Trabalho Final de Política Externa Brasileira para América Latina
Por: Salezio.Francisco • 25/3/2018 • 2.003 Palavras (9 Páginas) • 521 Visualizações
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Esse "desencanto" com a política - refletido pela crise no Brasil e pelas eleições presidenciais de Argentina e Peru - pode indicar o surgimento de uma nova etapa na América Latina, com "lideranças mais fracas", sem as figuras populares do início deste século, e "ciclos políticos mais rápidos", opina Cavarozzi, doutorado pela Universidade de Berkeley (EUA), em entrevista à BBC Brasil.
Veja os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - As ultimas eleições presidenciais de Brasil, Argentina e Peru foram bem disputadas. No Peru, a diferença foi ainda mais dramática (Pedro Pablo Kuczynski venceu por menos de 1%). O que está acontecendo?
Marcelo Cavarozzi - Acho que existem pontos em comum no caso de Brasil e Argentina. Mas o Peru é diferente: nesta eleição, como na anterior, as forças políticas queriam impedir que (a candidata) Keiko Fujimori chegasse à Presidência. Muitos votaram em Pedro Pablo Kuczynski (conhecido como PPK) para que Keiko não ganhasse - e ele, como seus antecessores ao longo da história peruana, será um presidente fraco, sem capacidade de mudar nada.
BBC Brasil - Por quê? Pelo resultado eleitoral?
Cavarozzi - Ele foi eleito sem apoio de força partidária, com um Congresso opositor (a maioria do Parlamento é ligada a Keiko), e curiosamente, apesar de ser um liberal apoiado pelo eleitorado de direita, recebeu apoio da esquerda. O Peru tem uma história diferente do Brasil e da Argentina, que têm trajetórias de Estados mais consolidados.
BBC Brasil - Mas apesar de perfis diferentes, nos três casos - Brasil, Argentina e Peru - os resultados foram mais apertados nas últimas eleições. Foi o eleitor que mudou? Por que um líder já não reúne mais a maioria dos votos como ocorreu até recentemente?
Cavarozzi - No Peru não havia nenhum líder que aglutinasse nada, nenhuma figura forte. Mas o problema, e nisso os três países se parecem, é que apesar de a pobreza ter caído, a desigualdade se manteve. E quando o pobre é menos pobre e o rico é mais rico, essa percepção da desigualdade persistente gera indignação e rejeição política.
BBC Brasil - Decepção do eleitor com a política?
Cavarozzi - Mais que decepção, existe um desencanto com a política. E por mais que nestes anos tenham ocorrido melhoras para os setores populares, essa profunda desigualdade social contribui para a seguinte percepção: 'estou melhor graças ao meu esforço'.
BBC Brasil - Qual é sua percepção hoje sobre a América Latina?
Cavarozzi - Sou pessimista. No início do século, parecia haver alternativas. (O ex-presidente colombiano Alvaro) Uribe era uma alternativa. De direita, mas uma alternativa. Mais claramente o PT, no Brasil, os Kirchner, na Argentina, o chavismo (na Venezuela). Evo (Morales), na Bolívia, apesar de Evo estar indo muito melhor que o restante. Eles simbolizavam a mensagem de que a política pode fazer algo. O fracasso destas experiências leva à pergunta: 'e agora, o quê'? Acho que estamos num período de longa transição, para onde não sabemos.
BBC Brasil - Qual é sua opinião sobre o Brasil de hoje, com Michel Temer na Presidência e Dilma Rousseff afastada?
Cavarozzi - Me parece complicado que Temer termine o mandato de dois anos. Evidentemente, antes, ele tem que conseguir o impeachment (de Dilma). Mas em pouco tempo, ele já perdeu três ministros, incluindo o de Transparência.
BBC Brasil - Vamos para um caminho mais democrático?
Cavarozzi - Acho que o risco que temos na América Latina, e por isso sou pessimista, é que a gente tenha mudanças rápidas, que nenhuma etapa política seja consolidada. Que é o que ocorre no Peru. Lideranças fracas e a dificuldade ou impossibilidade de um líder fazer sucessor. Ciclos políticos curtos.
BBC Brasil - Uma fragilidade da política?
Cavarozzi - Exatamente. Nenhum projeto político que consiga ser consolidado.
BBC Brasil - Na sua visão, a política se enfraquece e a democracia também?
Cavarozzi - Claro. (São) democracias frágeis, que não conseguem se consolidar, mas sem ameaças do passado, como as militares.
BBC Brasil - Como são as democracias frágeis?
Cavarozzi - Não é que vai haver ruptura democrática macro, mas sim rupturas micro da democracia, como no México, onde por exemplo muitos territórios são governados por "máfias", quadrilhas, que fazem o que querem, e o Estado não demonstra capacidade política para recuperá-los. O risco que temos hoje em muitos países da América Latina é mantermos uma crosta de legalidade democrática, mas que no fundo inclui estas máfias, estes governos paralelos e que têm a ver com a vida cotidiana das pessoas.
BBC Brasil - Um desgoverno?
Cavarozzi - Governos paralelos. E com Estados tão fracos, com políticos encurralados que dependem sempre de ganhar a próxima eleição para continuar com apoio para governar.
BBC Brasil - O senhor acha que esses fatores estão vinculados - fragilidade da política, 'governos' paralelos e o desencanto eleitoral com a política?
Cavarozzi - Claramente. O eleitor percebe que a política não é capaz de melhorar a sua vida cotidiana, não é capaz de resolver questões fundamentais, como a segurança pública e sua vida econômica.
BBC Brasil - O eleitor destes países ficou mais exigente? Mais informado?
Cavarozzi - Na minha opinião, não existe um eleitor comum, mas sim diferentes setores que votam por diferentes motivos. Eu acho que, no geral, o nível de informação sobre a política, se você olhar as pesquisas regionais, mostram que em todos os países é maior o desinteresse pela política. Isto é claro em toda a América Latina.
Existe um desencanto com a política em todo o continente. Não importa se o governo foi ou é de esquerda ou de direita. Existe uma crise generalizada da política que ocorre também no Chile, onde o índice de abstenção nas eleições é altíssimo e isso também está ligado ao desencanto com a política.
BBC Brasil - Quais seriam as razões para este desencanto?
Cavarozzi - Muitos
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