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Morte - Os Ritos Fúnebres

Por:   •  3/3/2018  •  3.785 Palavras (16 Páginas)  •  331 Visualizações

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especialmente a oposição central vivo/mortos, instituinte da condição de existência da pessoa.

Em algumas culturas não ocidentais a morte determina umprocesso de “desconcepção” da pessoa pelo grupo social, quando o nome do morto é apagado, em um processo de personalização, conforme diz Strathern, em suas palavras:

Do ponto de vista dos trobriandeses e de outras sociedades no Massim, isto

representa uma curiosa inversão na conceituação de pessoa. Lá, a pessoa é

definida através de suas relações sociais ao longo da vida (...). Com a morte,

elas não são destruídas. Quando a vida cessa – quando a pessoa não é mais

ativa em suas relações com os outros –, os que se relacionaram com o

falecido devem alterar seu vínculo. Sem que isto seja realizado, o morto

continua a influenciar os vivos. (Strathern, 1992, p. 64).

O não cumprimento das prescrições de cada cultura pode ocasionar situações desejadas e prejudiciais ao equilíbrio do grupo, como, por exemplo, a possibilidade de a alma permanecer em errância sobre a Terra, não conseguindo se direcionar ao mundo dos mortos, o que pode acarretar para os vivos.

A produção antropológica sobre o tema indica que a morte não é um acontecimentomas um processo.

Baseado na ótica da morte como processo, seus rituais se assemelham a todos os outros referentes a períodos críticos da vida, como nascimento, puberdade social, casamento, entre outros. A pessoa é um passageiro que atravessa um percurso, no qual se apresentam desafios a serem por ela enfrentados para que consiga atingir o estágio seguinte,

A sociedade elabora respostas cerimoniais e rituais, com o objetivo de auxiliar a transposição dessas crises, nomeadascomo ritos de passagem, que seguem um padrão: um rito de separação é seguido por um de transição e concluído por um rito de incorporação. Os temas da separação, transição e incorporação marcam cada ciclo cerimonial de vida, com diferente ênfase em cada etapa, de acordo com o grupo ecom o evento.

Assim, ritos de separação são preeminentes da morte, os de transição caracterizam a gravidez, a iniciação e a morte e os de incorporação são de especial relevância no casamento. O movimento é gradual nos ritos de passagem, de uma a outra posição.

A transição se refere ao período de nojo, quando os enlutados são segregados dos vivos física e socialmente, eles são afastados do morto, de seus amigos e vizinhos.A suspensão da vida cotidiana é prescrita pelo tempo de luto, e suas atividades são objeto de tabu.O retorno aos padrões de normalidade ocorre com a fase de incorporação, quando as obrigações rituais foram cumpridas e os parentes do morto podem compartilhar uma refeição com a comunidade.A vida cotidiana então é retomada.

A morte ocorre com a cessação da respiração, o que se dá apenas uma vez, socialmente, a pessoa morre muitas vezes ao passar por um processo de transição de uma condição social para outra.

O ritual de morte oferece uma pausa, um tempo de acomodação em face de umamudança dramática, tanto para a sociedade quanto para o indivíduo. A morte física não é necessariamente um evento capaz de convencer o grupo da morte de uma pessoa.Imagens do falecido e suas conexões com a sociedade podem ser tão intensas a ponto de não se esvanecerem logo.Elas ainda persistem por um período de tempo.

O conhecimento e a tomada de consciência, no cotidiano, ocorrem lentamente e a etapa intermediária, na qual se desenrolam as cerimônias relativas à morte, proporciona uma oportunidade de reajuste social, os rituais mortuários promovem a solidariedade em do grupo.

A participação de todos os integrantes do grupo,sejam quais forem sua diferenças sociais é obrigatória e indispensável.

Os rituais de passagem são cruciais para a revitalização do grupo ou da cultura. Eles demarcam o ciclo, as etapas da vida, e muitos ritos funerários indicam a ideia de que a sequência de atividades humanas se completou. Neste sentido, a sociedade toma conhecimento do término das relações sociais. As práticas e seus significados variam extensamente, em contextos e diferentes culturas.O ritual é acompanhado pela expressão de emoções: os sentimentos tidos como convenientes ou aqueles não adequados ao conjunto de normas e regras sociais de cada comunidade.

A morte é um tema a ser estudado como fato social total. Tristeza, dor e perda consistem em experiência usualmente associadas à morte.

Os estudos socioantropológicos indicam a existência de três explicações para o sentido dos funerais: dar sentido ao corpo do morto, interceder pelo destino da alma e reintegrar os enlutados na vida social. As práticas e atitudes funerárias indicam que a morte e o sofrimento constituem partes essenciais e substantivas da vida e da natureza.

A MORTE E O MORTO NA SOCIEDADE OCIDENTAL MODERNA

No Ocidente, vem sendo atribuída ao processo de secularização a responsabilidade sobre as mudanças e transformações nos cuidados dos moribundos, dos mortos, e na configuração dos rituais fúnebres. Isto decorre da crescente separação e fragmentação das esferas da vida social, além da preeminência e centralidade dos saberes científicose biomédicos.

A principal referência, no que concerne à investigação sistemática dos rituais em torno da morte no Ocidente, é o historiador francês Philippe Ariès ( 1981; 2003), por sua extensa pesquisa sobre as atitudes ante o processo de morrer e da morte, originada na constatação de mudanças no tempo das cerimônias fúnebres e nas atitudes presentes.

A exemplo, a morte na Idade Média, era ritualizada, comunitária e enfrentada com dignidade e resignação, denominada morte domada.

A segunda denominação de morte: morte de si,vem marcada pelo reconhecimento da finitude da própria existência, Nesse período foram lançadas as bases do que viria a ser a civilização moderna: o sentimento mais pessoal e mais interiorizado da morte, da própria morte, traduzindo o apego às coisas da vida. As origens do individualismo estariam aí situadas, quando os homens passam a conviver com o pensamento na morte.

A partir do século XIX e até o século XX, a morte do outro se torna dramática e insuportável. Inicia-se um processo de afastamento social da morte.

Na segunda metade do século XX surgem novas

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