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Relações de Poder em Focault

Por:   •  4/5/2018  •  3.078 Palavras (13 Páginas)  •  335 Visualizações

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Nesse sentido, faz-se necessário buscar uma concepção mais racional, e menos ingênua, de poder. Foucault ressalta que “não há poder sem verdade.” E ainda, sustenta que a verdade é um fruto da vontade de verdade, que tende a influenciar diretamente em processos de ressignificação do sujeito. Ou seja, o poder só produz seus efeitos, enquanto fundamenta-se em uma ‘suposta’ informação, em uma ‘suposta’ verdade desenvolvida, que justifica e fundamenta seu poder e produz os efeitos esperados. “A noção de verdade preserva seu estatuto de construção histórica, mas é determinada pela exterioridade do próprio saber; ou seja, pelas práticas sociais, por relações de poder”. (BOTH, 2009, p.47).

As explicações da realidade, de acordo com a linha de pensamento do filósofo, não têm conexão com o modo como as coisas realmente são, mas somente servem para justificar o status quo daqueles que criam as ‘verdades’ que as colocam no poder. A verdade, portanto, não passa de uma espécie de poder social, e quem o detém, usa para escrever a história e estruturar a sociedade. Para compreender a visão de Foucault sobre verdade e poder, Se faz necessário desfazer-se daquela concepção ingênua de saber, que produz uma concepção também ingênua de verdade absoluta e universal. Para o filósofo não existe verdade absoluta e universal. Existe a verdade autêntica, que só pode ser encontrada dentro do domínio ou das relações de poder.

A verdade cumpre uma tarefa calculada e precisa na sociedade, garantindo que as relações de poder se ramifiquem no corpo social e tenham efetiva funcionalidade. Neste sentido, ao invés da verdade ser, por si só, um instrumento, uma arma para limitar o poder, como tradicionalmente se entendia, é fabricada por ele porque necessita dela. A verdade é atravessada por interesses. (BOTH, 2009, p.53)

Existe um jogo de interesses por trás da “verdade”, pois ela contém o poder de produzir efeitos que podem vincular a vida e a existência dos indivíduos na sociedade, e determina-los em suas particularidades sociais e individuais. “o saber está profundamente conectado às relações de poder que o originam e dele dependem. Igualmente, que as sociedades tramam essa conectividade, selecionando e controlando os discursos através da produção da verdade.” (BOTH, 2009, p.61).

Os discursos do verdadeiro e falso agem de forma histórica e institucionalmente constrangedora. Deleuze fala a respeito de uma divisão histórica, ocorrida na Grécia Antiga (séc. VII), quando a verdade se descaracteriza de sua organização de enunciação para o enunciado ele próprio, para seu sentido, forma e objeto. A partir de então, o discurso verdadeiro deixou de ser desejável pois não mais estaria ligado ao poder. O discurso que gerava poder, ainda que falso, era o mais desejável, gerando a vontade de verdade. Essa vontade de verdade teve, ao longo da historia, seu apoio sobre um suporte institucional, que a reforçou através de uma práxis de controle do saber, e de sua aplicação, distribuição, valorização e atribuição na sociedade, gerando um poder de coerção sobre qualquer outro discurso diferente deste.

O PODER COMO EXERCICIO DE CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

Segundo o próprio filósofo, o cerne de sua pesquisa não era o fenômeno do poder, mas desenvolver uma história dos diferentes modos pelos quais os seres humanos tornam-se sujeitos, em outras palavras as formas de constituição do sujeito. (DREYFUS, H. & RABINOW, 1985, p.231,323). Em sua obra, Foucault se refere a mecanismos de objetivação e de subjetivação que aspiram como processos de constituição do indivíduo. Os processos de objetivação são os que pretendem fazer do homem um objeto, ou seja, se referem aos processos disciplinares que tendem a tornar o homem adestrado nas questões politicas, e ao mesmo tempo útil para a economia. Os processos de subjetivação se referem aos que em nossa sociedade fazem do homem um sujeito preso a uma identidade que lhe é atribuída como sua.

As forças de poder que envolvem os sujeitos deixam claro que uma vez que o homem pertence à sociedade, e essa pertença se dá nas relações interpessoais, é inevitável que se envolva de diversas formas em relações de poder, nas relações de saber. Esse envolvimento cria uma rede de conexões com os demais membros da sociedade, e suas instituições. Em todas as relações, cada indivíduo se depara envolvido num saber, pois está inserido nesse jogo de poder cuja ligação é controlada por ele mesmo, por seu eu interior. É dessa maneira que o sujeito é caracterizado em sua individualidade, pois mesmo submetido às forças de poder, essas forças não tiram sua capacidade de controlar, em seu interior, como essas mesmas forças produzirão seus efeitos em si, gerando o fruto dessas relações de poder.

Foucault, no desenvolvimento de sua filosofia, bebeu da fonte nietzschiana. Portanto, nega a existência de verdades metafísicas, e nega a existência do sujeito como realidade fixa na produção das verdades. Nesse sentido, para existir poder, precisa existir verdade. Em outras palavras, o poder depende de um “discurso de verdades”. Mas não é qualquer discurso com qualquer verdade, mas apenas as verdades que irão produzir os efeitos esperados para a manutenção do poder. “Sabe-se bem que não se tem o direito de falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa” (BOTH apud FOUCAULT, 2009, p.55). Não restam mais dúvidas de que a verdade deve produzir o poder de controlar o sujeito e caracterizá-lo, mesmo em sua individualidade, como uma espécie de “marionete do sistema”, dócil na política, e útil ao interesses econômicos. Por isso vemos a sujeição das massas sociais ao controle de grupos menores, que ao invés de serem a voz que grita por todos, tornaram-se os instrumentalizadores da verdade, afim de continuar promovendo o conveniente controle dos sujeitos em massa. Mas a massa não é controlada por não ser detentora do saber e do poder, mas é neutralizada pelo nefasto sistema que se criou em torno das relações de poder.

Ora, o que os intelectuais descobriram recentemente é que as massas não necessitam deles para saber; elas sabem perfeitamente, claramente, muito melhor do que eles; e elas o dizem muito bem. Mas existe um sistema de poder que barra, proíbe, invalida esses discurso e esse saber. Poder que não se encontra somente nas instancias superiores da censura, mas que penetra muito profundamente, muito sutilmente em toda a trama da sociedade. Os próprios intelectuais fazem parte deste sistema de poder, a ideia de que eles são agentes da “consciência”

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