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A História Social das Religiões

Por:   •  13/8/2018  •  1.838 Palavras (8 Páginas)  •  307 Visualizações

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Mesmo os sacrifícios cruentos que se observa tanto no pastoreio como entre os agricultores guardam semelhança com a atividade de “abater a presa” própria dos caçadores.

“Vários milênios depois do triunfo da economia agrícola, a Weltanschauung do caçador primitivo se fará de novo sentir na história. Com efeito, as invasões e as conquistas dos indo-europeus e dos turco-mongóis serão empreendidas pela égide do caçador por excelência, o animal carnívoro. Os membros das confrarias militares (Männerbünde) indo-europeias e os cavaleiros nômades da Ásia central comportavam-se em relação às populações sedentárias que eles atacavam como carnívoros que caçam, estrangulam devoram os herbívoros da estepe ou o gado dos criadores. Numerosas tribos indo-europeias e turco-mongóis tinham epônimos de animais de rapina (em primeiro lugar o lobo) e se consideravam descendentes de um ancestral mítico teriomorfo. As iniciações militares dos indo-europeus comportavam uma transformação ritual em lobo: o guerreiro exemplar assumia o comportamento de um carnívoro.” (ELIADE, 2010, p. 47).

As consequências do sedentarismo.

A sociedade do mesolítico se apresenta como a primeira onde a atividade social se dá sob o aspecto do sedentarismo. (cultura natufiana, em referência a WadyenNatuf, na Palestina, onde essa população foi identificada pela primeira vez). Isso levou a um significativo crescimento populacional e pelo desenvolvimento do comércio.

Ao invés da habitação em cavernas, característica do paleolítico, o homem natufiano tinha sua habitação em choupanas e alimentação baseada em cereais silvestres. Utilizavam na atividade do trabalho foices de pedra e pilões para a preparação dos grãos. Inventaram o arco, as cordas, redes, anzóis e embarcações para viagens longas e, sobretudo, a cerâmica. Todas essas novas tecnologias “suscitaram mitologias, fabulações e comportamentos rituais.” (ELIADE, 2010, p. 45).

A domesticação de animais, que se generaliza no neolítico, teve seu início no mesolítico: ~8.000: o carneiro de ZawiChemi-Shanidar, ~7.000: o bode em Jericó, na Jordânia e em ~6.500: o porco, ~7.500: o cão em Stan Carr, na Inglaterra.

Essa cultura sedentária, baseada na agricultura e comércio, tem como representação simbólica de sua lógica uma arte eminentemente naturalista: escultura de animais, estatuetas humanas em postura erótica. “O simbolismo sexual dos pilões esculpidos em forma de falo é tão ‘evidente’ que não se pode duvidar de seu significado mágico-religioso”. (ELIADE, 2010, p. 44). Outra característica herdada do paleolítico é a inumação dos corpos em posição curvada, além do sepultamento dos crânios.

A revolução neolítica.

A chamada Revolução Neolítica se deu gradativamente entre ~9.000 e ~7.000. A ordem cronológica dessa revolução se deu na forma: aldeias – cultura de gramíneas/domesticação de animais – cerâmica –cerealicultura –vegetocultura. A tecnologia da agricultura foi observada na Ásia sul-ocidental e na América Central, nas planícies úmidas.

O desenvolvimento das técnicas na produção de alimentos teve importância justamente pelo fato de ser uma produção, isto é, o homem torna-se o produtor de seu próprio alimento, isso levou, antes de tudo, a um desenvolvimento das técnicas de calcular o tempo. “Já não lhe bastava assegurar a exatidão de certas datas futuras como o auxílio de um calendário lunar rudimentar.” (ELIADE, 2010, p. 48).

Por outro lado a divisão do trabalho passa a ser orientada por nova estrutura – “a responsabilidade em assegurar os meios de subsistência passava a caber às mulheres.” (ELIADE, 2010, p. 48).

Do ponto de vista da história das crenças religiosas o neolítico é a fonte inicial dos ‘mitos de origem’ – os tubérculos e vegetais, segundo a crença, teriam nascido de uma divindade imolada. “Nutrindo-se das plantas provindas do seu próprio corpo, os homens alimentam-se na realidade, da própria substância da divindade.” (ELIADE, 2010, p. 49). Esse assassínio primordial justifica a representação simbólica dos sacrifícios humanos e canibalismos.

Outro ponto importante a salientar é a relação hierogamica entre uma divindade celeste ou da atmosfera com a deusa terra-mãe que possibilita a dádiva, ou presente dos deuses que se revela na ceralicultura.

O espaço da mulher e a vegetação.

Como vimos anteriormente, no paleolítico havia uma solidariedade mística entre o homem e o animal caçado, agora, no neolítico há a solidariedade mística entre o homem e a vegetação. Anteriormente, o sangue o osso representavam sacralidade, agora o sangue e o esperma. Isso explica os monumentos itifálicos.

“Além disso, a mulher e a sacralidade feminina são promovidas ao primeiro plano. Como as mulheres desempenharam um papel decisivo na domesticação das plantas, elas se tornam as proprietárias dos campos cultivados, o que lhes realça a posição social e cria instituições características, como, por exemplo, a matrilocação, em que o marido está obrigado a habitar a casa da esposa.” (ELIADE, 2010, p. 50).

A figura da mulher e sua fecundidade são associadas à fertilidade da terra. Nesse sentido a sexualidade da mulher está ligada ao fenômeno religioso. A cultura do neolítico compreende e elabora uma religião ligada a renovação periódica da natureza, uma religião cósmica, ligada, portanto, aos ciclos naturais que regem a atividade daquela sociedade – a agricultura.

Os ritos neolíticos, desse modo, estão ligados às figuras da vida vegetal, o sagrado se relaciona, normalmente, com uma árvore ou frutos. Assim como a natureza se renova, a prática rito-cultual se baseia em renovação da vida, a encenação do ano-novo, os ciclos das estações etc.

A organização da vida, a casa, a aldeia, os campos cultiváveis se identificavam com os aspectos sagrados. As cosmogonias eram relacionadas com a disposição do espaço físico. As casas em construções circulares se alinhavam em torno de uma cavidade central que servia de lareira onde, no telhado, havia uma abertura para a saída da fumaça – a porta ou janela do céu. (ELIADE, 2010). É interessante notar que as casas do neolítico possuíam uma divisão de habitação entre os dois sexos o que representa uma dicotomia ritual: Céu e Terra, masculino e feminino.

Nas encenações de ano-novo e sazonais se repete um embate mítico representativo desses dois polos: inverno/verão, noite/dia, vida/morte. Esse

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