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O longo século XX - A dialética entre mercado e planejamento.

Por:   •  28/9/2017  •  1.721 Palavras (7 Páginas)  •  712 Visualizações

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O quarto ciclo sistêmico de acumulação (norte-americano)

A belle époque marcou o ápice do imperialismo de livre comércio inglês. Porém, o maior problema do regime britânico, a intensidade da competição intercapitalista, ainda era latente. A alta dos preços na década de 1890 propiciada pela corrida armamentista entre as potências havia amenizado a intensa competição capitalista marcada pela Grande Depressão (1873-96). Porém, as duas décadas seguintes de crescimento das taxas de lucro da burguesia foram barradas pelo aumento dos gastos em proteção que culminaram na Primeira Guerra Mundial. Como resultado da Primeira Guerra, o destino financeiro dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha foram invertidos em boa medida. Com os excedentes da balança comercial americana e seus créditos de guerra, os Estados Unidos equipararam-se à Inglaterra na produção e regulação do dinheiro mundial, o dólar americano tornou-se uma moeda de reserva, tal como a libra esterlina. Todavia, a capacidade dos Estados Unidos de administrar o sistema monetário mundial continuava inferior à britânica. Em 1928, a alta de Wall Street começou a desviar os recursos dos empréstimos externos para especulação interna. À medida que os bancos dos Estados Unidos cancelaram seus empréstimos europeus, a exportação líquida de capitais norte-americanos despencou. Com a quebra de Wall Street os países foram obrigados a adotar medidas para proteger suas moedas. No fim da Segunda Guerra Mundial foram estabelecidas as novas bases do sistema monetário mundial, novos meios de violência (nuclear) e novas regras de legitimação da gestão do Estado e da guerra. A centralização do poder financeiro mundial em direção aos Estados Unidos foi ainda maior, uma versão ampliada do que já havia acontecido na Primeira Guerra Mundial. Em 1947, as reservas de ouro norte-americanas equivaliam a 70% do total mundial. Nota-se que a derrocada final da economia mundial centrada na Inglaterra foi muito positiva para os Estados Unidos. Essa experiência foi mais um exemplo de enriquecimento em meio ao caos sistêmico como já havia experimentado Veneza no século XV, Províncias Unidas, no XVII e Reino Unido, no XVIII.

Arrighi faz uma distinção entre o regime de acumulação britânico e americano. O primeiro chama de economia nacional extrovertida onde ramos da atividade econômica britânica estabeleceram laços mais fortes de complementaridade com economias de países coloniais e outros. Predomínio de empresas muito descentralizadas e diversificadas, o que dificultou a restrição de novos concorrentes. No segundo há uma natureza autocentrada que se tornou base do processo de internacionalização do mercado mundial através das corporações horizontais gigantescas. Essa formação de conglomerados com alta capacidade de barrar a concorrência também foi seguida pela Alemanha.

O capitalismo de corporações dos Estados Unidos foi um poderoso agente de destruição das estruturas de acumulação do capitalismo de mercado britânico e de centralização de liquidez, poder aquisitivo e capacidade produtiva. A “invenção” da Guerra Fria permitiu ao governo dos Estados Unidos restringirem somente à Europa Ocidental e ao Japão como vitrines do mundo livre à imagem americana.

Nos anos 1970 o volume das transações puramente monetárias ultrapassava em muitas vezes o comércio mundial (fim da paridade ouro-dólar). A partir de então foi impossível conter a expansão financeira mundial. O que Gilpin chamou de “revolução financeira global”. Os fluxos financeiros superaram, e muito, o crescimento do comércio e produção globais em termos quantitativos.

A dinâmica da crise global

Nas décadas de 1970 e 1980 a expansão financeira parece ter se tornado a tendência predominante no processo de acumulação. Porém, não é algo novo. Expansões financeiras desse tipo ocorrem desde o século XIV como resultado do aumento de pressões competitivas decorrentes de expansões comerciais e produtivas. Obviamente, a escala atual é muito maior em função dos blocos ainda mais poderosos de organizações governamentais e empresariais.

O regime norte-americano deu sinal de crise eminente entre 1968 e 1973 em três esferas distintas: militar, financeira e ideológica. Por meio do aumento da inflação e da desordem monetário da década de 1970 pode-se identificar a dinâmica típica de crises de todos os ciclos sistêmicos de acumulação, onde a rápida expansão do comércio e da produção aumentou a competição entre os principais promotores dessas expansões de modo que provocou desequilíbrios dos lucros do capital. Em 1978, o governo norte-americano estava diante de um confronto com a comunidade financeira cosmopolita, que controlava o mercado de eurodivisas (caso continuasse com sua política monetária frouxa). Para buscar uma acomodação, no fim do governo Carter o governo buscou uma aliança entre o poder estatal e o capital e assim impôs uma política monetária rigorosa. Obteve como resultado a belle époque da era Reagan. Arrighi, tal como Hobsbawm e Braudel, destacam grandes similaridades entre a influência crescente das finanças norte-americanas na década de 1980, na Inglaterra da época eduardiana, na Holanda dos chinós e na Espanha na era dos genoveses. A preocupação excessiva com finanças e tolerância para com as dívidas sinalizam os estágios finais de grandes potências e seu declínio econômico.

O estudo de Arrighi também mostra como existe uma polarização social frente ao impacto da expansão financeira como se observa desde a Florença renascentista onde os efeitos da polarização social da financeirização foram mais notáveis. As mesmas expansões financeiras também propiciaram a concentração de capital em escala mundial. Porém, antes de todas as fases de expansão financeira

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