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Preconceito contra a Homossexualidade: Uma Perceção Geracional

Por:   •  9/3/2018  •  6.652 Palavras (27 Páginas)  •  359 Visualizações

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Parece ser inquestionável de que o preconceito conseguirá ter forma e voz enquanto os estereótipos se perpetuarem na realidade que não evitamos: abordagem da inevitabilidade do preconceito (Devine, 1989). No entanto, para Ehrlich (1973, cit. por Devine, 1989) este tipo de atitudes étnicas estereotipadas têm origem no seio cultural das sociedades, no qual ninguém está ileso de as adquirir. Posto isto, estas atitudes e crenças estão de tal forma enraizadas nos indivíduos, que o grande desafio parece residir na forma de alterar todo esse processo. A autora defende que esta mudança no processo do preconceito e de estereótipo poderá ser feita com recurso aos mecanismos cognitivos de cada um, tendo por base uma intenção na mudança, atenção e uma certa disponibilidade temporal. Durante toda esta alteração no processamento da informação automática preconceituosa, é imperativo que o indivíduo faça uma alteração propositada da activação de ideias não preconceituosas (Devine, 1989).

Assim como refere Bauman (2008), atravessamos um mundo imerso de incertezas constantes, no qual cada um vive, cada vez mais para cada qual, ignorando o outro e a(s) diferença(s) do outro. Vivemos tempos mergulhados de relações instáveis e cada vez mais líquidas, no qual existe implicitamente uma facilidade irremediável de nos desconectarmos uns dos outros. Estes laços são fomentados pela sociedade actual, no qual as pessoas são encaradas como bens consumíveis, sendo que, se as mesmas apresentem algum defeito, são facilmente descartadas ou ainda substituídas por “versões mais aperfeiçoadas ou actualizadas”. Consequentemente, o autor faz um alerta, com uma dança de metáforas, de que se torna imprescindível e urgente que cada um tome consciência do outro e da presença da individualidade de cada um.

O sentido de cidadania actual, esboça inequivocamente uma clara distinção entre o “nós” e o “eles”, acentuando a permanente diferença entre “uns” e “outros”. No qual a polarização é evidente: em que determinados indivíduos se reconhecem com sentido de pertença à condição de integração social, com a devida identidade e participação, e outros se sentem excluídos e posteriormente são “extraídos” da sociedade (Carneiro, 2006). Visto que há uma emergência no sentido de romper com esta regra a “diferença somos nós” (Stoer & Magalhães, 2005, cit. por Carneiro, 2006). Assim, e em postulação das condições que se baseiam na desigualdade e no reconhecimento social, a luta colectiva pela defesa das identidades minoritárias é imperativa. Kymlicka e Norman (2000) mencionam que existindo uma defesa significativa pelos direitos das minorias, poderá resultar num estímulo determinante para que os grupos alienados experienciem o sentimento de pertença para com a sociedade que os integra. É então importante de postular de que o sentido de perseverança no que respeita ao reconhecimento da igualdade não descarta as diferentes necessidades dos sujeitos (Carneiro, 2009).

Homossexualidade e Discriminação Geracional

Primordialmente é significativo salientar de que as crenças vão sendo solidificadas e perpetuadas através de um processo cíclico: são alimentadas através do processamento da informação enviesada que, por conseguinte e irremediavelmente, as torna impermeáveis à lógica (Martins, 2013).

Apesar de toda resistência das crenças e dos estereótipos internalizados nas sociedades, que parecem não sucumbir com a passagem dos tempos, é importante ressalvar de que a identidade sexual dos indivíduos prende-se a processos psicológicos, sociais e culturais que estão para além de factores orgânicos, no qual é possível destacar a identidade de género; os papéis sexuais sociais; e a orientação sexual (Pereira, 2005). É pertinente enunciar de que questão da homossexualidade é tão antiga como a própria história da humanidade, sendo mesmo transversal a todas as fases históricas e a todas as culturas percorridas (Frazão & Rosário, 2008). Porém, a única divergência encontrada, com a passagem dos tempos, centra-se única e exclusivamente na natureza da atribuição dos juízos morais associados (Carvalho Teixeira & Barroso, 1993). Esta perspectiva adoptada pelas culturas dominantes, com cariz negativo inerente, é claramente manifestada através da constante condenação social, moral e legal (Frazão & Rosário, 2008).

Tal como Carvalho Teixeira e Barroso (1993) referenciam que se só existe um caminho, não existe escolha, deste modo, é pertinente que as questões associadas às “escolhas” da orientação sexual sejam desmistificadas, visto que a “orientação” é por si só o caminho. Deste modo, um indivíduo que se sinta atraído por outro indivíduo do mesmo sexo, tem tanta opção de escolha, como um indivíduo que se sinta atraído por outro do sexo oposto. Savin-Williams (1990, cit. Por Pereira, Leal e Maroco, 2010) caracteriza a orientação sexual como uma atracção emocional e afectiva, que é revelada pelo indivíduo através da demonstração de sentimentos, fantasias e comportamentos sexuais para com outro indivíduo de determinado género. No entanto, e actualmente, é considerado uma missão impossível que uma pessoa com orientação homossexual não seja confrontada com as metáforas alimentadas pelos estereótipos (e.g., associar a metáfora da SIDA à ideia de homossexualidade; visão de “perversão sexual” no que respeita à orientação homossexual, etc) (Carvalho Teixeira & Barroso, 1993). Neste sentido, o facto de existir esta perpetuação de mentalidades no que cerne à orientação sexual de cada um, constitui um forte indício de que não só não existe uma voz audível capaz de fazer mobilizar as crenças enraizadas (Carneiro, 2006), como nos faz a todos nós culpados pelo silêncio à “não-mudança” (Gruen, 1997).

No que respeita à homossexualidade, têm sido abordadas diferentes questões nas mais divergentes áreas, todas elas evocando diferenças diametralmente significativas à considerada “norma”. Sendo que é classificada como um “distúrbio” da orientação sexual; um “desvio” do objecto sexual; uma “paragem” do desenvolvimento; uma “fixação” da figura materna; um sentido de “angústia” de castração; uma “disfunção” do hipotálamo; ou ainda um “condicionamento” de ansiedade provocado pela aproximação de mulheres ou de homens (Carvalho Teixeira & Barroso, 1993). Como enunciado, muitas têm sido as controvérsias ao longo dos tempos associadas à orientação sexual dos indivíduos, nomeadamente a necessidade de patologizar a homossexualidade enquanto perturbação e/ou perversão. A ponte erguida de modo

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