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O alargamento da agenda de segurança russa em detrimento do conflito irregular checheno e consequência terrorista dentro de suas fronteiras.

Por:   •  17/10/2018  •  3.942 Palavras (16 Páginas)  •  365 Visualizações

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Para o ocidente, em 1991 a Rússia deixa de ser um inimigo, as relações econômicas estreitaram, em especial durante os governos de Clinton-Ieltsin, a economia russa depois de quatro décadas de guerra fria está apta ao capital estrangeiro. São nestas condições de globalização que a agenda de segurança passa por uma reformulação de prioridades. Buzan (1997) afirma categoricamente, “À medida que a União Soviética retirou o desafio militar e ideológico, e depois implodiu, a lógica político-militar do sistema de segurança da Guerra Fria evaporou.” BUZAN (1997, p.5, tradução nossa[1]) No mesmo ano que se dissolve a URSS a república da Chechênia se proclama independente, nestas condições a ameaça à segurança nacional aparece como um novo dilema, em uma esfera doméstica e que tem diversos fatores que estão além da ótica Clausewitziana de impor a própria vontade. Neste caso temos a reivindicação chechena para o estabelecimento de um Estado soberano por sempre estar a margem dos costumes, religião e cultura dos russos, ou seja, é algo que parte da identidade social dos povos da Chechênia, e temos a posição resoluta da Rússia em manter a integridade territorial com duas preocupações basilares, sendo a primeira o receio que o governo tinha concernente ao efeito dominó de uma possível independência chechena, o que instigaria outras províncias autônomas no Cáucaso a suscitarem movimentos separatistas e com a presença do radicalismo islâmico nessa região acarretar numa profunda ameaça à nação russa, e a outra inquietação se dá puramente por uma questão econômica, onde essa região é demasiadamente rica em petróleo e gás natural, e custaria bilhões a receita russa um eventual processo de independência.

A ideia de ameaça para Buzan, Waever e Wild (1998) na esfera societal, “o objeto referente é a identidade coletiva em grande escala que pode funcionar independentemente do Estado, como as nações e religiões” (BUZAN, WAEVER, WILD, 1998, p. 22-23, tradução nossa[2]). No caso checheno se observa um sentimento coletivo de ‘não pertencimento’ ao que engloba as fronteiras russas, essa situação separatista tem caráter relevante de ameaça o que se concretizou posteriormente no ano de 1993, um conflito com finalidade de independência.

Antes de entender a lógica do conflito checheno em si, deve-se buscar analisar o inédito contexto de globalização no qual o país sede do comunismo se encontrava, e os reflexos desta realidade na agenda de segurança foram quase imediatas, pois uma série de tensões afloraram por consequência da dissolução do bloco comunista. A prioridade passara a ser em uma esfera regional e doméstica, e a ameaça já não mais se encontrava na América. Contudo o arcabouço teórico ainda estava arreigado as questões tradicionais de segurança e ameaça, por mais que os Estados, em especial a Rússia, percebiam a necessidade da adoção de um novo método para pensar a segurança nacional, a comunidade científica ainda respaldava a esfera militar como centro das questões de segurança. Smith (2006) citando Baldwin (1995) escreve que o autor ainda influenciado pela a ótica tradicionalista no pós-guerra fria direciona para uma lacuna teórica neste período:

Em suma, o campo dos estudos de segurança parece estar mal preparado para lidar com o mundo pós-guerra fria, tendo emergido da guerra fria com uma concepção militar estreita de segurança nacional... A sua preocupação com o estado militar limita sua capacidade de abordar muitos dos problemas externos e domésticos que não são passíveis de segurança militar. (BALDWIN apud SMITH, 2006, p. 37, tradução nossa[3]).

Mas com o advento das conjecturas da escola de Copenhague, pode-se analisar de forma mais concreta o conflito caucasiano. Como já mencionado neste artigo, as ameaças societais estão tão presente como as ameaças militares e políticas. Estas últimas duas, como consequências de um arranjo coletivo de identidade, que interpassa questões de soberania ao viés ideológico de uma sociedade. Como elucida Buzan, Waever, Wild (1998): “No setor político, as ameaças existenciais são tradicionalmente definidas em termos do princípio constituinte - a soberania, mas às vezes, também, ideologia - do Estado.” (BUZAN; WAEVER; WILD, 1998, p. 22, tradução nossa[4]). Por maior que os estudos pós-guerra fria assumem um caráter reflexivo, pode-se observar que as eclosões das guerras chechenas se enquadram com certa simetria na tipificação de ameaça e segurança, as questões de soberania, ideologia, religião, identidade, faz com que a Rússia assuma, segundo a escola de Copenhague, um caráter de ‘Estado fraco’ como Tanno (2003) suscita em sua obra:

Nos dias de hoje, o aumento na densidade de interação entre as unidades do sistema internacional gera ameaças tanto para Estados quanto para nações. Mais freqüentemente, ameaças societais encontram-se em Estados fracos, em que sociedade e Estados não se harmonizam. Nestes, os próprios governos poderão ameaçar identidades que lhes são hostis. (TANNO, Grace, 2003, p.65)

Como a introdução deste trabalho apresenta, à relação entre os povos caucasianos e os russos eslavos, nunca se desenvolveram de forma amistosa, desde o império russo que os chechenos, em especial, convivem mais com concessões do que com conquistas ao longo dos séculos. Os entraves históricos também são respaldados no arcabouço teórico da escola de Copenhague, o autor Tanno (2003) continua: “É importante frisar que a identificação das ameaças societais depende, em grande medida, de percepções históricas e não envolvem, necessariamente, avaliação objetiva.” (TANNO, Grace, 2003, p.65).

Tendo feito um breve recorte da origem do conflito e de suas motivações ideológicas que abarcam religião, cultura, língua e as motivações politica-militar como território, nação, soberania e legitimidade de um governo, deve-se entender agora o conflito em si. Este trabalho agora buscará entender como se organizaram as forças e atores que perpetraram os danos, como os movimentos separatistas atuaram para desestabilizar o governo russo, quais foram suas táticas e comportamento durante e após o conflito. Sabendo que a doutrina soviética de segurança ruiria junto com o seu regime e como a autora Rothschild (1995) já elucidava em seu escrito:

É apenas com a desintegração total do poder militar soviético, ou melhor, com o desengajamento no início da década de 1990, do poder militar russo e da retórica soviética da revolução, que a militarização do confronto político continental chegou a um final pelo menos temporário.[5] (ROTHSCHILD, Emma, 1995, p.65, tradução nossa).

Conflito

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