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OS RITOS DE PASSAGEM

Por:   •  13/2/2018  •  2.896 Palavras (12 Páginas)  •  400 Visualizações

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uma sequência de impulsos convergentes para um ponto final de repouso”.

E Aldo Natale conclui:

“…o mesmo – creio eu – se poderia afirmar do rito entendido como um fluir de movimento e repouso, uma realidade que decompõe o tempo e modula harmoniosamente os registros do nosso agir no mundo.”

Portanto, o rito, de acordo com seu sentido étimo, revela-se como o lugar da ordem social e cósmica, mediante o critério da classificação:

“…o rito coloca ordem, classifica, estabelece as prioridades, dá sentido ao que é importante e do que é secundário. O rito nos permite viver num mundo organizado e não-caótico, permite-nos sentir em casa, num mundo que, do contrário, apresentar-se-ia a nós como hostil, violento, impossível. Se é verdade que o cosmo tem a força de opor-se ao caos, isto se deve ao rito e à sua força organizadora”

Dito isto, podemos deduzir que a realidade do rito tem a força de nos retirar do campo do particular e privado e nos inserir na dinâmica da coletividade. O ser humano é por natureza um ser gregário. A coletividade é um traço antropológico essencial, pois é justamente do jogo intrincado de relações e interações que depende o desenvolvimento e amadurecimento de cada pessoa. Não nascemos para viver sozinhos e isolados, mas sim mergulhados no grande tecido social. É deste tecido que brota O conceito de homo socialis, no qual o ser humano é entendido como um ente sempre motivado, principalmente, pela necessidade de reconhecimento, de participação e de aprovação social nas atividades dos grupos sociais onde está inserido. A sociabilidade humana caracteriza-se por uma convivência do ser humano com seus semelhantes de maneira ordenada e harmônica. Este ordenamento e harmonia somente são possíveis mediante a existência de ritos e rituais. Só é possível falar de rito a partir da compreensão do ser humano vivendo em sociedade. O rito faz e perfaz a sociabilidade humana.

Em nosso dia a dia podemos encontrar uma série de palavras que de algum modo se relacionam com a palavra rito e dela se apresentam como sinônimos ou referências e são capazes de apontar âmbitos distintos: rito, ritual, cerimônia, ritualizar, ritualização, ritualismo, ritualidade…

a) a palavra rito faz referência a uma ação realizada em determinado tempo e espaço e que se difere das ações do comportamento do quotidiano;

b) a palavra ritual seria uma ideia mais generalizada ou até mesmo abstrata do rito enquanto sua especificação; desse modo um ritual se situa no campo da formalização e da categorização, enquanto que o rito se coloca no da concretização, realização e vivência de determinada religião ou cultura.

c) a palavra cerimônia é o elemento constitutivo de qualquer rito; na historia mais antiga não se conhecia cerimônia que não fosse religiosa.

d) ritualizar é o processo pelo qual se formam ou se criam ritos enquanto ações que com o tempo são ritualizadas; há situações e circunstâncias nas quais a pessoa é levada a ter um comportamento ritual e “ritualizar” o próprio agir tornando-o formal e repetitivo.

e) ritualismo é a entonação negativa do rito enquanto processo; comportamento estereotipado e esvaziado de conteúdo simbólico; comportamento padronizado, repetitivo e com caráter formal. Está no campo da neurose obsessiva – formas ritualizadas para combater ansiedade e angústia; há ritualismo também quando se vive uma vida monótona, apagada, feita de pequenas ações que se repetem na mesma hora, do mesmo jeito com a finalidade de se viver a desoneração e na desresponsabilização das próprias ações.

f) ritualização é um termo empregado, sobretudo pelos etólogos e que indica certos comportamentos dos animais e que acena para tudo o que no mundo animal ou numa cultura poderia ser considerado um ritual. Meyer Fortes dirá que é muito pequena a distância entre a proporção que diz: tudo é ritual e a realidade prática que afirma, nada é ritual.

Um segundo campo semântico onde encontramos a maior contribuição para a compreensão do rito é o da antropologia. Encontramos uma primeira linha de antropólogos que desenvolveram estudos sobre a realidade ritual a partir de trabalhos de campo em culturas específicas como, p. ex. , Émile Durkheim(1858 – 1917), Marcel Mauss (1872 – 1950), Mary Douglas(1921 – 2007), e outros. Mas, identificamos também a existência de um segundo filão que estudou a realidade ritual a partir dos diferentes Ritos de Passagem comuns a todas as sociedades; dentre estes, destacam-se Arnold Van Gennep(1873 – 1957), Victor Turner(1920 – 1983), Pierre Bourdieu(1930 – 2002) e outros. Neste amplo universo de contribuições delimitamos nossa pesquisa com Émile Durkheim que nos aponta o rito como elemento que pertence a esfera do sagrado; em Ritos de Passagem ficamos com a contribuição de Arnold Van Gennep e suas três fases do ritual(separação – margem – agregação) e Victor Turner com a liminaridade dos ritos (preliminares – liminares – pós-liminares).

Émile Durkheim (1858-1917), em sua obra Les Formes élementaires de la vie religieuse (As formas elementares da vida religiosa) faz um estudo apurado dos elementos essenciais do rito no campo da religião; a partir do exame bem documentado da religião totêmica nas sociedades fundadas por clãs(aborígenes da Austrália e algumas sociedades indianas da América do Norte) postula princípios gerais que segundo ele são elementos que dão estrutura à todas as religiões, mesmo as mais complexas. Para Durkheim, todas as expressões religiosas, sejam elas crenças ou magias não devem ser interpretadas como superstições ou fantasias, mas sim como portadoras de uma base sociológica. “Os ritos mais bárbaros ou mais bizarros e os mitos mais estranhos traduzem alguma necessidade humana, algum aspecto da vida, individual ou social” .

Uma das grandes contribuições da sociologia de Durkheim está na interpretação do fenômeno religioso como realidade ambígua: sagrado e profano. “As coisas sagradas são aquelas que as proibições protegem e isolam; as coisas profanas são aquelas a que as proibições se aplicam e devem permanecer distantes das primeiras” . Ao analisar o puro e o impuro, conclui que não se trata de dois gêneros separados, mas sim de uma variação de um mesmo gênero com possibilidade de transmutação: o puro pode tornar-se impuro e vice-versa; não pode existir profano sem sagrado e nem sagrado sem profano, onde nesta oposição de classes um precisa do outro. Tudo isto somente é capaz de ganhar expressividade mediante a existência de um rito.

Mas,

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