O Acolhida de homens trans realizada por uma estudante de Psicologia inserida no ambulatório de ginecologia
Por: Hugo.bassi • 3/12/2018 • 1.821 Palavras (8 Páginas) • 303 Visualizações
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Como via-de-regra, a estudante de Psicologia teve que ouvir e não mostrar nenhuma reação, seja positiva ou negativa. Em certos momentos, houve complicações em não demonstrar raiva e pena para com os agressores, visto que os mesmos realizam a transfobia explicitamente com o objetivo de chamar a atenção e/ou impor o que pensa ser correto na sua visão de vida, sem ao menos tentar entender o que aquela pessoa passa.
Outra queixa pertinente foi sobre a questão do nome social, em que 56,25% dos homens transexuais reclamaram, afirmando ser algo muito simples e que mudaria o dia deles caso fossem chamados pelos nomes que se identificam.
“Passei para o curso de Engenharia Civil de lá e foi a primeira vez que eu tentei usar o nome social e foi horrível. Professores não aderiram e a coordenação se absteve. Fui alvo de piadas e entrei num processo de depressão.”
“São muitos (os obstáculos), mas o maior é o atendimento mesmo. Existem muitos lugares que não são como aqui, não nos chamam pelo nome social.”
O uso do nome social também foi entendido como algo simples, que poderia ser colocado ao menos como foi colocado neste ambulatório: cada paciente tinha sua pasta e na frente da mesma, tinha o nome social em maiúsculo e em forma grande e o nome civil era posto em minúsculo e numa forma bem menor, com o objetivo de não chamar a atenção de um nome que eles gostariam de nunca ter existido.
Houve um agradecimento por parte de 87,50% dos pacientes pelo fato das pessoas do ambulatório (desde as secretárias aos profissionais de saúde) terem chamado os pacientes pelo seu nome social. Porém, 12,50% dos pacientes reclamaram do atendimento das secretárias, que em certo momento, erraram o nome de dois homens transexuais e os mesmos se sentiram ofendidos e vieram reclamar dentro das entrevistas. Neste caso em especifico, houve uma frustração dos próprios profissionais por ter tido vasto trabalho para fazer todos entenderem do significado grandioso de chamar um homem transexual pelo seu nome social. Foi um momento de decepção, não com os pacientes nem com as secretárias, mas um sentimento interno de desapontamento.
Trazendo para a discussão outra queixa, a invisibilidade foi relatada por 18,75% dos pacientes. Houve um caso com um paciente específico (que foi o do segundo relato sobre a invisibilidade), que falou de forma mais ampla da falta de visibilidade que os homens transexuais têm e no quanto isso acarreta em sintomas como depressão, ansiedade, síndrome do pânico; o mesmo comentou que já tinha até pensado em suicídio por se sentir invisível num mundo onde todas as pessoas cis são visíveis.
“Sendo bem sincero, a visibilidade da homofobia é tão grande quanto à invisibilidade da transfobia. E digo mais, a transfobia com mulheres trans é muito menor que com homens trans.”
“Já tive dois amigos meus que se suicidaram e eu não vou mentir que também já pensei em me matar quando entrei em depressão; por conta disso, da nossa invisibilidade.”
Após o relato, o paciente pediu para que parasse a gravação e conversasse com ele, não mais como estudante de Psicologia e paciente, mas como duas pessoas que queriam que a transexualidade fosse vista como algo normal. Foram cerca de 40 minutos dissertando sobre tal fato. Ao final da entrevista, era como se a sala, que antes estava cercada de grades e proibições (por conta da ética dentro da Psicologia de não poder expressar nenhuma sentimento pela pessoa e pelo que fala), estivesse se transformado num local aonde pessoas comuns vão para conversar sobre o que quiserem conversar.
Como ultimo ponto de queixa, o machismo foi introduzido para debate por 81,25% dos pacientes. Por serem todos naturais da região Nordeste do Brasil, considerada a senso comum como a região mais machista do Brasil, muitos dos transexuais se sentem na condição de terem de ser machistas para serem considerados ‘homens de verdade’.
“Os homens trans são muito machistas. Eles sofreram tanto com isso e acreditam que para se tornar um homem tem que ser igual à maioria dos homens, sendo machistas. Eles fazem isso porque tem medo de mostrar alguma feminilidade. Medo de ser agredido por homem.”
Portanto, faz-se um levantamento de todas essas questões e é posto como ponto para debate o motivo de tanto preconceito com pessoas que não pedem coisas complexas ou absurdas, mas coisas que eram para ser delas desde o princípio.
CONCLUSÃO
Os estudos de sexualidade são um desafio contínuo para os cursos de formação em saúde coletiva e mental, pois é notória a falta de informação até mesmo dos profissionais de saúde em relação à transexualidade.
Sabemos da falta de assistência para com essa questão, fazendo com que os transexuais se sintam vulneráveis, não somente em relação às políticas publicas de saúde, mas psicologicamente e fisicamente.
Prevalece ainda uma carência de leis que defendam os interesses do transexual; é necessário que se ponha em pauta uma lei que vise punir rigorosamente indivíduos e grupos que se unem para praticar a homofobia ou qualquer outro tipo de atos ou discriminação que venham ferir os direitos humanos de portadores da anomalia da transexualidade e dos homossexuais, pois estes sofrem maiores riscos de violência diante da psicologia doentia de neuróticos com falso entendimento de justiça própria.
Portanto, faz-se necessário o envolvimento e participação das políticas públicas que organizam serviços para apoiar as necessidades dos transexuais, respeitando o que deveria ser deles de direito.
REFERÊNCIAS
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AVILA, Simone; GROSSI, Miriam Pillar. “Maria, Maria João, João: reflexões sobre a transexperiência masculina”. In: Fazendo gênero 9: diásporas, diversidade, deslocamentos, 23 a 26 de agosto de 2010, Florianópolis. Disponível em: Acesso Em: 13 ago. 2011.
BENTO, Berenice. A reinvenção corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
CARVALHO, Koich Kameda de Figueiredo. Transexualidade e cidadania:
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