DIREITA E ESQUERDA NORBERTO BOBBIO
Por: SonSolimar • 23/1/2018 • 8.990 Palavras (36 Páginas) • 434 Visualizações
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Direita e esquerda não representam apenas ideologias, indicam programas contrapostos com relação a inúmeros problemas que a solução pertence a uma ação política, num contraste não apenas de ideias, mas sim de jogo de interesses a respeito da direção a ser seguida pela sociedade, e contrastes que existem e simplesmente não podem desaparecer. Pode-se naturalmente replicar que os contrastes existem, mas não são os do tempo em que nasceu a distinção, modificaram-se tanto que se tornaram inadequados.
Aponta ainda que o universo político tornou-se mais complexo, com grandes sociedades democráticas, assim seria inadequado a separação a muito nítida entre duas únicas partes contrapostas, ou seja, haveria uma insuficiência a visão dicotômica da política. As sociedades democráticas são sociedades que pressupõe a existência de diversos grupos de opinião e de interesse em concorrência entre si, e que em certos casos se integram para depois separarem, em outros se aproximam, e depois dão as costas, como se estivessem num universo de dança. Em um grande universo como os o das sociedades democráticas, nas quais as partes em jogo são muitas entre si, convergências e divergências que tornam possíveis as mais variadas combinações de umas com as outras, não se pode mais colocar problemas sob a forma de antítese, ou direita ou esquerda, quem não é de direita é de esquerda, ou vice-versa.
A distinção entre direita e esquerda não exclui de modo algum, a configuração de uma linha contínua sobre a qual entre a esquerda inicial e a direita final, ou, oque é o mesmo entre a direita inicial e a esquerda final, se colocam posições intermediarias que ocupam o espaço central entre os dois extremos, normalmente designado, e bastante conhecido, como o nome centro. Assim sendo o espaço político é concebido como dividido em duas únicas partes, uma das quais exclui a outra, e nada entres elas interpõe, pode ser denominado de terceiro excluído, a visão que entre direita e esquerda existe um espaço intermediário, que não é nem esquerda e nem direita, mas esta entre o meio das duas e pode ser chamado de terceiro incluído, assim como pode existir o cinza entre o branco e o preto, o crepúsculo entre anoite e o dia, mas o cinza não elimina a diferença entre o branco e o preto, e nem o crepúsculo elimina a diferença entre o dia e a noite.
O terceiro incluído, tido como o centro passa a ocupar a parte mais ampla do sistema político, relegando a direita e a esquerda às margens. Ao se definir nem como direita, nem como esquerda, o centro pressupõe uma antítese e extrai da existência dela a sua própria razão de existir. Desta forma torna-se possível uma compreensão mais articulada do sistema, já que permite distinguir um centro mais vizinho da esquerda ou centro-esquerda, e um centro mais vizinho da direita, ou centro-direita, e do mesmo modo uma esquerda mais moderada, e igualmente uma direita atraída ao centro, que dela se afasta a ponto de se contrapor em igual medida tanto ao centro, quanto a esquerda.
O terceiro incluído busca um espaço entre dois opostos, ele enfia-se entre um e outro e não os elimina, mas os distancia, impede que entre em choque, ou impede a alternativa seca entre um ou outro, assim coloca uma terceira solução. Ele vai além dos dois opostos, os cerca numa síntese superior, e os anula-os de modo que ao invés de duas totalidades que se excluem reciprocamente, faz deles parte de um todo, e convergentes para o centro. Neste caso como o autor afirma, a unidade dialética caracteriza-se por um resultado da síntese das duas partes opostas, das quais uma é a afirmação, ou tese e a outra é negação, ou antítese.
Uma política de terceira via é uma política de centro, que se apresenta como uma superação simultânea de direita e esquerda, numa aceitação e supressão deles, e não como na posição do terceiro incluído. Qualquer figura de terceiro sempre pressupõe as outras duas, mas o terceiro incluído descobre sua própria essência expelindo-as, ao passo que o terceiro inclusivo faz isso nutrindo-se delas. O terceiro incluído apresenta-se sobretudo como práxis sem doutrina, o terceiro inclusivo, sobretudo como doutrina em busca de uma conduta que no momento que é posta em atividade, se realiza como posição centrista.
A sociedade em contínua transformação e o surgimento de novos problemas políticos que requerem solução por meio dos instrumentos tradicionais da ação política que tem por finalidade a formação de decisões coletivas que, uma vez tomadas, passam a se vinculas toda a coletividade, fizeram nascer movimentos no esquema tradicional da contraposição entre direita e esquerda, como caso mais interessante o dos verdes. Os Verdes são conforme circunstancias de direita e esquerda, ou nem um nem outro. São definidos como um movimento transversal, pois atravessa o campo dos inimigos, mostram que existe um terceiro modo de por a crise a díades, mais do que estar no centro.
Os temas ecológicos se apoderam pouco a pouco dos partidos políticos, sem modificarem sua bagagem, pois quem hoje ousaria tomar posição contraria aos direitos da natureza. A difusão dos movimento dos Verdes esteja destinada não a tornar anacrônica a velha díades, mas a reafirmá-la no meio destes mesmos movimentos, já muito atormentados em seu interior não obstante sua formação recente, e nos quais o diverso modo de conceber a relação do homem com a natureza.
Hoje existe uma esquerda rigorosa e uma direita laxista e vice-versa. As duas porém, não se superpõem. Os dois termos de uma díade governam-se um ao outro, onde não há direita não há esquerda, e vice versa. Para tornar irrelevante a distinção, não é necessário demonstrar, a inoportunidade dela, a sua imperfeição, ou o seu anacronismo. Basta desautorizar um dos dois termos, não lhe reconhecendo mais nenhum direito à existência; se tudo é esquerda, não há mais direita, e reciprocamente, se tudo é direita, não há mais esquerda.
Segundo o autor, em uma situação deste gênero pode-se explicar que grupos ou movimentos minoritários, deveriam ser chamados de direita tenham começado a sustentar que a velha díades não teria mais razão de ser, e a luta política exigiria que fosse além da direita e da esquerda, como uma síntese dos dois opostos. Em um universo no qual as duas partes contrapostas são interdependentes, no sentido de que uma existe se também existe a outra, o único modo de desvalorizar o adversário é o de desvalorizar a si mesmo.
A ideia de que a velha díade deve ser posta em dúvida esta sendo sustentada predominantemente por grupos ou movimentos que se autoproclamaram de esquerda, ou assim foram considerados,
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