A TEOLOGIA DO EVANGELHO DE JOÃO SOBRE A PESSOA E OBRA DE CRISTO
Por: Kleber.Oliveira • 6/4/2018 • 1.604 Palavras (7 Páginas) • 487 Visualizações
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Ainda sob a perspectiva desse dualismo vertical, João mostra o conflito entre Luz e Trevas e ainda entre a Carne e o Espírito. Ele apresenta Jesus como a luz que resplandece nas trevas (1.5; 8.12; 9.5; 11.9; 12.35,46). Os homens amaram mais as trevas do que a luz (3.19,20), mas o que recebem a luz tornam se filhos da luz (3.19,20; 12.36). Ele mostra ainda que a carne pertence ao reino inferior e é a expressão sinônima de humanidade caída que por si mesma não pode herdar a vida eterna (1.13; 3.6,12; 6.63).
- QUEM É JESUS
A apresentação de João sobre quem é Jesus baseia-se no cerne de tudo o que distintivo nesse evangelho. Não é apenas uma questão de títulos endereçados a Jesus que não são encontrados nos sinóticos (como “Cordeiro de Deus”, “Palavra”, “Eu sou”). Em vez disso, fundamental a tudo o mais que se diz dele, Jesus é peculiarmente o Filho de Deus, ou simplesmente o Filho.
Embora “Filho de Deus” possa servir de sinônimo grosseiro para “Messias”, ele é enriquecido pela maneira única na qual Jesus, como o Filho de Deus, relaciona-se com seu Pai. Ele está funcionalmente subordinado ao Pai e faz somente aquilo que o Pai lhe incumbe de dizer ou fazer, e faz tudo o que o Pai faz, pois o Pai lhe mostra tudo o que faz.
Embora “Filho de Deus” pudesse ser usado de maneiras diversas no mundo antigo, essa ênfase distintiva em João lança seu brilho sobre vários outros títulos cristológicos. “Messias” é um título que é tão poderosamente restringido pela relação entre o Pai e o Filho,que se torna não apenas uma categoria profética ligada à linhagem de Davi e à expectativa dos profetas, mas também um título que exprime a obra profundamente reveladora do servo prometido de Deus.
Similarmente, embora o “Filho do Homem” possa acomodar as nuanças que recebe nos sinóticos, onde suas características se encaixam em uma das três categorias (o Filho do homem ministrando na terra, sofrendo humilhação e morte, bem como vindo em glória apocalíptica para inaugurar o Reino consumado), em João, a configuração de pronunciamentos é bastante independente. Tipicamente, o Filho do homem é ‘elevado’ na morte, glorificado por intermédio da morte, de forma que aqueles que acreditam nele terão vida eterna. Mas esse título, também, tem implicações de revelação: só o Filho do homem esteve no paraíso e, portanto, pode falar o que nenhum outro homem conhece. Só ele é a ligação entre o céu e a terra (1.51;3.11-13).
Portanto, é maravilhoso que o título condensador dado a Jesus por João seja “Palavra”. Trata-se de uma escolha brilhante. “No princípio era aquele que é a palavra”, ou seja, no início Deus expressou a si mesmo, por assim dizer. E aquela expressão de si mesmo, a própria Palavra de Deus, identificada com Deus e distinguível dele mesmo, agora se tornou carne. Eis a culminação da esperança profética.
- A OBRA DE JESUS
O fato de que Jesus não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo (3.17; 12.47), pede uma reflexão acerca da natureza da salvação que ele realizou. A salvação, ele insiste, vem dos judeus (4.22): o cenário da compreensão da missão de Jesus é moldado pelas escrituras e medido pelos judeus, e não por distintivos samaritanos, menos ainda pelo guinosticismo.
Se Jesus é o Cordeiro de Deus, isso significa que ele pode tirar os pecados do mundo (1.29, 36). A escravidão da qual ele liberta homens e mulheres é a escravidão do pecado (8.34).
Apesar da grande ênfase em Jesus como aquele que revela seu Pai, a salvação não vem (como no gnosticismo) pela mera revelação. Todo o enredo do evangelho de João é desenvolvido em torno da Cruz, Ressurreição e salvação. Isso não implica simplesmente em um momento revelatório, mas na morte do pastor por suas ovelhas, o sacrifício de um homem por sua nação, a vida que é dada para o mundo, a vitória do cordeiro de Deus, o triunfo do filho obediente que, em consequência de sua obediência, transmite sua vida, sua paz, sua alegria e seu Espírito.
Indo mais além, o conceito da revelação joanina carrega um forte elemento soteriológico. A revelação não é somente um pré-requisito da salvação, o que pode aparecer mais facilmente na leitura dos sinóticos, pois confronta o indivíduo com Deus em Cristo. Ela produz um efeito transformador, purificador por meio da própria ação inerente (8.32; 15.3). a forma pessoalmente concentrada, na qual os atributos e potências divinas são representados e encarnados em Jesus, encaixa-se com essa linha de pensamento. Ele é “a vida”, “a luz” e “a verdade”, em pessoa.
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que o evangelho de João não difere dos sinódicos no sentido de contradizê-los, mas de completá-los, pois aborda a pessoa e obra de Jesus sob outra perspectiva. A declaração que o evangelista faz sobre a pessoa de Cristo (20.30,31) deixa claro o propósito para o qual o livro foi escrito: “...fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais... Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida
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