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ABORDAGENS GRAMATICAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Por:   •  25/11/2017  •  2.164 Palavras (9 Páginas)  •  978 Visualizações

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A segunda abordagem liga-se à gramática descritiva, que de acordo com Teixeira (2011, p.165) representa “[...] uma metalinguagem própria, compondo um conhecimento teórico sobre a língua”. Por fim, a terceira abordagem de ensino configura um meio mais eficiente de se trabalhar a língua, uma vez que não desconsidera o saber linguístico pré-existente dos alunos, rotulando-os de certo ou errado. Ao contrário, nessa abordagem, as habilidades linguísticas do aluno, tanto escrita quanto oral, são privilegiadas por atividades que visam desenvolver e fortalecer a competência comunicativa/discursiva do educando.

O professor tem a possiblidade de fazer uso dessas três modalidades de se trabalhar com a gramática, embora enfatizemos que a terceira concepção ainda apareça mais eficaz no trabalho com os alunos.

- A SINTAXE NO LIVRO DIDÁTICO: CONCEPÇÕES E ABORDAGENS

Como mencionado anteriormente, tomaremos, em análise, duas atividades relativas ao capítulo de sintaxe do livro que selecionamos para a escrita deste trabalho. Dessa maneira, o que nossas análises permitirão compreender são os modos pelos quais os autores do livro didático abordam e colocam em funcionamento a língua(gem) cujos modos de textualização são agenciados por determinadas noções de língua e de gramática. Assim, partimos do pressuposto de que concepções de língua e de gramática não se diferem de maneira estanque, tampouco se excluem, mas se complementam.

A primeira atividade analisada é constituída por quatro questões referentes a uma tira, localizada na página 199. Vemos, nesta atividade, que a função do aluno é a de ler a tira e a de identificar alguns aspectos relacionados às palavras que a compõem. Segue, abaixo, a tira sobre a qual são elaboradas as questões:

[pic 3]

A primeira questão pede que o aluno responda: “o que a personagem principal esperava encontrar dentro da garrafa? Justifique”. Nesta atividade, o aluno é remetido ao nível do sentido, portanto, no âmbito da semântica do texto. Isto implica em considerar a interpretação do aluno-leitor, uma vez que este deve ser capaz de inferir o sentido, apontando uma resposta “correta” para a pergunta. Assim, ao considerar a crise da água, se espera que o aluno possa induzir que a resposta correta seja qualquer outro líquido.

A segunda questão coloca que: “No terceiro quadrinho, a personagem feminina usa a palavra torneiral, que não está dicionarizada na língua portuguesa. Morfologicamente, o que possibilitou sua criação?” Como vemos, a questão aborda um aspecto morfológico e não propriamente sintático, haja vista que trata de um neologismo – a palavra torneiral. Entretanto, vemos, pela atividade, que se trata de uma questão que se refere ao dicionário e, portanto, de um instrumento linguístico que normatiza e caracteriza os vocábulos da língua. Trata-se, então, de uma atividade que se inscreve na concepção gramatical normativa ou tradicional, cujo imaginário de língua prega as regras e utilizações tidas como corretas. A esse respeito, Travaglia (1995, p. 30) afirma que

[...] estuda apenas os fatos da língua padrão, da norma culta de uma língua padrão, da norma de uma língua, norma essa que se tornou oficial. Baseia-se, em geral, mais nos fatos da língua escrita e dá pouca importância à variedade oral da norma culta, que é vista, conscientemente ou não, como idêntica à escrita.

Vejamos, pois, que as perguntas referentes às questões (c) e (d) jogam com aspectos gramaticais, pois elas pedem que os alunos referenciem e identifiquem características gramaticais com relação ao neologismo torneiral. Esta fato implica na consideração de que esta atividade é inscrita na primeira concepção de língua e de gramática – como expressão do pensamento e na gramática tradicional.

A segunda atividade analisada é constituída por três questões referentes a um fragmento retirado de uma publicação do jornal “Folha de São Paulo”, localizada na página 199. Observamos, nesta atividade, que o papel do aluno é ler o excerto e responder o que se pede. Segue, abaixo, o fragmento sobre a qual são elaboradas as questões:[pic 4]

Na primeira questão, encontramos a seguinte questão: “Quais são as interpretações possíveis para ‘Radares que salvam vidas em implantação’?”, sendo assim, nota-se o funcionamento da terceira concepção de linguagem, isto é, a linguagem como forma ou processo de interação, visto que, para Travaglia (1995) a linguagem é pois um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre locutores, em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico. A proposta feita ao aluno, possibilita-o a várias interpretações, desse modo, permitindo-o a criar efeitos de sentido acerca do enunciado. Nessa perspectiva, há também a presença da gramática reflexiva. De acordo com Teixeira (2011), trata-se de atividades que privilegiam os efeitos de sentido dos elementos, fatos linguístico, levando o aluno a entender e explicar as escolhas do falante, produtor do texto. Não se enfatiza a metalinguagem, mas esta pode ser utilizada.

Por outro lado, na segunda questão, temos: “Qual dessas interpretações seria a correta na situação descrita no artigo?” (Grifos nossos). Nessa perspectiva, entende-se que há apenas uma interpretação correta, ou seja, esse tipo de questionamento limita o aluno a ter apenas uma interpretação, sendo todas as outras produzidas no enunciado I, ditas como erradas, ao invés de oportunizar a reflexão das possíveis interpretações, assim como na primeira questão. Há um deslocamento da terceira concepção para a primeira concepção, que toma a linguagem como expressão do pensamento. Segundo Travaglia (1995), essa concepção prevê que há regras a serem seguidas para a organização lógica do pensamento, e consequentemente da linguagem, e são essas regras que se constituem na forma culta da língua, tanto do falar, quanto do escrever corretamente. Esse princípio está dentro dos estudos linguísticos tradicionais, que se transformam na chamada gramática normativa ou tradicional, em que dita a forma padrão da língua como a única a ser seguida.

Na terceira e última questão deparamo-nos com a seguinte instrução: “Reescreva a frase, mudando a ordem das palavras, para garantir a interpretação certa” (Grifos nossos). As duas últimas questões são bastante similares quando abordam as palavras correta e certa, de modo a desprender do enunciado a imposição de uma interpretação única e mais uma vez encontramos

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