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Resenha do Texto As Pulsões e Suas Vicissitudes (1915)

Por:   •  1/2/2018  •  2.265 Palavras (10 Páginas)  •  1.079 Visualizações

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A biologia ensina que a sexualidade é de natureza diferente das outras funções do indivíduo, pois suas finalidades ultrapassam o ser individual e visam a conservação da espécie. Mas, além disso, o indivíduo é a coisa principal, sendo seu papel na conservação da espécie, secundário. De outro ponto de vista, o indivíduo é um apêndice da espécie. A sexualidade também se diferencia das demais pulsões por uma química própria. A descoberta dos hormônios confirmou isso. O estudo das pulsões só pode ser feito por meio das pesquisas psicanalíticas, sendo difícil o estudo deles a partir da consciência. O estudo das neuroses de transferência possibilitou o conhecimento, da dinâmica e evolução, dos impulsos sexuais. É de esperar-se que o estudo das outras neuroses traga novos aportes sobre os impulsos do ego, embora não seja de se esperar que estas condições sejam comparáveis às que existiram até aqui. Além disso, as pulsões sexuais se diferenciam dos demais porque: são numerosas, emanam de várias fontes orgânicas, atuam independentemente uns dos outros, a princípio, e só alcançam a síntese, posteriormente,visam, a princípio, o prazer do órgão. Só quando a síntese é alcançada é que eles se colocam a serviço da reprodução, tornando identificáveis como sexuais, inicialmente são ligados aos instintos auto-preservativos, dos quais só aos poucos se separam, conservando contudo parte deles associadas as pulsões do ego, aos quais emprestam componentes libidinais, são capazes de agir vicariamente, uns pelos outros, são capazes de mudar de objetos. Nesses tópicos estão contidas as idéias de que as pulsões sexuais são, a princípio, pulsões parciais, orais, anais, sádicos etc, que caminham em direção a uma síntese sobre a “primazia dos genitais” e que visam, em primeiro lugar, o prazer e só ao fim dessa síntese, são colocados a serviço da reprodução. Ao longo de seu desenvolvimento, no correr da vida das pulsões sexuais ficam sujeitos às seguintes vicissitudes: reversão ao oposto, retorno em direção ao próprio ego, sublimação, repressão.

Visto que esse texto não tratará da sublimação nem da repressão, abordará os outros dois destinos das pulsões que podem ser consideradas como defesas porque impedem as pulsões de levar adiante suas finalidades. Esses tópicos foram tratados em trabalhos separados. O texto sobre repressão figura como apêndice a este trabalho. O texto sobre sublimação é um dos cinco textos metapsicológicos perdidos, mas o assunto é tratado também em “Sobre o Narcisismo: uma Introdução” - Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Imago Editora, 1974, vol. XIV

A reversão ao oposto pode ser dividida em dois processos: transformação de atividade em passividade, como na transformação do sadismo em masoquismo ou do voyeurismo em exibicionismo e reversão do conteúdo em seu oposto, como na mudança do amor em ódio e retorno em direção ao próprio ego. Torna-se plausível pela observação de que o masoquismo é o sadismo retornado em direção ao próprio indivíduo, da mesma forma que o exibicionismo abrange o olhar para o próprio corpo. Freud mudará de opinião em 1924 e postulará a existência de um masoquismo erógeno, primário. “O Problema Econômico do Masoquismo”, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Editora Imago, 1974, vol. XIX. O retorno em direção ao próprio ego afeta o objeto das pulsões, mantendo-se a finalidade. A reversão ao oposto afeta, principalmente, a finalidade da pulsão. A reversão ao oposto e o retorno em direção ao próprio ego às vezes coincidem, como nos exemplos acima. Temos o par sadismo/masoquismo, no qual tanto a finalidade quanto o alvo são afetados. Assim, o sadismo visa um objeto externo, esse objeto é abandonado e substituído pelo eu do indivíduo, operando-se uma mudança na finalidade da pulsão, de ativa para passiva. Uma pessoa externa é novamente procurada mas tem que ter agora o papel de sujeito, em virtude da modificação operada na finalidade da pulsão. Isto é o masoquismo.

Nosso conceito do sadismo fica ainda mais difícil se considerarmos que a sua finalidade aparente é de infringir dor, além de humilhar e dominar. Uma criança sádica não tem o desejo de infringir dor nem se apercebe de estar fazendo isso. Quando o sadismo se transforma em masoquismo a sensação de dor beira a excitação sexual. Uma vez que a finalidade masoquista seja estabelecida, se estabelece a finalidade sádica de causar dor, retrogressivamente, uma vez que a dor infringida a outra pessoa é fruída masoquisticamente pelo sujeito através da identificação com o sofredor. A dor é, então, masoquistica só podendo ser pulsional na pessoa originalmente sádica. A piedade é uma formação reativa contra o sadismo. A mesma coisa acontece com a escopofilia e com o exibicionismo. Há uma fase auto-erótica em que o olhar tem um objeto no próprio corpo, servindo, assim, a ambas as fases do par de oposto. Essa fase está ausente no sadismo que é, desde o início, dirigido para fora, embora não seria impossível imagina-la na tentativa da criança de dominar seus próprios músculos. Em ambos os casos podemos supor que a reversão da atividade à passividade e a consequente volta sobre si mesmo não atinge a totalidade das pulsões e que a finalidade original permanece inalterada, em alguma medida. Com relação ao voyeurismo, tanto a etapa auto-erótica quanto a ativa e passiva posterior, convivem uma com a outra. O fato de que o impulso ativo seja observado lado a lado com seu oposto, passivo, é bem assinalado pelo termo ambivalência, criado por Bleuler. A experiência mostra que a acentuada ambivalência dos seres humanos atuais se deve ao desenvolvimento das pulsões e que, no passado, os aspectos ativos foram mais atuantes do que são hoje. Não confundir Bleuler com Breuer. Bleuler era um psiquiatra da Clínica de Burgholzi, em Zurich, na Suíça, onde trabalhava Jung. Ele hoje é conhecido por ter introduzido na psicopatologia o termo “esquizofrenia”, em 1908. Foi um dos primeiros psiquiatras a aplicar métodos psicanalíticos às suas pesquisas. Na primeira década dos anos 1900 Jung foi seu assistente e ambos fizeram parte da Sociedade Psicanalítica de Viena. Ficamos tentados a denominar de narcisismo a fase inicial durante a qual as pulsões encontraram satisfações auto-eróticas. A fase preliminar do voyeurismo pode ser descrita, então, como narcisista. Na verdade existe uma diferença entre narcisismo e auto-erotismo. Freud tinha descrito o narcisismo no ano anterior a esse texto de 1915 e a idéia dele, embora já viesse sendo gestada há muito tempo ainda não tinha sofrido um total amadurecimento. Ver “Sobre o Narcisismo: uma

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