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A Validade permanente da Teologia da Reforma

Por:   •  24/12/2018  •  2.304 Palavras (10 Páginas)  •  392 Visualizações

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Ao insistir na correlação entre Palavra e Espírito, os reformadores principais também se distanciavam dos espiritualistas, que colocavam sua própria experiência religiosa pessoal acima da revelação de Deus objetivamente dada.

Na perspectiva da Reforma, então, a igreja de Jesus Cristo é aquela comunhão de santos e congregação dos fiéis que ouviram a Palavra de Deus nas Escrituras Sagradas e que, com o serviço obediente a seu Senhor, prestam testemunho dessa Palavra ao mundo. Devemos lembrar-nos de que a igreja não começou com a Reforma. Os reformadores pretendiam voltar à concepção neotestamentária de igreja, expurgar e purificar a igreja de seus dias segundo a norma das Escrituras Sagradas.

Culto e Espiritualidade

Ao longo da história da igreja, tem havido intensa correlação entre o desenvolvimento da doutrina cristã e a prática do culto cristão. A Reforma lembra-nos que não só o culto tem efeito moldador sobre a teologia, mas, também a renovação teológica pode levar a uma revisão litúrgica.

Com parte de seu protesto contra o domínio clerical da igreja, os reformadores visavam a uma participação total no culto. Sua reintrodução da língua do povo era em si mesma revolucionária, pois exigia que o culto divino fosse oferecido ao Deus Todo-Poderoso na língua usada por negociantes, no mercado, e por maridos e esposas, na privacidade de seus quartos. A intenção dos reformadores não era tanto secularizar o culto, quanto santificar a vida comum.

Os reformadores reduziram os sacramentos medievais de sete para dois. Eles voltaram para a prática do batismo da igreja primitiva, como um rito de iniciação de adultos significando uma participação comprometida na vida, na morte e na ressurreição de Jesus Cristo. Admitindo a validade tanto do batismo infantil quanto daquele do crente, afirma-se que “o batismo mediante profissão de fé pessoal é o padrão mais claramente comprovado nos documentos do Novo Testamento”.

Para muitas igrejas que são mutuamente capazes de reconhecer suas diversas práticas de batismo, a participação total na Eucaristia só pode ser desejada como um alvo ainda não atingido. Não é fácil evitar esse sério problema ecumênico, nem é possível ignorar as cicatrizes que permanecem das controvérsias do século XVl sobre o significado de hoc est corpus meum. No Iluminismo, Voltaire ridicularizou muito os cristãos, porque aquela ceia que deveria simbolizar sua unidade e amor uns pelos outros tornara a causa de disputas reciprocamente destrutivas. Os católicos diziam que comiam Deus, e não o pão; os luteranos afirmavam que comiam o pão, e não Deus; enquanto os calvinistas declaravam que comiam o pão e Deus!

De acordo com os debates da Reforma sobre a ceia do Senhor, em primeiro lugar, podemos aprender que precisamos recuperar uma teologia da presença. Lutero estava certo ao insistir na presença real, mesmo sendo imprópria sua linguagem sobre a mastigação do corpo de Cristo. A ceia do Senhor não é “meramente” um símbolo. A bem da verdade, é um símbolo, mas é um símbolo que transmite aquilo que significa. Ao receber a Eucaristia, nós “espiritualmente recebemos e somos alimentados com o Cristo crucificado e todos os benefícios de sua morte: estando o corpo e o sangue de Cristo presentes para a fé dos cristãos, não de forma corporal ou carnal, mas espiritual”.

Em segundo lugar, precisamos voltar à prática da comunhão mais frequente. Se a ceia do Senhor nos é dada como “alimento e sustento diários para revigorar-nos e fortificar-nos” (Lutero), se ela “sustenta e aumenta a fé” (Zuínglio), se é um “banquete espiritual” (Calvino) e a “boda na qual Jesus Cristo está presente com sua graça, Espírito e promessa” (Menno), então negligenciar seu compartilhar frequente no contexto do culto é rejeitar o sinal externo da graça de Deus, para nosso empobrecimento espiritual.

Em terceiro lugar, precisamos restabelecer o equilíbrio entre Palavra e sacramento no culto cristão. Os reformadores não inventaram o sermão, mas elevaram a pregação a um papel central no culto divino. A leitura solene e bem articulada das Escrituras Sagradas também recebeu uma posição proeminente. Ao mesmo tempo, eles acreditavam que a Palavra de Deus ouvida na Bíblia deveria ser acompanhada pelas correspondentes “palavras visíveis” de Deus nos sacramentos. Isso foi expresso sucintamente na Confissão de Ausburgo (1530): “Onde o evangelho é pregado em sua pureza e os sacramentos sagrados, ministrados de acordo com a palavra divina, aí está a igreja verdadeira”.

Ética e Escatologia

A fé reformada preocupava-se com o todo da vida, não simplesmente com o âmbito religioso ou espiritual. Isso era verdade porque o Deus soberano da Reforma estava interessado no ser humano inteiro, corpo, alma, mente, instintos, relações pessoais e adesões políticas. Retomando as quatro personagens que estudamos, podemos resumir suas principais contribuições à ética sob o aspecto de três temas que se sobrepõem.

Em primeiro lugar, há a noção luterana da fé ativa no amor. Ao insistir com tanta firmeza na justificação somente pela fé, Lutero foi capaz de libertar a ética do opressivo sistema de justiça pelas obras, no qual estivera emaranhada na teologia católica medieval. O amor de um indivíduo pelo próximo envolvia inevitavelmente uma manipulação odiosa e egoísta do outro, visando à recompensa pessoal, à própria salvação. A doutrina de Lutero solapou esse sistema e libertou o pecador justificado (ou santo) para amar o próximo desinteressadamente e sem reservas, pelo bem do próximo. A fé verdadeira, Lutero sustentava, não estava adormecida, mas viva e ativa no amor.

Quando passamos de Lutero para a tradição reformada, conforme representada por Zuínglio e Calvino, encontramos preocupações éticas expressas no que pode ser chamado de a santidade do secular. O termo latino saeculum significa apenas o mundo, o mundo que, apesar de sua condição decaída, ainda assim é, como Calvino o chamou, “o teatro da glória de Deus”. Observamos como, para Zuínglio, essa ênfase significava uma restruturação da vida política, social e econômica, de acordo com as normas do evangelho. O conceito reformado da santidade do secular exerceu uma influência importante no desenvolvimento da ética social cristã a partir da Reforma. John Wesley mostrou-se herdeiro dessa tradição, quando exclamou: “O mundo é minha paróquia”. Walter Rauschenbusch articulou essa questão em seu entusiasmo pelo “evangelho social”, que não significava outro evangelho separado do evangelho

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