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A força da multidão - breve análise das jornadas de junho de 2013 no Brasil

Por:   •  4/10/2018  •  9.791 Palavras (40 Páginas)  •  304 Visualizações

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Como segundo elemento do Operaísmo , encontramos que tais embates não eram sempre iguais, haja vista que em função da composição técnica da classe ou do paradigma vigente do trabalho, assumiam diferentes formatos. Buscava-se, naquele momento, uma resposta aos impasses nos quais se encontravam a esquerda e os sindicatos italianos no segundo pós-guerra, diante da chegada e difusão dos métodos tayloristas. Os sindicatos faziam referência a um tipo de operariado que já não existia e que tinha sido o sujeito social do grande ciclo de lutas que atingiu seu ápice na revolução soviética e na revolução alemã. Para BRUNO (1986, p.12) a luta operária não tinha condições de se desenvolver no tipo capitalista de organização dos trabalhadores que o próprio sistema capitalista impunha, visto que “ a disciplina de fábrica implica na completa obediência e submissão do operário ao sistema tecnológico de produção. E esta é a única forma de organização que o capitalismo pode admitir”. A qualificação técnica do operariado no passado - de alta qualificação profissional – e sua motivação política nas lutas pelo poder sobre os meios de produção era diferente do que se via com o taylorismo, , que tratava com um operariado massificado, sem qualificação técnica, vindo do campo ou das migrações internas e externas, recém-chegado aos grandes polos de industrialização e às metrópoles. O terreno de embate político de outrora, centrado na articulação da luta econômica e política para refletir o poder da classe operária sobre a produção, estava somente adstrito à luta salarial e à recusa do trabalho, sendo que o embate econômico já continha a luta política.

Segundo COCCO (2009) , a proposta central do Operaismo “consistia em radicalizar alguns dos elementos que já estavam em Marx no mérito da crítica do capitalismo.” Por meio dessa corrente filosófica, procedeu-se a uma leitura original de Marx no contexto das lutas radicais dos trabalhadores, ocorridas na Itália durante toda a década, e que levaram à invenção de novos conceitos teóricos como: composição técnica e política de classe, operário massa, recusa ao trabalho e uma nova metodologia política , a copesquisa, ou investigação militante (MEZZADRA, 2009). Dessa forma, o âmago da questão residia em entender o capital como uma relação de forças, de força contra força, e, a partir daí, assumir a dualidade substancial do capitalismo. O grande significante dessa análise é que o capitalismo encontra a sua dinâmica, o seu próprio desenvolvimento e a sua vitalidade, em algo que é um dos seus principais elementos, mas que é potencialmente o seu limite: o trabalho operário. Na perspectiva dos principais expoentes do Operaismo, a fonte de todo o desenvolvimento e de toda a inovação, não se encontra do lado do capital, mas sim do lado do trabalho. A perspectiva obrerista é que a classe trabalhadora é ativa, enquanto que o capital é reativo: a transformação capitalista acontece sempre na perspectiva de uma reação às demandas e à subversão da classe operária. Segundo as palavras de Mario Tronti, existe uma inversão de ordem nessas mudanças que aconteceram na história, já que “temos trabalhado com um conceito que põe o desenvolvimento capitalista primeiro e os trabalhadores depois”.

De acordo com TRONTI (2001, p. 51-56) o capital atualiza e melhora o processo de produção somente depois que as estratégias trabalhadoras tem tornado insustentável o regime existente. Por exemplo, em resposta às demandas para cortar a jornada de trabalho, que geram uma reação política sob a forma de uma legislação laboral, o capital introduz melhorias por meio da mecanização, incrementando assim o índice de exploração. A conclusão daquele autor que provavelmente surpreenda é que “a classe capitalista, desde sua origem, está de fato subordinada à classe trabalhadora”. Nessa linha, BRUNO (1986, p.44) afirma que todos esses fatores colocam em pauta o fator tecnológico, já que a classe operária desenvolve relações de trabalho sob um modelo de autogestão, estas se revelam antagônicas e somente uma solução se impõe: ou a criação de uma nova tecnologia que reintegra o trabalhador no processo de trabalho, permitindo-lhe o controle e a gestão da produção e a partir daí de toda a vida social, ou a utilização da tecnologia capitalista que acabará por reproduzir de forma ainda mais extremada a exploração e a alienação que caracterizam o trabalho assalariado. Destarte, conforme o ciclo de luta e recomposição se desenvolve, o sujeito insurgente se expande e suas demandas se tornam cada vez mais políticas. Essa é a chave da questão que permite serem trabalhados os conceitos de classe operária, em termos de composição técnica e participação política. Conforme ALTAMIRA (2008, p. 21) “enquanto o capital tenta incorporar a classe trabalhadora em si, como simples força de trabalho, o movimento operário se autoafirma como classe independente para si, através das lutas que rompem o processo de autorreprodução capitalista”.

Os Quaderni Rossi (Cadernos Vermelhos), veículo midiático que desenvolveu os primórdios da teoria Operaísta, possuíam no seu corpo editorial além de Negri, os também filósofos e escritores Mario Tronti e Raniero Panzieri . Os Cadernos Vermelhos serviram como inspiração para a fundação , depois, de outra revista de vital importância para aquele movimento, a Classe Operaia (Classe Operária) . Quaderni Rossi e Classe Operaia (1963-1966) desenvolveram a teoria Operaísta , concentrando-se nas lutas proletárias. A esses conteúdos teóricos foi associada uma praxis baseada na organização dentro do lugar de trabalho. Conforme MEZADRA (2009), o início dos anos 90 celebrou uma nova temporada política e teórica, com o surgimento do conceito denominado “pós-operaísmo” que celebra o intelecto geral de massa, o trabalho imaterial, o capitalismo cognitivo, a autonomia da migração e a multidão, conceito este que é base para o objeto desse artigo.

Os Operaístas italianos tinham previsto as condições e as dinâmicas de luta, organização e movimento, que iam se afirmar com o Maio de 68, e sobretudo no caso italiano num grande ciclo de lutas operárias autônomas (independente das organizações sindicais), conhecido como o Autunno Caldo (Outono de 69). Na década de 70, o Operaismo de divide em duas vertentes: uma do Mário Tronti e outros ativistas que assumem essa dinâmica operária dentro de uma perspectiva de forte reformismo e de renovação “operaista” do sindicato e do Partido Comunista. A outra corrente , do grupo do Negri que, ao contrário, irá trabalhar a proposta de um novo tipo de organização que negaria a divisão entre a luta operária e a organização

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