As Ciências e Tecnologias da Cognição
Por: Lidieisa • 5/5/2018 • 8.225 Palavras (33 Páginas) • 291 Visualizações
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Todas estas questões levam a uma alteração: durante milhares de anos os homens tiveram uma compreensão espontânea de si mesmos, sempre dependendo da cultura de sua época. Mas agora, esta visão popular do espírito pode entrar em contato com a ciência, e por conseguinte, ser transformada. Existem, é claro, aqueles que lamentam tais mudanças, como também são muitos os que as consideram positivas.
Um breve histórico
A ciência cognitiva possui muitas escolas de pensamento divergentes, cada qual com seus respectivos apologistas. Fazer justiça integral a todos eles significa, ao mesmo tempo ser injusto com eles. Ao invés disto, realizamos um levantamento amplo da ciência cognitiva, apontando as idéias principais desta área, na delimitação dos tópicos já citados.
Uma breve retrospectiva histórica torna-se importante, pois qualquer ciência que ignore seu passado arrisca-se a repetir os seus próprios erros, além de perder as perspectivas do seu desenvolvimento.
Certamente cada época da história da humanidade, através do cotidiano de suas práticas sociais e de sua linguagem, produz uma estrutura imaginária. A história demonstra claramente como a imaginação científica altera-se, por vezes radicalmente, de uma época para outra.
Talvez não tão evidente, mas também correto é o fato de que a história humana da natureza, segundo Varela (****,10), também corresponde a uma história das teorias do conhecimento do próprio homem. Para ele, seja através da física grega, do método socrático, dos ensaios de Montaigne e o início da ciência francesa, sempre houveram precursores daquilo a que hoje chamamos de ciências cognitivas. Também Gardner (1996) entende que o estudo da cognição permeia a história do homem, sendo que suas raízes remontam aos períodos clássicos.
Explica que a história da ciência cognitiva é relativamente curta, porque apenas nas últimas décadas ela tornou-se conhecida e institucionalizada.
O termo ciência cognitiva muitas vezes é ampliado, passando a incluir inúmeras formas de conhecimento, mas aqui será utilizado como sinônimo dos esforços para explicar o conhecimento humano. As ciências cognitivas dominantes abrangem várias disciplinas, entre elas a psicologia cognitiva, a inteligência artificial, grande parte da filosofia e da lingüística, além da neurociência e da antropologia.
Desde o seu surgimento oficial, as ciências cognitivas apresentam campos de ação dominantes, que são registrados por inúmeros autores, na tentativa de estabelecer o seu curso histórico e suas tendências atuais.
Fato existe, entretanto, de que hoje torna-se impossível separar ciências e tecnologias cognitivas da inteligência artificial. Seu histórico parece-nos importante para a compreensão do todo, e por questões epistemológicas optou-se por adotar um corte histórico “transversal” adotado por Varela (****), no sentido de compreender a sua organização, objetivando uma visão geral e atual das ciências cognitivas, e procurando mostrar que a corrente visão de que a abordagem computacional é a única maneira de se apreender os desafios cognitivos, torna-se perigosa pela sua rigidez e limites específicos. Na verdade, é um objetivo epistemológico de complexificar o pensar cognição, pois muito que precedeu a inteligência artificial pode ser conservado, com algumas transformações. Para tanto, pouca distinção far-se-á entre a ciência aplicada e a investigação fundamental.
Acreditamos que o exame do único aspecto tecnológico ou do único aspecto fundamental desta ciência não permite perceber a força do fenômeno e suas perspectivas de desenvolvimento. O fascínio das ciências cognitivas talvez deva-se ao fato de ter rompido as membranas entre as disciplinas, e de ter conjugado áreas tão distintas a princípio, em uma mesma busca.
Varela (****,21) apresenta um histórico das ciências cognitivas dividido em quatro etapas, ou campos de ação por ele definidos, e que aparecem quase sucessivamente durante as décadas de constituição das ciências cognitivas.
- Os primeiros anos: 1940-1956;
- Os símbolos: a hipótese cognitivista;
- A emergência: uma alternativa à manipulação dos símbolos;
- A enacção: uma alternativa à representação.
Ao efetuar esta divisão em quatro etapas, Varela justifica que a primeira e a segunda etapas já deixam entrever um paradigma bem definido, enquanto nas duas posteriores este paradigma permite entrever novas perspectivas.
Os primeiros anos
Os anos entre 1940 e 1956 compreendem, de acordo com Varela, o nascimento das ciências e tecnologias da cognição, pois neste período surgiram praticamente todos os temas discutidos atualmente, sendo uma época de intensas trocas entre cientistas de orientações bastante diversificadas. Segundo ele, este exercício pluridisciplinar ocorreu simultaneamente na Europa e nos Estados Unidos. Enquanto na Suíça Jean Piaget formulava o programa de pesquisas da epistemologia genética, Konrad Lorenz descrevia sua epistemologia evolutiva, e Warren Mc Culloch, nos Estados Unidos, começava a falar em epistemologia experimental. John Von Neumann, Norbert Wiener, Alan Turing e Warren Mc Culloch esforçavam-se para implantar a epistemologia nas ciências naturais, na região de Princeton e do MIT, onde Wiener cunhou o termo cibernética.
Também Gardner (1996) entende que a legitimidade das ciências cognitivas deva-se exatamente ao fato de praticamente todos os seus temas e características já estarem em evidência, muito antes de seu reconhecimento oficial. Conforme ele (1996,43), existe um consenso de que a ciência cognitiva foi reconhecida oficialmente em 1956, muito provavelmente em função do Simpósio sobre a Teoria da Informação, realizado no Massachusets Institute of Technology (MIT). Porém, já na década de 40, surge no meio científico a necessidade e o arroubo para uma investida científica em direção à mente humana. Além de diferentes fatores que se uniram no início do século para dar forma ao fundamento da ciência cognitiva, Gardner cita idéias, ou imputs fundamentais para a ciência cognitiva, que foram resgatadas até mesmo do início do século e de antes da Segunda Grande Guerra, e que foram fundamentais para a ciência da cognição. Na verdade, idéias e teorias que fundamentaram a pesquisa cognitiva, já tinham sido elaboradas antes da data consensual do surgimento da ciência cognitiva, e algumas antes mesmo da década
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