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Discussão Teórica: Pierre Bourdieu

Por:   •  23/12/2018  •  2.016 Palavras (9 Páginas)  •  354 Visualizações

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Pertencendo mais especificamente ao escopo deste trabalho, através desta obra é possível entrar em contato com diversas críticas que são fundamentais à ascensão de propostas alternativas à violência do sistema educacional. Não devem ser negligenciadas as localizações sociais dos indivíduos que estão imersos na estrutura do sistema. Reconhece-se que seus procedimentos são responsáveis por um processo de aculturação das classes populares, onde seus saberes são deslegitimados em detrimento do que se considera conhecimento erudito cujo monopólio de um capital linguístico é essencial ao destaque nos processos de aprendizagem e seleção. O propósito do trabalho pedagógico, como supracitado, é produzir indivíduos modificados que se adequem às exigências de uma classe dominante, a não adequação é fator crucial aos processos de marginalização e reprodução circular de hierarquias sociais e escolares. No entanto, graças às formações sociais através das quais são definidos os sujeitos, que impõe limitações de acordo com sua localização social, a escola, na verdade, assegura a sucessão sutil a direitos de burguesia limitados às posições sociais e econômicas mais altas na hierarquia como já estabelecidas; estagnando e impossibilitando processos de transformação e valorização da autonomia dos sujeitos.

Colonialidade do saber e

alternativas à violência do sistema de ensino institucionalizado

Acredita-se que no contexto das sociedades modernas, é experimentada a imposição de um modelo civilizatório por intermédio das nações hegemônicas que perpassa as esferas do poder, do saber e do ser. Partindo para uma análise mais próxima, a história da América Latina atesta a brutalidade de um processo colonizador de exploração que iniciou um curso intermitente de dominações nos campos econômico, social e cultural. A própria história da ciência é passível de questionamento quando se constata o círculo fechado de sua produção, apontando a existência de um projeto que centraliza o conhecimento através de uma instância socialmente reconhecida que legitima a propagação de quaisquer postulados arbitrários de um grupo restrito de intelectuais com características bastante pontuais, em sua maioria homens, brancos, de classe alta e heterossexuais.

Em contrapartida a essas características de dominação existentes no saber constituído, surge, no século XX, o campo de Estudos Pós-Coloniais que “procuram aprofundar a densidade da experiência colonial, flexibilizando-as dos eixos de tempo e espaço” (COELHO; BARBOSA, 2017, p. 337). Pretende-se, assim, questionar as formas de violência e subordinação que figuram no espaço social, econômico, científico e cultural responsável por produzir a noção de “outros” em relação ao que é dominante. Surgem respostas contra-hegemônicas às relações de dominação, surgem teoria da dependência, teologia da libertação e a pedagogia do oprimido.

Quando abordamos o processo colonizador a partir das perspectivas pós-coloniais, partimos da máxima de que esse processo não está acabado no sentido de ainda haver um longo caminho a percorrer a fim de eliminar suas consequências nefastas aos povos a que a eles foram submetidos. Coelho e Barbosa (2017, p. 337) apontam que a descolonização passa por aspectos bastante complexos que vão desde a descolonização da imaginação e das práticas autoritárias às nossas percepções hierarquizadas. A herança colonial deixa seus rastros em toda a estrutura de organização social das sociedades que a ela estão submetidas, não estando isento o campo da educação formal, palco bastante notório de atuação dessa herança.

Sendo o Estado responsável por prover a educação de suas cidadãs e cidadãos, age fortemente como um mecanismo de controle e propagação das estruturas dominantes. Afirma-se que “As escolas só funcionam sob as indicações das políticas educacionais, seus parâmetros e diretrizes curriculares. Coloniza o pensamento e ações de professores, crianças e famílias” (COELHO; BARBOSA, 2017, p. 341). É de entendimento comum nos estudos pós-coloniais a problematização de que através da colonização do saber silenciam-se culturas marginais e, consequentemente, suas pedagogias (STRECK, 2005, p. 58).

Ficam evidentes nos processos educativos os mecanismos de silenciamento e castração das potencialidades naturais dos indivíduos. O projeto educacional dominante não abre espaço para novos protagonistas sociais e produz sujeitos que não são detentores de suas próprias narrativas. Encontramos pedagogias alternativas em diversas fontes que puras ou mescladas, pretender aflorar o potencial transformador da educação. Uma dessas propostas expõe-se no projeto anarquista de educação que aponta a diferenciação entre educar e instruir, educar consiste em atingir todos os setores em que os indivíduos exercem a inteligência: memória, vontade, sentimentos e comportamento em grupo (COELHO; BARBOSA, 2017, p. 345). O projeto estimula o desenvolvimento de atributos como solidariedade, tolerância e respeito mútuo, ensinando fatos através da vivência. O mais notório quanto à proposta é a capacidade de questionar o contexto em que crianças e estudantes nos meios institucionalizados são considerados sem história e não-produtores de cultura, pondo em cheque a questão essencial do poder. A crítica da vertente é muito bem explicitada através da seguinte citação: “O que é perceptível quando educamos, ensinamos e domesticamos crianças para que estas caibam no nosso mundo, no mundo do adulto [...] o porvir da criança é mais importante que a sua vida atual”, contrapondo uma visão adultocêntrica que anula a criança como indivíduo. O anarquismo na educação é representado pelo ideal de desescolarização, acreditando que no âmbito institucional, as chances de se alcançar eficácia em um projeto que visa educar e, não, escolarizar é mínima. Neste âmbito ficam bastante restritas as possibilidades de se desintoxicar das submissões corporais e mentais.

O anarquismo na educação representa, assim, a visão de que a educação não deve estar a serviço da manutenção de uma ordem social e, sim, da transformação. Esta máxima direciona os princípios básicos de uma educação anarquista, sintetizados em quatro bases: a autonomia individual, a autogestão social, o internacionalismo e a ação direta.

Outra proposta está associada à educação para a emancipação, educar para emancipar é uma opção com e para as classes excluídas (STRECK; MORETTI, 2013, P. 36), é preciso uma ruptura epistemológica que proporcione práticas educativas

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