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CONFLITOS POLÍTICOS E CONFRONTOS ENTRE O ARCAICO/MODERNO NO SERTÃO

Por:   •  25/11/2017  •  5.401 Palavras (22 Páginas)  •  416 Visualizações

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Princesa, uma cidade localizada no sertão paraibano, contava entre as décadas de 1920-30, com um desenvolvimento social, politico e econômico bastante relevante em relação a tantas outras. A cidade é conhecida pela historiografia em seu aspecto politico, por ter sido palco da tão conhecida “Revolta de Princesa”. Confronto politico acirrado entre o presidente da Parahyba João Pessoa e uma autoridade local da cidade, o coronel José Pereira. Como cita Mariano (1999, p. 03), o conflito constituiu-se “numa resposta do sistema coronelístico – atingido em seus privilégios – às modificações introduzidas pela administração de João Pessoa”.

Como todo historiador que se prese, aprendemos no decorrer de nossa formação que os fatos históricos, passam a construir diversas ramificações ao serem analisados por diferentes pontos de vistas. É como base nisso, que segundo Keith Jenkins (2004) a história é um discurso que tem como objeto de estudo o passado, mas que pode ser interpretada de diferentes formas dependendo de quem á analisa. A autora, nessa perspectiva coloca que a história pode ser definida como uma teoria, ou seja, que a partir de diversas interpretações constrói uma série de discursos a respeito da realidade.

Atualmente estamos imersos em um mundo tecnológico que absorve para si, grande parte dos discursos que circulam no meio social. As disputas politicas são alvo de grande repercussão. A historiografia cumpre seu papel, em nos fornecer explicações dos fatos, e o mundo tecnológico também ocupa seu espaço nesse ramo. Diversas produções cinematográficas são produzidas no intuito de nos lançar mais uma versão sobre períodos históricos.

De acordo com Rita de Kasia Andrade Amaral (2015, p. 09),

O cinema estará relacionado ao contexto de representação. A palavra representação possui o significado de um ato de criar ou recriar um determinado objeto, dando-lhe uma nova significação, um outro sentido, tendo em mente que as representações sociais elas mesmas não oferecem um conceito a priori, fazendo com que a enxerguemos como um processo. Cada vez mais na História tem se aberto espaço para discussões de fontes historiográficas além dos documentos escritos, mais defendidos pela escola metódica do século XIX, onde a oralidade e a imagem tem ganhado espaço, principalmente com o surgimento da História Nova, fazendo com que o cinema possa ser discutido como fonte para se entender melhor a mentalidade das sociedades, entramos cada vez mais na discussão levantada pela história total. Somente por volta dos ano sessenta e setenta do nosso século que o filme é visto como documento e como agente transformador da história. Jorge Nóvoa nos afirma que desde a formação da história com Heródoto nenhum documento se impôs tanto a ponto de ganhar uma formulação teórica, onde para os cientistas sociais esse passa a ser um modelador das mentalidades, sentimentos e emoções dos indivíduos.

Podemos concluir que o cinema possui papel importante na construção e disseminação de discursos dentro da sociedade. O foco desse artigo consiste em mostrar como algumas produções cinematográficas, narraram a tão conhecida Revolta politica em Princesa (PB). Buscaremos discutir as construções acerca dessa revolta, através do documentário “Princesa do Sertão”, produzido por Deraldo Goulart. Do filme “Parahyba Mulher Macho”, produzido em 1983, pela cineasta Tizuka Yamazaki. E por fim, propomos um dialogo com o trabalho da historiadora Serioja Rodrigues Cordeiro Mariano da UFPE, intitulado “Signos em confrontos: o arcaico e o moderno na Princesa (PB) dos anos vinte”.

Uma Princesa no Sertão: a história de uma cidade, seus conflitos, anseios e transformações.

A cidade de Princesa está localizada no sertão paraibano. Nos anos de 1930 situava-se entre os vales Piancó (Paraíba) e Pageú (Pernambuco). A situação geográfica de Princesa alijou-a, na prática, das redes rodoviárias federais e estaduais, ilhando-a em relação a capital paraibana e aproximando-a as cidades pernambucanas limítrofes, e através dessa, ao Recife[3].

Em plena década de vinte, Princesa esboçava um cenário promissor, a cidade segundo Mariano (1999, p. 03), “[...] prosperava com o boom algodoeiro e se destacava num momento em que o Estado da Paraíba era um dos maiores exportadores do produto no Brasil”. A historiografia oferece destaque a essa pequena cidade do sertão, pois foi palco de um notável conflito politico denominado de “Revolta de Princesa” em 1930. O conflito que parecia não ser tão relevante para o então governador do estado João Pessoa acabou tomando proporções exorbitantes, afetando a economia e o cenário politico de todo o estado paraibano.

A Princesa do Sertão como foi chamada por Deraldo Goulart, mostrava lisonjeiros traços de modernidade na década de vinte. Apesar das dificuldades de transporte, os símbolos modernos chegavam à pequena cidade e se instalavam no meio social. Já se encontrava renovações nos hábitos sociais, como as pessoas indo ao cinema, vestindo-se com trajes mais sofisticados (certamente imitando a elite das grandes cidades, a mais próxima e a qual mantinha fortes relações econômicas, Pernambuco).

A cidade vivia nos moldes da Primeira República (República Velha). Através de um acordo de mão dupla com o governo do estado, ficou acertado que os “coronéis” seriam a autoridade máxima no interior dos municípios. Em troca da não interferência do Estado na sua área de poder local, os coronéis apoiam com votos os candidatos escolhidos pelo governo. No que ficou conhecido como “politica dos governadores”.

Dentro de seu poderio, os coronéis constituíam uma figura de autoridade carrasca, dispunham de grande notoriedade entre a população das cidades do interior e muitos eram vinculados aos fomos cangaceiros. Quem ocupava esse posto ilustre em Princesa, era o coronel José Pereira de Lima. O coronel era deputado do Partido Republicano. Chegou a Princesa em 1905 quando seu pai Marcolino Pereira de Lima veio a falecer. José Pereira teve que abandonar os estudos em Recife e assumir o controle comercial e politico de Princesa aos 21 anos de idade.

O cenário político da Paraíba estava permeado por acordos entre as autoridades, e por hierarquias familiares. Entre os anos de 1924-28, a presidência da Paraíba esta sob a liderança de João Suassuna. Ao termino de seu mandato, convocou uma reunião para indicar o novo candidato a presidência paraibana. De inicio, foi indicado o chefe de policia Júlio Lira. Porém, o mentor da politica paraibana Epitácio Pessoa, discordou da

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