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Resenha - O caso Dora

Por:   •  1/11/2018  •  2.291 Palavras (10 Páginas)  •  476 Visualizações

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Durante o tratamento, a paciente contou que aos seus 14 anos o Sr. K armou um encontro com a mesma em sua loja, induzindo a situação para permitirem-lhes a ausência de todos, tendo estreitado Dora contra si e dando-lhe um beijo nos lábios, sendo este o primeiro momento de excitação sexual, porém, seguido de uma violenta repugnância. Nesta questão, houve um deslocamento, a sensação sadia de excitação genital foi convertida em desprazer, não se tornando permanente, porém, como resquício, Dora disse que continuou sentido uma pressão na parte superior do corpo após o ocorrido, formando assim três sintomas, repugnância, pressão na parte superior do corpo e evitação de afetuosidade com homens. A paciente afirma ser dada como moeda de troca pelo pai, pela complacência de aceitar a intimidade com sua esposa, Sra. K.

Dora alternava entre a saúde e a doença, assim como a Sra. K com a presença/ausência do marido – quando o Sr. K viajava estava perfeitamente saudável, em seu retorno, adoecia-, já Dora era ao contrário e a ausência do Sr. K lhe fazia sucumbir a afonia. Segundo Freud, Dora em se tratando na relação funcionava de forma antagônica a Sra. K, dando margem a seguinte interpretação de que adoeceria na ausência, e curar-se-ia na presença. Durante a análise, Freud oportunamente atribuiu a tosse da paciente a uma interpretação de uma situação sexual fantasiada – sexo oral -, que lhe acometia tão incessantemente que fazia-lhe ter estímulos que causavam lhe coceira na garganta, tendo em pouco tempo desaparecido a tosse.

Suscitando assim a ideia da natureza das manifestações de Dora, ao exigir que o pai escolhesse entre a Sra. K ou ela, pela ameaça de suicídio e todo o mais, ela colocara-se no lugar de sua mãe. E em se tratando de sua tosse e a situação sexual fantasiosa, colocava-se no lugar da Sra. K, logo, sua inclinação pelo pai inclinava-se a um apaixonamento por ele – negado pela paciente-, que neste caso, suscita o complexo de édipo. Tendo sido facilitadora da relação do pai com a Sra. K por anos, sua autocensura ligou o afeto pelo pai ao Sr. K, como um substituto psíquico. Nessa lógica, Freud propõe então o seguinte: Dora não queria que a relação extraconjugal do pai parecesse indecente, e sabendo das relações da Sra. K com o marido, identificava-se neste – Dora quer o pai, mas não pode tê-lo, e a Sra. K ama o pai de Dora mas possui um marido, o qual é substituto para Dora -, por causa da sua relação com o pai.

O PRIMEIRO SONHO

Neste sonho, que se passa repetidamente para ela, Dora relata o seguinte:

“.... Uma casa estava em chamas, papai estava ao lado da minha cama e me acordou. Vesti-me rapidamente. Mamãe ainda queria salvar sua caixa de joias, mais papai disse: “não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de joias”. Descemos a escada ás pressas e, logo que me vi do lado de fora acordei. ” Pg. 67.

O SEGUNDO SONHO

Passado algum tempo, Dora sonha novamente, e relata:

“.... Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas. Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui até o quarto e ali encontrei uma carta da mamãe. Dizia que, como eu saia de casa sem o conhecimento dos meus pais, ela não quisera escrever-me que o papai estava doente. Agora ele morreu e, se quiser você pode vir. “Fui então para estação e perguntei umas cem vezes: ” Onde fica a estação? ” Recebia a resposta: ” Cinco minutos. ”Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, a ali fiz a pergunta a um homem que eu encontrei. Disse-me: Mais duas horas e meia. Pediu-me que eu deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação a minha frente não conseguia alcançá-la. Aí me veio um sentimento habitual de angustia de quando, nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. “A criada abriu para mim e respondeu: A mamãe e os outros já estão no cemitério. ” Pg. 93.

POSFÁCIO

Na parte última do caso, Freud expõe que o livro é apenas um fragmento do total da análise, pois a analise não chegou a finalizar-se por conta de ter sido interrompido antecipadamente pela paciente. Sugerindo que o este livro seria um complemento de outro, no caso, “A interpretação dos sonhos” e de poder demonstrar em um caso a técnica psicanalítica de interpretação.

Três meses após o início do tratamento, Dora desiste mesmo tendo levado tão a sério. Suscitando a problemática da transferência negativa que engendrou todo o tratamento a homossexualidade que se desenrolava em Dora.

- Análise crítica:

O caso apresentado por Freud representa uma classe de neurose de quadro clinico variado, onde a paciente “Dora” apresenta sintomas clássicos da histeria, segundo o autor. Tendo relação com o recalcamento e o complexo de Édipo, existe diversos conflitos psíquicos inconsciente que acabam por se expressar em forma de simbolizações; uma memória lacunar, devido ao recalque, apresentando amnesias e ilusões de memória. Suscintamente, o sujeito histérico não resolve plenamente o complexo de Édipo e não sabendo evitar a castração, acaba rejeitando a sexualidade. Tendo sintomas conversivos apresentados desde cedo, Dora, inconscientemente relacionava tais fenômenos com um recalcamento ocorrido, tendo isso ficado claro após uma consulta médica viabilizar a saúde física da mesma

O texto do caso propõe diversas interpretações, e devido a sua curta duração, não preenche totalmente uma explicação concisa, porém, suscita que a tosse era relacionada a fixação oral fantasiosa de Dora em relação ao pai e a Sra. K e também a conversão histérica, que se assemelhava a tuberculose que o pai teve quando ela tinha seis anos de idade. No quadro do seu complexo de Édipo, Dora se apaixonou pelo pai, recalcou tal lembrança, porém fatores acabaram por trazer à tona esses sentimento e lembranças. A paciente na sua histeria identificava-se com o pai, como sujeito desejante, porém ocupava também o lugar de objeto de desejo, logo identificava-se com a Sra. K, o que a fazia sustentar a amizade com ela até que as lembranças voltam com mais força e ela começa a rejeitar veemente tal situação, tal qual sua relação com o Sr. K, substituto psíquico, que trouxe à tona toda a questão recalcada da paixão pelo pai.

É

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