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Religião na perspectiva da psicanálise

Por:   •  1/11/2018  •  2.176 Palavras (9 Páginas)  •  286 Visualizações

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Ao expor nuances da vida pessoal de Freud e seu contexto histórico Kung realiza uma crítica em sua obra com base nas vivências do pai da Psicanálise, o que possa ter influenciado suas teorias, afinal o próprio Freud revela que seus estudos têm base nas análises de si mesmo. Então permite que outros o critiquem com bases fidedignas. Na perspectiva de Kung (2010, p. 13-17) o que o fundador da psicanálise não teve a oportunidade de ver em si mesmo foi algo que somente as décadas seguintes revelariam; aquelas afirmações de superação da espiritualidade ou religiosidade em prol das ciências naturais se cumpririam de forma incompleta e aquilo que ele estava vivendo estava completo de lacunas. Novas roupagens tornaram as religiões atrativas a novas gerações, muito do que a ciência prometeu não se cumpriu e outras descobertas inesperadas surgiram. No contexto do jovem Freud recém-formado em medicina se tornou improvável que sua forma de pensar não estivesse alinhada com o ateísmo crescente; suas frustrações com a ama católica, perseguições religiosas e imposições rituais da família judaica apenas impulsionaram as teorias de aversão a religião. Ele encontrou muita base real para isto, principalmente ao encontrar na libido seu santo graal.

Em 1905 Freud reuniu suas surpreendentes descobertas sobre a vida sexual humana em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que nas edições subsequentes foram sempre corrigidas e ampliadas. Para Freud esse é o livro mais importante, ao lado de A interpretação dos sonhos. Por fim, em 1916-17, ele pode escrever Conferências introdutórias sobre psicanálise, uma grande síntese, consistindo de três partes: lapsos, sonhos e teoria geral da neurose, que em 1933 foram completadas por Novas conferências introdutórias sobre psicanálise (KUNG, 2010, p. 28-29).

Ao cruzar suas descobertas sobre as pulsões sexuais; como as religiões controlavam seus adeptos neste quesito e ao visualizar as sociedades como um todo; influenciadas pelas doutrinas religiosas, isto contribuiu para uma lógica seletiva de que a religião era a protagonista pelas repressões. Quando Freud se ocupou de responder as questões; qual a origem da religião, e qual a essência dela, ele viu que há uma interrelação (KUNG, 2010, p.30). No desenvolvimento da teoria sobre o Complexo de Édipo desde a infância onde a criança de primeira infância quer a mãe ou o pai; Freud leva isto para as doutrinas religiosas em especial a judaica-cristã onde um “superpai” cumpre a função repressora, então nasce de demandas psicológicas primitivas a religião que desde sempre fez parte das relações humanas. Este “pai” que controla tudo e pune aqueles que não cumprem suas obrigações na sociedade assume papel importante; seja para o desenvolvimento das neuroses ou o simples controle social. Então a existência de Deus ganha uma única justificativa: o homem o criou para auxiliar suas próprias demandas psíquicas e assim se cria o Totem. Basicamente “uma explicação psicológica para religião” (KUNG, 2010, p.35).

- CRÍTICOS DE FREUD SOBRE SUA POSIÇÃO ACERCA DA RELIGIÃO

Enquanto seus estudos estavam sob análise da comunidade científica e a posição de aversão a religião ganhava adeptos, outros que realizavam estudos semelhantes se opuseram; foi o caso de Alfred Adler e Carl Jung (KUNG, 2010, p.49). Os estudos recentes da ciência das religiões, que envolve etnografia, filologia, pesquisa comparada de mitos, etc... reforçarão posteriormente a posição de rejeição ao surgimento das religiões por um exclusivo impulso vindo de demandas psicológicas. Segundo Viktor Frankl

O homem é dominado não só por um inconsciente instintivo (Freud) ou por um inconsciente psíquico (Jung), mas também por um inconsciente espiritual, ou por uma espiritualidade inconsciente. De acordo com Frankl, em sua prática diária o psicoterapeuta também sempre se confronta com questões ideológicas e espirituais, que como tais precisam ser absolutamente levadas a sério. Estas questões não devem de antemão ser desmascaradas como sublimação da libido (Freud), ou interpretadas como expressão pessoal de um inconsciente coletivo (Jung). Elas se concentram na questão, inteiramente negligenciada por Freud e psicologizada por Adler e Jung, do sentido da vida (KUNG, 2010, p.96).

Freud claramente rejeitou o cristianismo e expôs seu ateísmo em diversas declarações, mas as mais fortes vieram quando tratou do amor. A questão do amor vinculado exclusivamente a questões fisiológicas libidinais ou então que era irrealizável, exposto em seu Mal-estar na civilização confirmam isto. Contudo o extremo que a posse de Adolf Hitler na Alemanha causou, revelou uma outra faceta de Freud ao escrever uma carta aberta a Einstein conclamando a humanidade “ao amor sem objetivos sexuais: A psicanálise não precisa envergonhar-se por falar aqui de amor, pois a religião diz o mesmo: Ama teu próximo como a ti mesmo” (KUNG, 2010, p.99).

- CRÍTICAS E CONTRACRÍTICAS

Em se aprofundando nos pontos da teoria freudiana rechaçasse os extremos. Quando Freud fala que tudo está ligado a libido, principalmente ao associar as atividades infantis, nos sonhos ou que tudo que é esquecido é reprimido. Assim como “a transferência de teorias científicas, fisiológicas ou de mecânica cerebral para acontecimentos psíquicos” (KUNG, 2010, p. 85). Estas são questões complexas demais, que envolvem uma diversidade de fatores que ao atribuir ou fechar num único conceito, como uma ciência natural, se mostra falha na quantidade de exceções evidenciadas. Isto não quer dizer que não seja importante estudar uma sexualidade perturbada. Ela “é causa de muitas neuroses que apresentam também manifestações religiosas (por exemplo, escrupulosidade doentia, agressividade, piedade afetada e fanatismo)” (KUNG, 2010, p.86). Outra questão a ser debatida foi a supervalorização de Freud a experiência da primeira infância e os fatores ambientais, que novamente entra um dogmatismo sobre a qualidade das experiências da primeira infância no trato sexual em relação a vida adulta, cada qual devendo ser posto em seu lugar; isto novamente não quer dizer que o cuidado com a fase inicial da vida não tenha a devida importância no desenvolvimento do pensar, sentir e agir, assim como sua religiosidade (KUNG, 2010, p.86). As demais críticas que envolvem o tratamento psicanalítico como único solucionador de demandas psicológicas, assim como o próprio Complexo de Édipo como um mito a ser perseguido pelo psicanalista por memória seletiva ou induzida nos pacientes. Querer encaixar o paciente numa teoria por vezes causa mais dano que solução,

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