Corpo e Cultura
Por: Carolina234 • 28/2/2018 • 1.256 Palavras (6 Páginas) • 283 Visualizações
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Seria impossível enumerar todas as penalidades sofridas por quem foge dos estereótipos de
gênero biológico e sexualidade, e estas são aplicadas desde muito cedo, seja com o bullying,
agressões físicas e, até mesmo, abusos sexuais. Dentre as várias oportunidades de repreender esses
indivíduos, as pioneiras são as aulas de educação física.
A disciplina que preza a disciplinarização dos corpos é marcada pelo predomínio de uma
tradição biológica/tecnicista arraigada em sua prática. Isso é percebido na divisão das atividades
escolares entre meninos e meninas, o que fortalece os padrões e estereótipos de gêneros. 3
Essa
divisão machista, que se caracteriza pela inserção de meninos em esportes mais agressivos em razão
da “brutalidade” masculina e de meninas em danças e esportes mais leves por sua “delicadeza”, é
um dos motivos que levam a discriminação de “meninos delicados” e “meninas brutas”.
A Educação Física, em geral, fundamenta seu projeto de separação dos
sexos no sentido do corpo como algo biológico e, ao mesmo tempo, na
construção do corpo feminino mais fraco – “por natureza” – que o
masculino, reforçando o poder dos homens sobre as mulheres na escala
2 “Fronteiras simbólicas: Gênero, corpo e sexualidade” (HEILBORN) (2002).
3 Corpo e Gênero nas Práticas Escolares de Educação Física (LIMA; DINIS) (2007).
social.
(SOUSA, 1994)
“Existe um poder histórico enraizado na nossa sociedade que caracteriza o corpo feminino
como uma versão inferior e invertida do masculino” (LOURO, 1999). Para a autora Helena
Altmann (2009), seria um engano pensar que o corpo é apenas regido por leis fisiológicas, o corpo e
as relações de gênero são socialmente produzidos, também dentro dos currículos escolares. O corpo
feminino, portanto, não pode ser visto como biologicamente mais frágil, pois sua fragilidade, na
verdade, é construída socialmente, se não, não haveria corpos masculinos apresentando-se frágeis e
delicados. Aliás, esse é um ponto alto de discursão na relação entre corpo e gênero, chamado de
transtorno de gênero, enfrentado, principalmente, pelos vulgos “travestis”.
As travestis seriam homens que gostam de se relacionar sexual e
afetivamente com outros homens, mas que para tanto procuram inserir em
seus corpos símbolos do que socialmente é tido como próprio do feminino.
Porém, não desejam extirpar sua genitália, com a qual, geralmente,
convivem sem grandes conflitos. Mas, não basta se vestir de mulher para ser
travesti. Para Claudinha Delavatti, travesti já falecida, “travesti que não
toma hormônio não é travesti, pensa que é carnaval e sai fantasiado de
mulher” (citado por Lopes 1995:225).
(PELÚCIO, 2004)
“O sexo (enquanto atributo anatômico) da travesti é masculino (...)” (PELÚCIO, 2004), mas
qual é o seu gênero? “Travestis são TRANSgênero, perpassam o criticado binarismo macho/fêmea,
masculino/feminino” (PELÚCIO, 2004).
Para finalizar, segundo Pelúcio, dentro dos padrões normativos que regulam
comportamentos públicos e privados, existe uma clara definição do que seria próprio da mulher e o
que pertenceria ao universo masculino:
MASCULINO FEMININO
Ativo Passivo
Racional Passional
O que manda O que obedece
Pênis Peito
Músculo Carne
Pêlos Sem pêlos4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
4 Travestis, a (re)construção do feminino (PELÚCIO) (2004)
Apresentei nesse artigo uma visível oposição que há na sociedade entre os gêneros, que,
segundo aponta a antropologia, desde há muitos anos produz o feminino inferior ao masculino,
característica notável até mesmo na construção do corpo, julgando que a fragilidade da mulher é de
natureza fisiológica, o que é mentira, visto que indivíduos do sexo masculino que se identificam
com o gênero feminino, também carregam consigo essa fragilidade - que resulta na discriminação
desses sujeitos desde muito jovens. Além disso, a virilidade e a característica de dominação que é
dada ao sexo masculino se apresentam também na sexualidade, o que não poderia ser diferente, já
que é comum nossa personalidade ser expressa através do sexo.
Diante desses aspectos que constrói parte da população como incapaz, frágil, passional, com
importância apenas pelo valor sexual e de reprodução, é fundamental que se desconstrua os padrões
normativos de gênero/sexualidade/corpo. O fim da discriminação da mulher e de LGBT (Lésbicas,
Gays, Bissexuais e Transexuais) poderiam ser resultados dessa mudança.
Por fim, ressalto a importância que a Educação Física detém nesse processo
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