poder de modificar os ouvintes. Continuando com as ideias de Leontini e Outros seria impossível um conhecimento verdadeiro sobre o mundo e o discurso persuasivo é sempre uma reprodução do que o auditório concorda. Fechando esta discussão o autor traz uma segunda posição cética afirmando ser inatingível a essência do homem com sua subjetividade profunda e tem no reforço de Menon a seguinte máxima:"Não se ensina, ajuda-se o outro a expor o que se encontra em si." Nesta afirmação dos limites da ação que se pretende modificar o axioma modal constitui-se a ciência com base nos limites da técnica de negociação de significados: a Retórica, a saber no próximo tópico.
Para Aristóteles a Retórica é a ciência que tem por objetivo encontrar o persuasivo na situação a partir da reconstrução do espontaneamente realizado pelos oradores eficazes e eficientes, tal como se pretende fazer com os saberes docentes. Para Mazzotti a Retórica constitui um conjunto de conhecimentos confiáveis que orienta o trabalho do orador em sua busca do discurso que mova o auditório na direção por ele desejada. Pode-se afirmar que as práticas educativas são um caso particular da arte retórica e que a retórica é a sua ciência. No entanto, as formas de ensino sofreram grandes mudanças com a reforma protestante contrária ao ensino anterior, mais voltado à subjetividade do aluno, inaugurando a educação escolar em massa onde todos que tivessem alguma capacidade intelectual participaria tornando objetiva as relações escolares. Com esta educação de massa passou-se da Retórica para a metonímia, modelo pedagógico da modernidade caracterizado por tecnologias de ensino instituindo a escola como máquina de ensinar. Finalizando o tópico Mazzotti afirma que ao se adotar a epistemologia afirma-se a diferença entre as ciências formais e as reconstrutivas surgindo várias ciências, dentre as quais a Retórica que também é a ciência da educação.
Com a retomada da Retórica na segunda metade do século XX ficou explícito que a relação do orador com seu auditório é uma negociação de significados por meio de esquemas argumentativos, e que as resistências dos auditórios expressam as suas boas razões para manterem suas crenças, atitudes e valores, os quais podem ser apreendidas por meio da análise retórica. Conforme afirma Mazzotti "o axioma modal da educação é o da retórica", contudo, para ser eficaz e eficiente depende das habilidades pessoais, do domínio da técnica, da maestria de quem realiza e da interlocução. O fazer com maestria é uma das regras da retórica. O autor cita um exemplo do que foi apreendido no senso comum sobre a teoria de Darwin (seleção natural, ao invés de seleção sexual) justificando que esta teoria vai muito além do que fora apreendido e é propagado enquanto conceito de Representações Sociais ("a RS é uma modalidade de conhecimento particular tendo a função de elaboração dos comportamentos e da comunicação entre os indivíduos"; e também nesta teoria "a construção do que chamamos de real inclui certamente dimensões científicas, cognitivas, mas ela é constituída fundamentalmente por práticas, crenças, tradições, rituais, isto é pelos inúmeros saberes que povoam nosso mundo cotidiano. São estas RS que unem a dimensão subjetiva à dimensão objetiva, que possibilitam a construção social da realidade." MOSCOVICI, 2012[1961], p. 27 e p.8). Com tal exemplo Mazzotti mostra que é preciso analisar as matérias de ensino evitando assim as distorções teóricas.
Em sua conclusão, o autor apresentou um esboço de proposta de organização das licenciaturas que teria por organizador os conhecimentos retóricos e lógicos. Sustenta ainda que é viável constituir uma ciência reconstrutiva das práticas educativas contradizendo a sua negação. Continua afirmando que a Retórica é a ciência das práticas dos oradores, e da arte de ensinar, bem como, para aquelas ciências que buscam produzir alterações intelectuais e afetivas sustentadas pelo mesmo axioma modal (da possibilidade de modificar crenças, valores e atitudes). A pedagogia como um gênero da Retórica é questionada por Aristóteles, mas aceita pelos escolanovistas, posto que Aristóteles não considera a dimensão afetiva do auditório escolar e suas dimensões cognitivas, afetivas e sociais. As pesquisas no âmbito do gênero retórico da educação tem por objeto as negociações de significados na relação professor (orador), estudantes (auditório) e as matérias de ensino, analisados e organizados com as técnicas argumentativas da retórica. Mazzotti finaliza propondo que os atos dos professores são similares ao dos oradores e que a disciplina retórica seja o núcleo organizador dos currículos de licenciatura, explicitando as contingências do fazer por meio do que se sabe em psicologia e sociologia. Além destas ciências é relevante a análise retórica das disciplinas escolares para expor suas mudanças, distorções e desfalques presentes. Em suma pergunta-se: Quais seriam então os saberes das práticas educativas e os recursos retóricos utilizados pelos professores para persuadir seus alunos? O autor responde: "Estas e outras questões orientam a constituição de uma ciência da educação que reconhece que se fala para ensinar e se persuade a estudar."
REFERÊNCIA
MAZZOTTI,Tarso B. Em direção a uma ciência dos saberes das práticas educativas. In MAIA, H.; FUMES, N.L.F.; AGUIAR, W.M.J. (Org.). Formação, atividade e subjetividade: Aspectos indissociáveis da Docência. Nova Iguaçu: Editora Marsupial, 2013, p. 69-91. Disponível em: http:// marsupialeditora.com.br/download/formacaoatividadeesubjetividade.pdf. Acesso em Out. 2017.
IDEIA PRINCIPAL DO TEXTO:
A ideia principal do autor é discutir quais seriam os saberes necessários à prática docente, entendendo que é imperativo um conjunto de conhecimentos confiáveis no fazer educativo, para se alcançar
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