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O Expresso: a cidadania em formato de jornal-mural

Por:   •  18/5/2018  •  3.216 Palavras (13 Páginas)  •  370 Visualizações

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A construção do jornal o Expresso, especificamente de agosto a dezembro de 2011, também se fez de outra forma, se comparada aos projetos editoriais do Curso de Jornalismo da Universidade de Viçosa (UFV) e dos jornais da cidade, quando a linha editorial já é preestabelecida pelo programa disciplinar (no caso de jornais laboratórios) ou por empresas de comunicação viçosenses.

Ouvir o público-alvo sempre foi um objetivo basilar na produção do Expresso. O leitor preferencial, durante o período de construção do projeto editorial (entre agosto a dezembro de 2011), teve seu perfil traçado por meio da investigação de três áreas: identificação dos usuários, hábitos de leitura e opinião.

A edição-teste (dezembro/2011) pautou assuntos a partir de temas gerais apontados por entrevistados. Após nove edições, foi lançada, em maio-junho/2013, a “Edição especial foto-ilustrativa”, produzida a partir de pesquisa com usuários de ônibus que indicaram a preferência pelas fotos e ilustrações e a importância de matérias do tipo prestação de serviço. As edições 11 e 12, de novembro-dezembro/2013 e janeiro-fevereiro de 2014, respectivamente, foram produzidas com base em reunião de pauta do dia 31 de outubro de 2013 entre a equipe e leitores do jornal.

Atenta às críticas de autores como Rothberg que afirma que “em geral, os veículos de comunicação consideram como opinião pública aquilo que eles obtêm através de pesquisas que captam rasos posicionamentos pessoais” (2011, p. 164), a equipe produtora do O Expresso planejou a formação de grupos de discussão com as associações de bairros de Viçosa, que podem resultar em “oportunidades para o desenvolvimento de opiniões mais referenciadas e substanciais” (ROTHBERG, 2011, p. 165).

Em parceria com o Instituto Vida de Viçosa[3], foi agendada para outubro/2014 a produção colaborativa da edição OUT/NOV 2014 do Expresso, na comunidade de Amoras, região periférica da cidade que se avizinha às comunidades do Córrego São João, Duas Barras, Piúna, Paiol, Nobres, Barrinha, Vau-Açu, Inácio Martins, São João Batista e Vale do Sol. Desse encontro será esperado o compartilhamento de interesses, valores e tradições, compondo assim “um substrato adequado para a afirmação das próprias expectativas dentro de um senso de comunidade e pertencimento à coletividade” (ROTHBERG, 2011, p. 165). A oficina, no entanto, não aconteceu.

Jornalismo em movimento

O jornal O Expresso é um projeto de extensão que proporciona aos alunos o pensar, o pesquisar e o conviver com uma realidade para além do mundo universitário. Produzir um jornal a partir de uma lógica extensionista é trabalhar em via dupla, ou seja, sob a perspectiva freireana da Comunicação horizontal, em que todos participam (FREIRE, 1977). Além de assumir a função de veicular a informação, ao retratar, reportar e representar a realidade de quem anda – e necessita – de ônibus pela cidade, esse projeto se configura como construtor dessa realidade, adquirindo, dessa forma, função educativa e social.

A dimensão editorial d’O Expresso privilegia fatos, informações e contextos da cidade e o aspecto gráfico é pensado no tempo e no espaço do seu suporte, a fim de captar a atenção do leitor que está sempre de passagem, a caminho do trabalho ou da escola, e pode usufruir de um “meio de fuga às preocupações do quotidiano ou costumeiro, uma pausa no ramerrão, um preenchimento dos lazeres como algo reparador do dispêndio de energias reclamado pela atividade vital de informar-se” (BELTRÃO, 2006, p.13). O jornal O Expresso informa temas de interesse público como: campanhas de saúde, postos de atendimento ao cidadão, funcionamento de ONGs, além de trazer a programação cultural de Viçosa. Desde o início, a proposta tem sido levar aos leitores um jornal que se identifique com ele, com o ambiente (interior do veículo) e com o tempo em que vai ser lido (considerando o veículo em movimento).

COMUNIDADE E CIDADANIA

Cicilia Peruzzo define a comunicação comunitária ou popular como

processos de comunicação constituídos no âmbito de movimentos sociais populares e comunidades de diferentes tipos, tanto as de base geográfica, como aquelas marcadas por outros tipos de afinidades. É sem fins lucrativos e tem caráter educativo, cultural e mobilizatório. Envolve a participação ativa horizontal (na produção, emissão e na recepção de conteúdos) do cidadão, tornando-se um canal de comunicação pertencente à comunidade ou ao movimento social e, portanto, deve se submeter às suas demandas (PERUZZO, 2009, p. 140).

O jornalismo focado no cidadão surgiu nos anos 1990, nos Estados Unidos, por iniciativa de editores e professores preocupados com a diminuição da participação cidadã na vida pública, a perda da credibilidade jornalística e, consequentemente, a queda na tiragem dos jornais. Esse jornalismo público vem propor uma reaproximação com seu público (TRAQUINA, 2001), que não é mero consumidor de informações, é um cidadão, “que está inserido em uma sociedade democrática e tem direito de saber e participar da vida pública” (PAVEZZI, 2010, p. 23). Segundo Castellanos (2006) uma das formas do jornalismo público é a participação cidadã na agenda dos meios de comunicação, invertendo a lógica da hipótese da teoria do agendamento (agenda-setting):

Se no jornalismo tradicional, as pautas são tradicionalmente decididas no âmbito privado das redações, com base na crença de que os critérios de noticiabilidade correspondem a todo o conhecimento necessário para os profissionais da área decidirem o quê e como será noticiado, no jornalismo cívico essa prática será duramente questionada, tornando-se imprescindível que os profissionais passem a implementar meios de o público participar da definição da agenda da cobertura” (ROTHBERG, 2011, p.159).

Ressalta-se que, apesar de focar no cidadão, esse Jornalismo não pode ser usado como sinônimo de Jornalismo Cidadão – aquele em que o cidadão colabora com o fazer jornalístico, assumindo a função jornalística de informar.

Assim como afirma Campanha (2014), o jornal O Expresso, por se tratar de produção ainda acadêmica, não pode ser considerado uma prática profissional de jornalismo público, mas caracteriza-se como incipiente modelo alternativo de produção jornalística, na sua busca pelo contato com o público, inspirando-se nas experiências do jornalismo público. Na meta de se aproximar do usuário de ônibus, O Expresso se afina com os preceitos e práticas

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