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A Arte Contemporânea como Possível Investimento

Por:   •  17/10/2018  •  4.208 Palavras (17 Páginas)  •  424 Visualizações

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Toda a produção de Basquiat que dizia respeito à Fine Art se deu nos primeiros sete anos da década de 1980, marcada violentamente pelo crescimento descontrolado da economia e da globalização e pelo início de implantações de governos neoliberais em diversos lugares, incluindo nos Estados Unidos, que também passava por tensões geradas em torno da Guerra Fria na mesma época³. Tamanha movimentação criou um novo ambiente muito mais dinâmico e acabou resultando no mundo artístico duas principais bifurcações, o neoconceitual e o neoexpressionismo, sendo a segunda à qual Basquiat pertencia.

O artista evidencia seu histórico de grafite, de meados dos anos 1970 até o início dos 1980, nas paredes e muros nova iorquinos, por toda a sua criação e é associada a uma modificação que, ao ser transferida das ruas para o ateliê, buscava se encaixar nas ideias pós-modernistas, que pode ser visto como crítico ou conivente de eixos manipuladores capitalistas.

Mesmo sem nenhum treinamento formal, Basquiat soube compreender como se dava o contexto no qual trabalhava e, graças ao seu quase que instantâneo sucesso, uniu-se e fez amizade com grandes nomes de diversas áreas artísticas, como Andy Warhol, Madonna e Cy Twombly, sendo este último aquele que se acredita que tenha sido a principal influência que levou Basquiat a abandonar as paredes e aderir às telas4. Esse ciclo social é mais um elemento fundamental na criação da marca do artista e no fazer romântico do mito do artista.

Outro ponto muito interessante é a presença de vários signos, números e letras, parcialmente visíveis em certas áreas da tela, cobertos apenas o suficiente para que dificultem a leitura dos mesmos. A intenção dessa ação vem do desejo de despertar o interesse do observador, uma vez que o fato de estarem escondidas gera a curiosidade de entender o porquê disso e o que significam. A presença desses elementos visuais foi referida, muitas vezes, como primitiva, o que levanta uma questão muito importante quanto ao fetiche, de cunho obviamente racista, do artista negro.

Certamente, esta não é a única possibilidade de interpretação dos trabalhos desse artista, mas se apresenta como uma das mais comuns. A caracterização dos elementos visuais como exóticos, por não se encaixarem em padrões ocidentais, serviu como um método de incentivo ao consumo rápido e fácil, mais uma vez alimentando o desejo devastador pelo diferente e único. Esta concepção fez-se presente na sua produção artística, que através da ansiedade gestual e imagética que transparece nela, nos permite acreditar que Basquiat tinha plena noção de como ele, artista de origens latinas e africanas, seria tratado por essa indústria, onde tanto sua identidade artística como pessoal seriam objetos de consumo.

Arte: um investimento ou um bem?

O mercado de arte começou a se configurar como o que conhecemos hoje por volta dos séculos XVII e XVIII, principalmente através do surgimento de colecionadores, impacto direto da revolução industrial, e do incremento de veículos de transação de bens artísticos, como feiras, galerias e leilões. Este último de extrema raridade anteriormente ao XVII, de grande autoridade na definição da valia das obras comercializadas na atualidade e pertencentes ao que se caracteriza como o mercado secundário de arte.

Caso observada amplamente, de forma a considerar e compreender todas as suas possibilidades, a arte pode ser tida como um ativo, sendo ela capaz ou não de se tornar um investimento. Graças aos seus papéis históricos e culturais, ela possui certa inclinação a gerar um retorno financeiro considerável. Entretanto, é necessário entender que o fato de se possuir uma obra não necessariamente implica que esta pode vir a ser uma fonte lucrativa de renda. Portanto, ao avaliar a oportunidade de um investimento, independente do mercado ao qual esse pertence, torna-se de extrema conveniência saber se o preço que se dispõe a pagar é justo se comparado ao produto adquirido5. Isso se mostra altamente complicado dentro do mercado de arte, já que, apesar de ser possível analisar os índices de performance anteriores, só estão disponíveis aqueles que vieram a leilão, sendo essa uma base de dados correspondente a menos de 50% do mercado secundário, evidenciando a ausência de qualquer garantia quanto aos futuros desempenhos desses números6.

Para pertencer a essa circulação de modo a se tirar maior proveito, vê-se imprescindível que pelo menos uma das seguintes táticas seja usada: a busca por artistas que sejam apreciados de forma inferior ao que seus trabalhos correspondem, ou seja, comprar essas obras enquanto elas valem menos do que provavelmente devem valer, ou pelo melhor trabalho de artistas altamente valorizados a preços inferiores do que o estimado. Ambas requerem ajuda quantitativa de experts da área7.

Não restam dúvidas de que o mercado de arte aqui tratado não se refere a uma massa homogênea que se comporta sempre da mesma maneira, mas sim uma quantidade vasta de mercados menores que agem e reagem distintamente entre si. Contudo, são poucas e raras as vezes em que os preços realmente crescem de uma compra para a outra. Por não ser um investimento detido de grande liquidez, ou seja, não poder ser transformado rapidamente em dinheiro a partir do resgate do que lhe foi investido, lembrando que se vendida muitas vezes a curto prazo, a obra sofre considerável desvalorização, podendo levar até ao prejuízo, o antigo comprador e agora vendedor deve procurar por um leilão que acomode sua peça ou por um dealer que ajude na busca de um novo comprador.

Fundos de Arte

Os fundos de investimento em arte são estruturados da mesma maneira que fundos multimercado8, ambas abordadas como formas de investimento alternativo, acompanhados de poucas restrições, com níveis comparativamente elevados de especulação e com graus de riscos diversos. A flexibilidade desse tipo de investimento contribui para a redução dos riscos de mercado, possibilitando que esses fundos obtenham lucro sem qualquer dependência ou relação com a bolsa. O controle desses fundos fica a cargo, usualmente, de gerentes profissionais ou de empresas de consultoria que estão sempre buscando gerar retornos através da apreciação e da venda final dos seus bens, que podem incluir pinturas, esculturas, desenhos, fotografias e outros9.

Um dos pontos principais que caracterizam esse modo de investimento é a permissão de aquisição de trabalhos de artistas cujos preços são de difícil acesso, mesmo que isso se dê através de um desfrute compartilhado com um grupo pequeno de investidores

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